Os malefícios do futebol
Começo com um lugar-comum absolutamente inédito: o futebol faz mal à saúde. E nem digo isto por ser daqueles mariquinhas conservadores-século-vint'e-um, que lutam contra o tabaco, as drogas, a escravatura e a utilização de peles de marta para me fazerem casacos. Nem sei de que Marta estão a falar. O futebol faz mal à saúde porque todos os anos mata pessoas, seja na bancada, seja em frente ao televisor, seja no próprio relvado. Mas isso ainda é o menos, porque, sinceramente, a saúde dos outros não me diz respeito. Agora, eu costumo ser uma pessoa sã. No corpo e na mente. Mais ou menos... Mas não costumo ter ideias irreais. Pelo menos, antes de determinados rituais com substâncias mais ou menos dopantes, mais ou menos legais, mais ou menos baratas e mais ou menos fáceis de adquirir ali na Picheleira. Acontece que, com isto do chamado "fenómeno do futebol", uma pessoa dá por si a ter coisas esquisitas como "aquela fezada, pá!" - entre os amigos -, "uma réstia de esperança" - para os comentadores de futebol - ou até "uma ideia muito triste" - se se tiver prometido trepar, todo nu, a águia do Estádio da Luz, caso o Benfica seja campeão.
A verdade é esta: o futebol tira-me do sério. Eu, lá por alturas de Dezembro, disse para comigo "Guitas, tu põe os olhos é no futsal e na Vanessa Fernandes, meu tonhó". E concordei logo ali que, sim-senhoras, a partir daquele momento nada mais me prenderia a atenção do que o aparelho dentário ou o boné ao contrário (que rima sublime...) da Gloriosa rapariga. E, acreditem, a vida corria-me bem! E gritei, em pleno Pavilhão Atlântico, vibrando com a vitória da Vanessa como vibraria com a Victoria Beck... vitória do Benfas na final da Champions. Juro! As coisas eram descontraídas, a sério. No trabalho ou no café, ignorava, sobranceiro, as conversas dos outros "ah, atão e o nosso sportém? bem, aquele Veloso..." e eu a pensar para comigo "pfff... ignorantes... só sabem falar de bola...". Ou, no trabalho, "fónix, aquele departamento médico... jesus..." e eu "bah... isto é gentinha que só lê o Record...". A minha vida era um mar de cultura, sossego e tranquilidade. Sinceramente, cada vez mais eu me sentia superior a todos vós, leitores desocupados deste blogue que, seguramente, fecham esta janela e vão abrir o site d'A Bola ou coisa parecida - como diria Sócrates "escrever é permitir que as bestas nos chafurdem nas ideias"... não foi ele que escreveu isso... mas foi ele quem ditou. Adiante, chega de Filosofia Antiga. Ora, isto era tudo muito bonito. Primavera e tal... até domingo passado. Tudo corria bem até que um determinado italiano, contrariando toda a lógica de um desafio de solteiros - casados, resolveu pegar na bola e fazer algo que vai completamente contra a filosofia de jogo de qualquer Fernando Santos que tenha uma Matrafona na frente de ataque: meteu golo (atento, o engenheiro tratou de substituí-lo de imediato). Poderia ter sido um mal menor. Mas, a algumas centenas de quilómetros de distância do Bonfim, tortuoso como nenhum outro, Jesualdo Ferreira decidiu fazer aquilo que melhor sabe: não foi campeão. Pior: num momento alto dos seus já habituais ataques de sadismo contra benfiquistas, Jesualdo deixou que o Benfica tivesse possibilidades matemáticas de, na última jornada da Liga BWin, se sagrar campeão nacional.
Se, domingo à noite, virem nas televisões uma pessoa extremamente bonita, com um corpo esbelto e desnudado, a trepar a águia... não significa necessariamente que seja eu. Nem sei por que razão mencionei o assunto...
16 Comments:
Bom post, afinal ainda aí andas.
Pura retórica... :D
Eu sou do Aves desde pequenino!
Deve ter sido coincidência só agora ter-te voltado o pio... Em boa hora porque o post está muito bom.
Já prometi, em caso de vitória no campeonato, tatuar uma pequena imagem do Professor Neca numa das nalgas.
:)
Eu, por acaso, prometi lamber-lhe a careca. Não sei o que custa mais...
Lamber carecas é para maricas, ó ferénc. Tatuar bustos de homens nas nalgas é que é d'homem!
Pois, caro sir, para a tattoo penso que deve bastar pintares um bigodinho no meio, ahahah.
Tiveste pida, sim senhor.
*piada, queria dizer...
._.
Depende da careca, ó sir. Se for a do Prof. Neca como é o caso, é visto um acto religioso ao nível de uma peregrinação de joelhos a Fátima sem passar pela recta de Pegões ou pelo Pinhal de Coina.
Pá, qual é a piada de ir a Fátima sem passar por aí? Nenhuma! É cada uma...
Pelo que tenho lido por todo o lado e, sobretudo, pelo entusiasmo demonstrado nesta caixa de comentários, atrevo-me a dizer que será uma verdadeira surpresa se o folcuporto for campeão este ano. :) Me likes.
Prognósticos só depois do jogo :D
Por enquanto está aberta a época da promessa, mezinha, vudu e ....
Oh, Helena, Helena, Helena... tsk tsk... mas qual vudu, mezinha, promessa?... Isso é para os tonhós da capital. No clube do Papa, os santos estão todos organizados e, felizmente, costumam ser bem mandados... Se as fitas já estão feitas desde Dezembro, não é agora que alguém as dezfas, fazendo a desfeita... ;) Vocês é que a sabem toda.
Não creio que Lisboa estivesse pronta para uma escalada dessas. Yaaargh!
Estou a visualizar a coisa – a escalada, caraças, a escalada! – e já me chegou o pequeno-almoço à boca.
Do mal, o menos: quando o FCP ganha, os gajos fazem a festa lá para cima, esmurram-se entre eles e não tenho de os ouvir. Podia ser pior... Estou a visualizar o Vieira em cueca azul-marinho e aos pinotes, ao som dos UHF, e essa coisa – o Vieira, caraças, o Vieira – assusta-me mais!
(bom texto).
Post a Comment
<< Home