O Medo da orfandade
Confesso que estou já cansado das eleições do Sporting. Ou melhor, estou cansado de candidatos, putativos candidatos, pseudo-candidatos e candidatos a candidatos. Até parece que o Sporting é um clube plural, com muitas opções de valor para assumir a Presidência, com muita gente que se preocupa como futuro do clube. Como passa pela cabeça de alguém falar em afastamento entre o clube e os sócios e adeptos se praticamente todos eles manifestaram em algum jantar, numa reunião de negócios no Elefante Branco ou numa ida ao supermercado o interesse em se candidatarem à Presidência do Clube?
A patética novela das conversinhas às escondidas, dos almocinhos conspirativos, do apoio-a-100%-o-Sô-Doutor-com-três-nomes-mas-se-ele-não-se-candidatar-então-assumo-eu-a-candidatura-porque-também-tenho-três-nomes-e-sou-muito-sportinguista-e-o-sporting-não-pode-ficar-nas-mãos-de-gente-pouco-séria-e-sem-três-nomes-a-não-ser-que-apareça-outro-Sô-Soutor-que-também-seja-sério-e-também-tenha-três-nomes serve apenas para branquear uma realidade indesmentível: O Sporting é uma monarquia.
Vamos lá ver: Pessoalmente, o sistema monárquico não me chateia nada: É certinho, não traz surpresas imprevistas e se o descendente directo estiver com dúvidas se está preparado para subir ao trono, acena-se com 800 mil euros por ano para ver se é de ferro. O sucessor está definido dentro de uma linhagem e é preparado entre jogos de pólo, idas à manicure e MBA’s no estrangeiro para, um dia, ser ele a deixar o Paulo Bento sozinho contra o mundo enquanto, desde a sua cadeira de encosto reforçado e com costas
Amado de Freitas, Jorge Gonçalves e (em menor escala) Sousa Cintra ainda arrepiam o imaginário de qualquer sportinguista sem Alzheimer. O projecto Roquette (ainda que no início com Santana Lopes a dar a cara - outro conhecido, simpático e, por isso, nunca incompetente) representou, então, tudo o que os anteriores não tinham sido: Trouxe palavras de rigor, a ideia de um projecto que parecia fazer sentido liderado por pessoas ‘conhecidas’ cuja descendência dos fundadores do Sporting os colocava acima de qualquer suspeita ética e de competência. E, importante, permitia o regresso a umas origens de chapéu de coco e bengala de pega de prata. E todos se sentiram confortáveis e protegidos por gente bem-falante, com pedigree e nome na praça. A confiança actual na para-democrática ‘continuidade’ não está nos resultados financeiros ou desportivos, que não justificam qualquer tipo de entusiasmo. Nem no vigor do Sporting, cuja realidade para além de uma academia que produz talentos em série que a equipa principal não consegue capitalizar é mais difícil de compreender do que uma análise do Freitas Lobo sobre um contra-ataque. A continuidade apenas se justifica pelo medo da mudança e pelo peso que o Projecto Roquette ainda tem no imaginário dos sportinguistas mas já está soterrada num podre sistema de compadrios que não vai ser fácil limpar quando houver necessidade. Enquanto isso, do nosso lado, vamos ajudando a casa real a afincar os calcanhares no chão: protesta-se contra o poder dominante, grita-se em desacordo mas reza-se que a mudança nasça da continuidade. Camuflada de uma democracia que esconde a mesma coroa. Porque já os conhecemos.
PS. Apenas um concelho para o candidato ‘socialista’: Faz uma plástica que pareces o Eduardo Madeira. Isso lixa qualquer projecto à partida. Até os projectos do próprio Eduardo Madeira. Aquele abraço.
3 Comments:
Para relembrar os gloriosos tempos, passa no meu recém-aberto blog, onde o 1º post é sobre o nosso grande Veloso e onde daqui a uns dias poderão contar com uma entrevista feita por mim ao próprio.
fintasefifias.blogspot.com
Abraço.
Ferenc Meszaros,
o PPC é lider! A parecença com Eduardo Madeira só vai dar publicidade ao Sporting. Antes isso que o girafas ou o surfista prateado.
Assim se vê a força do PPC!
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