Análise longa
Agora que estão na moda as análises a isto e àquilo, e já que o nome do blog é alusivo ao mais imaginativo e anti-desportivo fenómeno da actualidade, falemos de análises. A primeira é sobre Nuno Assis e o consumo de uma substância dopante muito mais difícil de pronunciar do que "dianabol". Portanto, eu prefiro chamar-lhe simplesmente "a droga". O Nuno Assis deu na droga, pronto. Eu acho que fez bem. Já que não sabe jogar à bola, pelo menos entra em campo com outro espírito, mais leve, mais divertido. Se experimentar xámon até pode divertir os colegas, caso a pedrada lhe caia bem. Eu sou a favor e, assim que pudesse, convocava o Nuno Assis. O público vai ao estádio também para se divertir, caramba!
Analisemos agora a reacção às "crises" e aos "estados de graça". E analisemos uma pré-análise que foi, até ao momento, a mais perspicaz que lhe conheço: a de Koeman a este tipo de análises, precisamente ("Peseiro onten era lo mejor hoy es una mierda; un boi hoy es blanco, mañana es preto"). Koeman identificou, em poucas semanas e escassas palavras, uma das características mais caricatas do nosso futebol: a flutuação da crítica desportiva.
Sejamos realistas: toda a crítica futebolística apontava, há duas semanas atrás, o Benfica como potencial campeão, desvalorizando inclusivamente a vantagem pontual do FC Porto porque os dragões ainda tinham que vir à Luz. O Benfica vinha de uma série de 7 vitórias para a Liga, 9 no total, e uns quantos jogos sem sofrer golos. Mas havia motivos para tanta confiança? Nem tanto. A equipa ganhava mas sempre no limite do possível; raramente o domínio nos jogos era inequívoco, salvo numa ou noutra partida; na partida contra o Nacional, a vitória só foi conseguida graças a um erro grosseiro da equipa de arbitragem; o onze inicial era instável; a entrada de reforços de Inverno veio acrescentar instabilidade ao plantel, até porque alguns titulares foram relegados para o banco ou mesmo para fora dos convocados. Isto não faz de uma equipa "imbatível". A nível classificativo, o Benfica deu um bom salto e aproximou-se do FC Porto, galgando, como lhe competia, a tabela tirando proveito de uma série de confrontos que lhe era claramente favorável à partida. Ou seja, o Benfica foi competente, mas não foi demolidor. Além disso, uma época é feita de picos e baixas de forma - daí que seja a regularidade a levar o prémio no final da competição. Logo, nada mais natural do que uma quebra de forma após um longo pico que durou quase dois meses. É engraçado notar que os mesmos que elogiavam abundantemente o Benfica até à tarde de sábado, dia 28 de Janeiro, agora, de repente, tenham visto que, afinal, o Benfica é uma equipa de rastos, destroçada e em crise. Amigos, nem em crise agora, nem demolidora antes disto. São ciclos perfeitamente naturais ao longo de uma época. Até acrescento: acredito piamente que o Benfica seja eliminado, na quarta-feira, pelo Nacional, da Taça de Portugal, encerrando assim uma série negativa. E acredito que, em seguida, vença o encontro da Liga e inicie mais uma boa série de resultados - isto, tendo em conta que Porto e Liverpool são adversários próximos, logo, não se espere uma série imbatível e sem golos sofridos, como a anterior...
Já em relação ao Sporting, a situação é, mais ou menos, a inversa. O Sporting perde três jogos e já dão o caso encerrado, com os leões fora da corrida - eu ouvi comentários em que se afirmava que, em caso de derrota na Luz, os de Alvalade ficariam arredados de um lugar na Champions!!! Não terão prestado atenção ao evoluir da classificação. Mesmo o FC Porto, que só conta duas derrotas, está ao alcance de duas/três jornadas negativas. E uma sequência dessas não tem nada de inverosímil, tendo em conta o passado recente da competição maior portuguesa. Já quando o Sporting ganha dois jogos consecutivos, torna-se num portento, numa inspiração futebolística, num grupo difícil de parar... Continuo com a minha opinião: o Sporting é a equipa mais frágil dos três grandes. Está equilibrada em arames e, neste momento, atravessa uma boa fase: a moral está em cima, o exercício de acossamento a que foram submetidos antes do jogo na Luz teve um efeito deveras positivo e os elementos importantes para que a estratégia de Paulo Bento se imponha estão disponíveis. Mas, haja uma quebra, e a queda será inevitável. Paulo Bento - que teve um início de carreira altamente promissor, defendo eu - tem uma tarefa muito difícil pela frente se quiser ser campeão. Porém, caso o consiga - e isso ainda é possível -, será um campeão de luxo.
Analisemos agora o Benfica na vertente táctica e na relação entre táctica e escolhas do treinador. Parto do princípio que Koeman tem errado. Os erros são vários, alguns são graves e vão desde equívocos a precipitações.
O primeiro erro de Koeman está na alteração, sem justificação, da estrutura defensiva. A estabilidade de uma defesa começa na baliza. Ora, Koeman já havia mostrado que não gostava de Quim. Mas, depois de uma série de quase dez jogos sem sofrer golos, não me parece de bom senso tirar-lhe a titularidade. Ainda mais quando Moreto tinha acabado de chegar e a sua relação com a defesa era praticamente nula. Além disto, um guarda-redes tem que saber estar na baliza de um grande, com vocação predominantemente ofensiva. Ora, Moreto vinha do Vitória de Setúbal que, salvo os méritos já tantas vezes elogiados em todo o lado, era um conjunto que praticava um futebol medíocre, pastoso, lento e com organização muitíssimo recuada. Moreto não estava pronto para pisar uma pequena-área defendida durante 70% do jogo a 50 metros de distância por dois centrais e um trinco - visto que até os laterais do Benfica se lançam profundamente no ataque, sendo frequentes a jogadas na linha de fundo com a sua participação.
