Asneira - versão (muito) incompleta
Encantam-me os profissionais da Comunicação Social. Há-os para todos os gostos, evidentemente, de todas as cores e de várias competências, de acordo com a especificidade do seu trabalho, da educação que tiveram e, em última análise, dependendo da boa-vontade com que a criação os pôs no mundo: se com talento e engenho ou, por outro lado menos feliz, com mediocridade despudorada.
Como dos fracos não reza a história, e porque o tema nada subliminar deste magnífico texto é mesmo a asneira qualificada, atiremo-nos aos que não deixam créditos por mãos, bocas e, em certos casos, avaliando pela escrita, pés alheios, tudo fazendo para destruir a cela do anonimato - já para não falar na penúria do desemprego - a que haviam sido condenados no dia em que, porventura, preencheram os formulários de candidatura ao ensino superior, optando, por ordem de preferência, por: 1) Direito; 2) Veterinária; 3) Engenharia Agrónoma; 4) Design de Interiores; 5) Filosofia, Variante de História das Ideias; e 6) Jornalismo/Comunicação Social. Houvesse espaço para sete opções e eu ainda acrescentava aqui Ciências Musicais. O que é certo é que isto é gente que anima emissões televisivas e radiofónicas, para além das coloridas páginas dos jornais desportivos. Ora, já se sabe, entretenimento gera audiências. Logo, se és um bom entertainer, junta-te à SportTV, ao Record, etc., por aí fora. O raciocínio é fácil. Os exemplos são muitos.
Ontem, durante a transmissão do Arsenal - Villarreal, quis o destino, ou a direcção de programas da SportTV, não sei bem, que o telespectador fosse presenteado com dois geradores de asneiras que são seguramente graduados nesta ciência. Verdadeiros académicos, sim senhor.
Comecemos - para que se mantenha a sintonia com a temática do post - pelo fim da partida. O Arsenal ganha um a zero e diz, um pouco a medo, um dos comentadores "eu julgo que talvez este resultado abra melhores perspectivas ao Arsenal". Como? Nah, que loucura. Isso é um profundo disparate. Nesse momento, tive pena de não ter conseguido parar de rir tão alto, porque fiquei com a sensação que o outro comentador lhe respondeu qualquer coisa, não só completando como ainda aprofundando o raciocínio. Infelizmente, não ouvi. Mas podemos sempre especular. Imaginemos, então: "err... sim, talvez a vantagem seja, neste momento, dos londrinos". Mas isto, enfatizando o "talvez", sugerindo dúvida, uma certa incerteza, hesitação, insegurança na conclusão.
Ao longo dos 90 minutos - que pena não haver prolongamento... - foram mais que muitos os exemplos sinceros e esforçados de obras de arte deste mesmo calibre, coisas de rara beleza. "O telespectador - carregar em "telespectador" para acentuar o tom de "você, que é leigo" por oposição a "mim, que sei o que é o futebol" de quem é comentador - tende a pensar que, em casos como os de Henry, Ronaldinho ou Deco - esta nota tuga typical fica sempre bem... - os defesas lhes dão tempo e espaço para que eles joguem". Sim, confesso, é um pensamento que me assalta com frequência. E faz todo o sentido. Vou mais longe: acho até que os defesas se desviam da bola, abrem alas, abrem pernas, fazem o que estiver ao seu alcance para facilitar a vida a estes jogadores. É então que o comentador concretiza o seu raciocínio "mas a verdade é bem diferente. Este são jogadores com uma grande capacidade técnica e uma rapidez de execução notável". A-ha. Eis a explicação. E nisto, meus amigos, nisto eu nunca tinha pensado.
Deixemos o jogo de ontem, que estou a citar de memória. Também ontem, mas no jornal O Jogo - apesar de tudo, o melhorzinho dos 3 folhetins desportivos -, alguém escrevia sobre um jovem jogador do Benfica B que tem sido chamado à formação principal (João Coimbra, julgo eu) que "contra o Boavista foi convocado, ficou no banco e chegou mesmo a fazer exercícios de aquecimento". Aaaahhhhhh... (expressão de espanto.) Temos craque, está visto. Se o rapaz até já aqueceu...
Hoje, no Record, publicação pródiga na bela arte da Asneira, com especialização em Da Grossa, escreve outro senhor, a propósito do destrato a Quim no Benfica, que "não foi criado e alimentado no clube (Benfica) como Moreira, nem Luís Filipe Vieira o foi buscar a Braga no Alfa Pendular, ao contrário do que foi fazer ao Brasil por Moretto". Mais uma vez, existe um explicação implícita: por isso é que a viagem de Vieira ao Brasil demorou mais um bocadinho. Que falta nos faz o TGV, pá...
7 Comments:
Também que queres pá? A asneira não paga imposto e ainda dá ordenados! Belo post.
De uma forma perversa, acaba por pagar imposto. Pois se dá direito a ordenado, há-de haver contribuição para a fazenda pública. Seja através de retenção na fonte, seja no acerto pelo IRS.
Obrigado.
Eu acho que o que paga o ordenado é cumprir horários, a asneira arranja o lugar e ainda deve lucrar prémios de produtividade (esses sim sujeitos ao IRS) ;-)
Por exemplo, a moderadora do debate prós e contras, na RTP, apresenta o trabalho (justifica o salário) e ainda o abrilhanta com pérolas como o "trespasse" dos jogadores, a "Comissão do Mercado de Valores Imobiliários" ou os clubes não têm nada porque está tudo hipotecado - como se os bancos emprestassem ficando com cromos como garantia da dívida - claro que não se chegou a perceber se o passivo dos clubes era bom ou mau, porque a senhora tem algo contra garantias reais além de achar que as acções das SADs são imóveis (talvez agarradas às balizas). Vês, o trabalho apresentado é uma coisa, as pérolas são o bónus praticamente free of charges.
Vamos lá ver, que isto assim é jogo desleal. A Fátima Campos Ferreira estudou anos a fio, doutorou-se, catedratizou-se e jubilou-se em asnice profunda e disparate tremendo. Agora, se põem a senhora a falar de futebol, eu quero uma edição em DVD. Já.
Não só acredito que haja cursos superiores (mais mestrados e doutoramentos, para especializar) em calinadas, como não tenho dúvida que muitos orgãos de comunicação social fazem formação interna contínua, tipo 'vamos criar nós a nossa própria cultura da imbelicidade e do ridículo e as pessoas vão-nos reconhecer e apreciar por isso'.
Enfim, ouçam mas é o grande guru:
http://www.flurl.com/item/Gabriel_Alves__Boas_Festas_2002_u_123889/
Ah pois é, ela falou sobre futebol, assumiu que era assunto que não dominava, nem isso foi poblemático porque a restante ignorância foi suficiente para não se falar nada de jeito. Podemos fazer um baixo-assinado para editarem um DVD. É um bocado soporífero, mas é melhor que contar carneiros em noite de insónia, e ainda tem o Pôncio Monteiro e a Liga "Betadine" a que a senhora achou um piadão (talvez tanto como eu achei aos valores imobiliàrios e ao trespasse dos jogadores). Tudo inveja por a casa da senhora ter sido comprada a pronto, ou ela saberia por experiência própria que os bancos ficam com direitos reais de garantia (hipotecas) sobre empréstimos para comprar casa, saberia, acho eu.
Quanto ao aerodinamismo do Henry a levitar, fabuloso! Quem foi o guru do comentário desportivo?
Julgo que foi o senhor comentador da SportTV ao qual o meu texto alude.
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