Vivó Euro!
Como o tempo passa… Ainda há umas horas estavam os helicópteros das 3 estações nacionais num corrupio a filmar a saída do avião da selecção nacional para a Suiça e agora já todas as equipas presentes na final do campeonato da Europa já se estrearam. A umas correu melhor que a outras, ainda que a ‘procissão esteja no antro’. Mas também é verdade que, mesmo correndo o risco de deduções precoces, há já alguns bitaites a mandar:
O candidato. De todos os jogos que vi houve uma equipa que verdadeiramente me impressionou: A Alemanha. Pela amostra, ou muito me engano ou aquela máquina que ajudou a definir o conceito de futebol no final do século passado (‘são onze contra onze e no final ganha a Alemanha’) voltou. Goste-se ou não, é impossível ficar indiferente a um modelo de consistência e eficácia, idêntico àquele que há 15-20 anos, punha em sentido todo o Mundo do futebol: Antes havia Brehme, hoje há Lahm. Onde estava Littbarski, está agora Frings. Para o lugar de Moeller, há Ballack. Em vez de Klinsmann, há Podolski. E no banco está agora um treinador que apesar de não ter sido dos mais mediáticos naquele tempo, era um competente elemento dessa geração e que, pelos vistos, aproveitou para tirar bons apontamentos no caderninho. Claro que o futebol da Alemanha não é excitante como o da Holanda, nem tecnicamente dotado como o Português, mas mesmo contra um adversário medíocre como a Polónia, que apenas obtém elogios da boca do senhor Scolari, a Alemanha impressiona pela competência e pela sobriedade.
Os outros. Por falar em candidatos, não é por ter sido despachada pela Holanda com aquela ligeireza que deixo de ter a Itália no meu top de preferidos. Abanou um bocadinho, é verdade, mas não caiu. A Holanda, por outro lado, se já a tinha em boa conta, agora ainda estou mais convencido. Sabendo que um dos finalistas vem dos grupos 1 ou 2 e o outro do grupo 3 ou do 4, num exercício zandínico de futurologia, vejo uma Alemanha-Holanda a repetir a final de 88, ou um Alemanha-Itália a repetir a final do costume.
O outsider. ‘Então e Portugal?’ Perguntam, indignados, todos aqueles que me lêem lá da Suiça e do Luxemburgo. Pois é… À falta de outras razões para controlar a euforia sobre uma eventual chegada à final por parte da selecção portuguesa, aqui vai uma razão de peso: Possivelmente teríamos que enfrentar os alemães antes de lá chegar. Da mesma maneira que não podemos considerar os espanhóis candidatos apenas por terem espetado 4 nuns surpreendentemente vulgares russos, também não é a Turquia que valida Portugal como candidato ao que quer que seja. Nem uma hipotética e esperada vitória daqui a nada contra uns checos em curva tão descendente que até já aderiram ao catenaccio. Temos qualidade, mas também temos defeitos que seguramente outras selecções serão capazes de revelar. A histeria em redor da selecção continua a ser absolutamente acéfala e desmedida, apenas justificada por um processo de catarse que pouco tem a ver com o fenómeno futebolístico porque, futebolisticamente, não há assim tantas razões para o clima de euforia à volta da selecção e de todos os prognósticos excessivos. E não pode ser um Cristiano Ronaldo que joga numa posição diferente da que joga em Manchester e sem Rooney nem Tevez ao lado, que legitima toda esta insanidade colectiva. Portugal é um outsider na luta pelo título. Com mais possibilidades que a maioria, é certo; E muito mais possibilidades do que tinha a Grécia em 2004, ninguém duvida, mas ainda assim um outsider.
Gin tónico. Falando em Ronaldo: há uns anos, bastou-me ter encharcado uma vez de tal maneira em gin tónico que até de escrever estas 2 palavras ainda hoje fico com tremuras. O Ronaldo está a começar a fazer-me o mesmo efeito. Á conta de até me cair dentro do prato da sopa, corro o risco sério de criar uma aversão hepática ao rapaz e a tudo o que tem a ver com ele. Até ás mamocas da Nereida, vejam lá …
RCP. Contribuindo para este enfarte, o Rádio Clube Português, tem todos os dias uma emissão de algumas 4 horas a começar ao final da tarde sobre o Euro e, em particular, sobre a selecção. Durante esse período, os jornalistas e enviados-especiais fazem directos de pastelarias de emigrantes, conversam com presidentes de ranchos folclóricos de emigrantes, entrevistam treinadores de clubes de emigrantes da IV divisão Suiça e convidam fadistas emigrantes para tocar no programa. Para além de passarem toda a conferência de imprensa de Portugal e analisarem jogos e resultados até á exaustão. Em dia de treino aberto ao público, o RCP transmite-os em directo e fazem vox-pop com os emigrantes. Entre peças e directos, concedem também espaço à interactividade, deixando pertinentes perguntas de cultura geral no ar para responderem após o compromisso publicitário, num jogo perverso com a curiosidade do ouvinte: ‘Qual o único país dos 16 representados no Euro que não acaba na letra ‘A’? Voltamos já a seguir’. Em 104.3.
Emigrantes. Já que falamos neles, nestes últimos dias não me tem saído da cabeça a letra da canção ‘Emigrante’, de Manuel João Vieira:
‘Emigrante, emigrante
Por onde é que tu andaste?
Emigrante, emigrante
Porque é que tu voltaste?’
Para a próxima, apoio o Azerbeijão à organização do Euro.
8 Comments:
Cuidado. Os mais de 70 anos que levo em cima do pêlo ensinaram-me uma coisa: portugueses e cogumelos: haja água e sombra, por pouca que seja, que eles dão-se em qualquer lado - até no Alentejo.
Sim, mas não dizem 'vacances'...
Deixa lá, pá, também não dizem "ya, man, tásse bem, tázaver"... Eu, hein...
Desde já os meus parabéns pelo blog.
Sou leitora assídua e hoje pela primeira vez apetece-me comentar...
Isto para defender um pouco os emigrantes. Apesar de compreender e partilhar da mesma opinião que a vossa, vou falar por experiência própria.
Passei só um ano fora do país, e fazia quilómetros até um bar, em que eu sabia que se encontravam vários portugueses. Ás vezes só para ouvir falar portugues.
Por isso apesar de ser uma euforia descomedida é, em alguns casos, desculpável...
Aqui fica a minha humilde opinião, continuem que tem aqui uma leitora atenta.
Tenho a ideia que os emigrantes (atenção que há bastantes diferenças entre emigrantes e deslocados) até gostam que a gente se meta com eles. Se não fosse assim, como se justificam aqueles chalets dos alpes plantados na praia da Folgosa?
Vá aparecendo, Dé.
Ora aqui está uma brilhante análise destruida por uma estranha realidade. Então a Holanda à final não chega impedida pela medíocre Rússia, a costumeira Itália eliminada pela não convincente Espanha - ok, foi nos penaltis mas jogaram melhor. Para Zandinga não estás mal Meszaros :D
O 'O' candidato ainda dura, pelo menos até logo á tarde, porque Alá é tão grande que nunca mais acaba...
Volte mas é lá a escrever uns posts, D. Helena...
E 'o' candidato foi à vida na final :)
Assim como assim, foi a previsão mais duradoira...
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