A Sabedoria e a Fé
Quando a situação é delicada, a opção é óbvia: recorro ao retiro espiritual. Não tem nada que saber: ligo o PC (o computador, não o careca) e atiro-me, noite adentro, ao Championship Manager, versão 3.0, de 1999. São muitas as glórias que reúno, muitas as belas memórias que colecciono aos comandos de equipas várias, mas isso não vem agora ao caso - se bem que nunca é demais sublinhar aquela esmagadora aventura, na AS Roma, com 21 ligas italianas ganhas consecutivamente, 5 ligas dos campeões, 17 taças de Itália e mais 14 supertaças do país da pizza e do Del Piero, do Pasolini e da Sofia Loren, do Totti e da nossa Illari Blasi. "Nossa", salvo seja... Nossa Senhora!...
Voltando ao vicioso mundo do CM, dizia eu que, uma vez mais, realizei o necessário retiro. E, desta vez, não fui de modas: para grandes males, grandes experiências científicas. Peguei no Benfica da época 1998/99 - para quem não se recorda, aqui vai uma amostra de alguns dos nomes mais sonantes do plantel: Dean Saunders, Mark Pembridge, Michael Thomas, Nandinho, Luís Carlos, Hugo Porfírio, Marco Freitas, Tahar El Khalej, Veríssimo, Jamir, José Soares, Jorge Cadete, Paulo Madeira, Ronaldo, Sousa, Andrade... elucidados? - e fiz-me à estrada. Resultado: em duas épocas, dois campeonatos e uma final da Champions League, à qual cheguei logo na primeira época (perdida para o super Real Madrid por vergonhosos 3 a 0...), depois de eliminar quem? Ora, nem mais: o poderoso Barça - que, na altura, tinha uma pequena constelação, com Figo, Rivaldo, Sony Anderson e afins a pisar a erva sagrada da velha Luz (que saudades...). Tudo bem, pronto, eu confesso: fui buscar o Sulaimani, o Mokouko, o Chadwick, o Luque e o Dorsin. Os miúdos mudaram tudo, como é óbvio. Mas, caramba, não deixa de ser um feito digno de nota.
Não quero com isto estar a pressionar o doutor Koeman relativamente ao lugar de treinador principal do Glorioso clube. Pretendo apenas demonstrar-lhe, de uma vez por todas e caso ainda subsistissem dúvidas, que as suas visitas frequentes ao Dianabol têm razão de existir e que a sabedoria táctica acrescentada que leva daqui, dia após dia, semana após semana, é recompensa mais que suficiente para justificar sete e oito cliques diários nesse seu primeiro item dos favoritos. Vá lá, seis, no mínimo.
Exposto o assunto, vamos agora ao que interessa: a táctica para amanhã. Ora, segundo os dados que recolhi durante aquela arrepiante experiência à frente dos troncos, no já mencionado CM, e embora a minha teoria contrarie a vocação natural da equipa (e não estou a falar de "ser eliminado pelo Barcelona"...), a conclusão a que cheguei não só é surpreendente como, para não variar, é brilhante: o Benfica deve atacar o Barça. Sem medo.
Vejamos: os catalães (e o Record, já agora) esperam um Benfica temente aos senhores da Cidade Condal, rezando, ajoelhado, para que o adversário não marque. Acontece, doutor Koeman, que de milagres já nós tivemos a nossa dose esta época, quer-me parecer. Só bolas no poste nos últimos dois jogos da Champions conto eu quatro, assim sem fazer grande esforço mental. Quer dizer pouco, eu sei - há muitos anos que as balizas têm estas medidas; mas não deixam de ter sido preciosos os centímetros a menos com que foram concebidas. Para além da expectativa de Rijkaard e pupilos relativamente ao Poderoso SLB, existe ainda a questão dos pontos fracos. A conta não é difícil de fazer: o ponto forte do Barcelona é o ataque; o fraco (ou o "menos forte") é claramente a defesa - que dá espaços e é facilmente apanhada em contra-pé, devido ao pendor ofensivo da formação. O que é nós preferimos: arriscar o ataque, sabendo que podemos sofrer um golo - eu sei... - mas tendo igualmente a noção de que, uma vez tendo nós obtido um tento, o adversário se desorienta e entra em pânico (quiçá colapso)?; ou aguentar até mais não poder, fechados lá atrás, encostados à linha de área, à espera que o destino tome o seu rumo inevitável e o Barcelona faça, mais cedo ou mais tarde, aquilo que apenas 6 milhões de pessoas não desejam? A resposta é fácil, senhor doutor Koeman. É por estas e por outras - saber dar as respostas fáceis, entenda-se - que o Mourinho chegou onde chegou. Para quê complicar quando o futebol é um desporto simples? É esta, provavelmente, a diferença entre um Henry e um Nuno Gomes: o que para um é óbvio (bola + baliza ali à frente = pontapé para golo) para outro é uma complexa equação (hum... bola?! + duas pernas + ui, um defesa - tempo perdido + merda do cabelo = 0 ou 1, em dias especiais).
