O pobre José António Lima
Há pessoas a quem não basta ser imbecil - têm que ter tempo de antena e mostrar ao mundo o quão fundo conseguem bater (e escavar?). José António Lima é uma dessas pessoas. Já o imagino, na cavaqueira com amigos em jantaradas de malta que gosta de bola "ó Zé António, pá, tu esta semana excedeste-te, homem!". "eh-eh, obrigado, eu esforço-me", responde Zé António, ao que o primeiro replica, complementando o raciocínio "tu és seguramente o mais imbecil dos comentadores desportivos! Tu és grande! Tu és maior que um Pôncio Monteiro! Ignóbil como tu só se houver estrangeiro, na China ou assim, porque cá em Portugal não conheço ninguém". E o Zé António, entre o exultante e o embaraçado, encolhe os ombros e dá mais um gole no seu Bailey's com duas pedras de gelo. Normalmente, engasga-se em seguida. Alguém que lhe açoite as costas, por favor! Não me deixem morrer esta personagem!
Depois da crónica de hoje no jornal A Bola, consigo antecipar que o Natal de Zé António será um fartote de elogios e palmadas nas costas (tanto das bajulatórias como das salvadoras, portanto) - "és o meu totó preferido, Zé António", dir-lhe-á a esposa, antes de lhe passar o guardanapo pelas barbas cheias de baba, resultado do sorriso de pateta embevecido e descuidado que se lhe abre no rosto. Até a sogra há-de de dedicar-lhe palavras de incentivo "ó José, tu aqueces-me o coração! Nunca sei se hei-de rir-me de ti, se hei-de sentir compaixão". Isto porque a época é natalícia. Na verdade, o que pensa a sogra de Zé António é "porquê a minha filha? Porquê? Foda-se lá ao destino e ao mau gosto desta bimba que eu tive o azar de parir!"
O que mais aprecio no Zé António é a sua capacidade de permanecer risível e inofensivo apesar de todo o esforço que faz por tentar ser - nem que seja um bocadinho assim - venenoso. É um assombro! Uma crónica do Zé António é garante de uma boa gargalhada - sempre naquele limite, quase à beirinha de nos deixar indignados. Mas nunca deixa. Deixa-nos bem-dispostos. Aliás, é por isso que lhe dedico um texto.
O Zé António é rapazinho para escrever coisas verdadeiramente enternecedoras. Vejam esta, por exemplo: "(...) a sua (de Luisão) propensão para disputar lances de forma irregular, com os braços e os cotovelos, a displicência com que não evita, antes procura, o contacto e a carga sobre os guarda-redes na zona interdita da pequena área" é uma coisa que, segundo o Zé António, faz com que o central se arrisque a que "um destes dias, acabe a complacência e comece a ver cartões amarelos por esse tipo de lances". Ou isso a o árbitro pega-lhe por uma orelha!, acrescento eu. Repararam na tentativa de envenenar contra Luisão? Naquele esforço infrutífero para parecer mauzinho? Não é adorável? Eu acho. Especialmente a parte do "ai ai, se ele continua assim... um dia vem deus e castiga. Ele porta-se muito mal". Vamos lá ver se o Pai Natal não se "esquece" de deixar prenda no sapatinho de Luisão...
O Zé António tem ainda o condão de se tornar patético. Julgando-se da escola de um Miguel Sousa Tavares ou de uma Leonor Pinhão, cai na tentação de tentar ser deliberadamente irritante, escrevendo como quem assume, de peito aberto, que é faccioso, clubista - doente pelo seu clube! -, não vendo as coisas com clareza e justiça, mas de propósito. Só que o Zé António não é da mesma laia que aqueles dois senhores que mencionei. O Zé António é um fraco. Porque, de cada vez que tenta executar este tipo de números, descai-se sempre um pouco, deixando revelar a sua indignação inata de sujeito anti-benfiquista. É então que se lhe tolda o pensamento e aquilo que pretendia escrever como sátira mordaz, torna-se numa pequena choraminguice ligeiramente ressabiada, indecisa entre a raiva da inglória e a auto-comiseração por ter nascido, porventura, sportinguista. Leia-se esta passagem notável: "Já aqui (n'A Bloa) escrevi que não devem ser os árbitros mas sim os jogadores a ocuparem o espaço das análises e o centro dos debates. Ainda que o mais fácil, o mais primário e o mais cómodo seja descarregar nas arbitragens a frustração das derrotas ou a desilusão dos títulos não conquistados". Meus amigos, isto roça a auto-mutilação. Suponhamos que o Zé António havia escrito esta frase na mesma crónica (a de hoje) que se intitula "O «off shore» da Luz", uma tremeliquenta incursão pelos devaneios fantasmagóricos do mundo dos lunáticos do "Benfica ao colo". Se suposermos, suporemos bem. Porque é a realidade e aconteceu hoje. Porquê? Porque o Zé António teve medo de meter os pés pelas mãos, de dar o dito pelo não dito e de cair no erro que tanto critica. No entanto, o efeito foi pior ainda pois não se coibiu de ser primário uma única vez que fosse. E sem conseguir ter graça. Sublinho, porém e uma vez mais, o sentimento de piedade que é capaz de despertar em mim.
Obrigado por existires, Zé António. O mundo da crónica futebolística sem ti seria menos medíocre mas muito mais entediante. Quase me fazes sentir humano.
6 Comments:
Ex.m.º Senhor Guitarrista, lavro daqui o meu protesto no que concerne à teoria do 'Benfica ao colo' e à críticas que tece a esta propositura. É que não é uma teoria, é uma prática.
De V. Ex.ª, etc..
Não sei o que significa "propositura". Mas o teu protesto fica lavrado, sendo assim. Não quero que ninguém se chateie... De prática percebes tu, isso é seguro.
Acto ou efeito de propôr. Está proposta esta prática, da qual eu percebo muito. Tá dito, tá dito.
De prática, like "practice". Capisce? Ok, foi rebuscado...
Rebuscado e que exige ainda algum esforço, segundo ouvi ontem...
Feliz Natal, mene.
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