Friday, May 19, 2006

ELEGIA AO ARSENAL F.C.

(Glosa à cantata de Dido, de Correia Garção)

por: Bento Barbosa

Publicado sem autorização mas com a devida vénia.


Já no dourado azul da Catalunha
Da nave do Barcelona os motores
Ralentavam na pista iluminada
Onde uma multidão se entrechocava.
O tristíssimo Wenger
P'lo Estádio de Paris vaga gemendo
As mãos erguidas 'inda em vão pragueja
Contra a sorte mofina.
Só cadeiras vazias, relvado ermo
O Estádio de Paris 'stá tumular.
Tenebroso silêncio, cai a chuva
E lava o sonho, sobra a tragédia.
Das bancadas despidas
Dos holofotes atros
Julga 'inda retinir nos seus ouvidos
Da claque dos gunners
O soberbo clamor.
E de bocas mil, em canto uníssono,
Julga ainda ouvir dizer: É nossa! A taça é nossa!
Já a vitória tem certa,
O coração jubila
Mas, viu, esmorecido
As suas redes tão inexpugnáveis
Por duas vezes serem violadas;
E a chama da vitória,
Em cinzas da derrota converter-se.
Cabisbaixo, suspira!
Explode em pontapés,
Como fosse possível dar na sorte
Um pontapé que favorável a tornasse ainda.
Mas, no campo deserto,
Onde há pouco milhares
Ouviu, maravilhado,
Cânticos de louvor, Olés e Urras;
Ali mesmo, o cruel destino, o fado
A torcida Blaugrana lhe apresenta
Calando a sua claque moribunda,
Qual vaga se desfaz com a seguinte.
Os cantos catalães o atormentam:
Tapa os ouvidos, fecha as mãos nervosas,
Cerra os olhos, debalde. Dentro do crâneo
A fatídica imagem surge crua,
A casquinar, tripudiar, sardónica,
Sem descanso, tenaz, alucinante.
Aos lacrimosos olhos marejados
Junta-se a chuva em gotas de lamento.
Sucumbe. Deprimido, cai apático
Num desconexo solilópquio surdo
Como a noite sombria.
Quando recorda a Taça gloriosa
Que o rival lhe arrebata,
Estas últimas queixas expeliu.
E os lastimosos, lúgubres lamentos
Delas desertas bancadas ecoando
Longo tempo depois se repetiram:
Grandes projectos,
Tão bem gizados
Pelo meu saber,
Enquanto os fados
O consentiram
Foram logrados.
Mas, no final,
Ao Arsenal
Foram roubados.

Grande Arsenal
Assaz jogou
Com muita garra
Se comportou.
Agora triste
Já da derrota
Ninguém resiste
E faz chacota.
Da Taça linda,
Que namorou,
O sonho finda
Outro a levou.

3 Comments:

At 3:43 AM, Blogger Antão Bordoada said...

Bem me parecia que eras rapaz dado às letras. In arcadia ego. Belo esforço, quase tão bom como o do Arsenal, mas não foram roubados. A chave foi Larsson. Go spurs!

 
At 3:34 PM, Blogger Diego Armés said...

Atenção que o poema não é de minha autoria. Com muita pena minha.

 
At 6:04 PM, Anonymous Anonymous said...

Obrigado ao guitarrista pelo destaque e ao Antão pela crítica.

 

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