Tenha coragem, doutor Koeman. Faça-se um homem. Essa face rosadinha e esse ar de Winnie the Poo escondem um verdadeiro animal papa-títulos, tenho a certeza. Revele-se. Deite cá para fora a garra, a coragem, a ousadia que guarda há anos. Lembra-se daqueles livres que chutava directamente, a uns 35 metros da baliza? Lembra-se que os guarda-redes tinham medo dessas bolas? Porquê, diga-me lá. Porque sabiam que elas levavam a energia contida durante tanto tempo, toda junta, ali, num só pontapé. Porque eram chutos de convicção, de crença, de vida ou morte, de tudo ou nada. E, claro, de sabedoria - a convicção não faz milagres sem sabedoria, sem domínio da técnica. Mas técnica não lhe falta na matéria-prima que dirige, meu caro. Por isso, doutor Koeman, faça como lhe digo: acredite, arrisque um pouco, encoraje esses rapazes - estes jogos são especiais, são únicos... trocava toda a minha longa e bem sucedida carreira musical por dez minutos de Digníssima no corpo em pleno Camp Nou, nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Estes jogos são a razão pela qual uma criança sonha ser jogador da bola e diz que é do Benfica. São jogos de sonho.
Doutor Koeman, vá por mim: não defenda em demasia. Jogue abrindo a equipa do meio-campo para a frente. Não defenda à queima, os jogadores que se contenham. Jogue em 4-3-3. Meta o Léo, o Anderson, o Luisão e o Rocha - cuidado que o Ronaldinho deve jogar ao meio, desta vez, escaldado que está do 33 encarnado. Meta o Petit, o Manuel Fernandes e o Karagounis - os dois primeiros recuperam o investimento e o terceiro faz a gestão do património. Deixe o Beto no banco, pode fazer falta se as coisas nos estiverem a correr bem aos 80 minutos. O Simão que vá para a esquerda, que é onde ele rende. O Miccoli que seja vagabundo lá no ataque e troque as voltas aos centrais culés. E o Geovani que estique a ponta direita, flectindo para o meio sempre que possa. Não cometa o erro de jogar com o Robert de início, que isso é gente alérgica ao trabalho e amanhã precisamos de homens com a manga arregaçada. Não invente cá Marcéis nem coisas do género. Seja simples, seja prático, vá directo ao assunto. E não se esqueça que, se tudo estiver a falhar, há uma arma letal que caiu numa piscina de água benta em pequenino: meta o Mantorras. Vá lá, não tema nada, eu estou consigo, eu acredito em si e acredito neles e na minha força psicológica, na minha imensa e inesgotável fé benfiquista para que, juntos, lá na Catalunha ou cá, em Alfama, à frente de um plasma e rodeado de imperiais, sejamos capazes de vencer merecendo a vitória. Acima de tudo, seja benfiquista: ganhe o jogo.
6 Comments:
Parabéns pelo post, realmente nem pareces benfiquista - essa veia, bom, resta-me desejar boa sorte (não que desta vez eu tencione torcer pelo benfica, apesar de com este post, tu bem mereces).
o chadwick... aiii... grande jogador. Tenho pena que tenha desaparecido de circulacao desde esse mitico CM. E sim, eu também treinei essa mitica equipa do Glorioso e consegui ganhar a liga dos campeoes. Bastou nao estar lá o treinador poeta para os jogadores se transformarem.
P.S- admito que nessa versao do CM treinei o sporting para os ver a ser campeoe - tive pena deles. O pior é que só o consegui fazendo batota. Foi mais fácil ganhar o campeonato com o Beira-Mar do que com o sporting dessa altura.
:-) Ena, ainda és vivo?
O que eu quero é que o Benfica ganhe e o resto são cantigas.
Enguiça, enguiça, maria chouriça.
Sim pelo post merecias a vit..., o empate com golos.
Assim o que te aconselho é que passes a jogar o Campionship Manager com a equipa de 61 e 62, eu sei é a preto e branco, mas ganhas.
Alive and Kicking in the UK :-)
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