Errando nos guarda-redes põe-se em risco a defesa. Torna-se mais nervosa, instável. Sabem que um lançamento em profundidade, daqueles de 60 metros, saído dos pés do guardião adversário, não tem em Moreto uma oposição segura. Já com Quim, sabem que ele estará, pelo menos, prevenido para tal situação. Este nervosismo e esta instabilidade podem explicar, em boa parte, os 7 golos sofridos nos últimos 3 jogos. Mas existe ainda o equívoco. A defesa do Benfica deve ser constituída, a meu ver, pelos seguintes jogadores, da esquerda para a direita: Léo, Andersson, Luisão e Alcides. Todos sabem defender, entendem-se bem e sobem no terreno com segurança. Os erros, pontuais - diria mesmo raros -, que sucederam nas duas últimas partidas não podem servir como bitola para avaliação deste quarteto. Nelson em campo é outro equívoco; na esquerda é um ultraje! E não o digo por Nelson não ter qualidade - longe disso e já o mostrou. Mas Nelson atravessa uma grave crise de forma, aparentemente sem explicação. Nestes casos, nada melhor que o banco para sarar mazelas.
Se as equipas se constroem de trás para a frente, em especial quando se privilegia a posse e circulação de bola na construção do ataque e uma recuperação rápida na transição ataque defesa, após as perdas de bola, é natural que, após estes equívocos e precipitações no último reduto benfiquista, surjam desequilíbrios em sectores mais avançados. Petit tem sido disso exemplo. Joga nervoso, no limite (às vezes para além dele!) da agressividade, refila com colegas, reclama com árbitros e, apesar da sua correria, o seu jogo nem sempre é consequente e raras vezes é clarividente. Em Leiria foi confrangedora a falta de apoio a Manuel Fernandes que, depois de uma óptima primeira parte, acabou por se eclipsar, por arrasto, na segunda metade, perdendo fôlego e ideias no miolo. Por seu lado, Simão é obrigado a acautelar as tarefas defensivas, não dispondo da mobilidade que faz dele o maior perigo benfiquista para as defensivas opositoras. Acresce que o capitão está a jogar sem chama - estará contrariado? A cabeça já está na Premiership? Pois o seu afrorrabo poderia muito bem estar no banco. A equipa já demonstrou que a simãodependência é mais uma de tantas águas passadas.
Não contente com o desmembrar da equipa, no essencial da recuperação e construção de jogo, Koeman trata de executar os criativos da equipa, alguns deles em excelente forma. Para tal contribuiu, uma vez mais, a inclusão imediata de reforços no onze. Koeman forçou a titularidade de Laurent Robert. Francamente, não entendo a opção. Se Nelson estivesse em forma, a dupla de extremos seria, sem dúvidas, Simão, na esquerda, e o cabo-verdiano na direita. Estando Nelson fora dos planos, parece-me mais lógico que a escolha recaia sobre Manduca, um jogador mais apto, porque mais adaptado ao futebol português, com características mais defensivas, um elemento nitidamente mais trabalhador do que Robert. Na frente, Nuno Gomes parece-me o segundo ponta-de-lança ideal: não tem o poder de fogo de um matador mas tem mobilidade, capacidade física, visão de jogo e técnica mais que suficiente para ocupar a posição, algures entre um nº 10 natural e ponta-de-lança tradicional. À frente de Nuno Gomes, a questão não é difícil: Geovani é o homem. É curioso - e pode até soar disparatado (só o tempo, caso o haja, o dirá) - mas Geovani faz-me lembrar Liedson a jogar lá na frente: é rápido, inteligente, muitíssimo ágil, oportuno e, frente à baliza, não costuma perdoar. Posto isto, não vejo a utilidade de Marcel no onze inicial. Aliás, pela escassa amostra, Marcel não me parece ponta-de-lança para o Benfica. Talvez o Portsmouth precise de mais um reforço...
Concluindo, que a prosa vai mais que longa: Koeman deve repensar a estrutura da equipa. O 4-2-3-1 desdobrável em 4-4-2 e 4-2-4 não se compadece com jogadores que passeiam no campo. É uma estrutura demasiado flexível para permitir falhas, passes errados ou hesitações. A equipa deve ser um bloco a defender, uma teia em ataque continuado ou um ariete no contra-ataque. Logo, se calhar os que já cá estavam são as melhores opções.
15 Comments:
És moderado, justo e competente na análise. Tens a certeza de que és do Benfica? Suponho que está fora de hipótese uma conversão tardia ao sportinguismo...
Ui, estás doente Guitarrista? Bem escrito e bem visto. Só uma coisa, as críticas e comentários extraordinários não acontecem só no futebol - são já um must português que, pelo menos a mim, ajuda a explicar o bronzeado impecável do comentador televisivo que, para além de apresentar uma resma de livros, fala desde a política a física quântica, do futebol à modalidade mais rara e ainda tem outra vida profissional e mais, tem vida social e até pessoal - parece que raramente dorme mas nunca tem olheiras (caracterização muito competente, claro). Basta ver as pérolas sobre a gripe das aves e as figuras que de vez em quando são eliminadas sem direito a julgamento. Querias melhor no futebol? Também eu...
Não concordo com nada do que escreveste. É incrível mas é verdade.
Parece-me ainda que caíste numa contradição evidente: se criticas, e bem, «a flutuação da crítica desportiva», não me parece sensato, nem justo, fazer avaliações (positivas ou negativas) a um jogador que fez um jogo. Marcel, por exemplo.
A mim, parece-me um bom jogador, para o Benfica e para quem quiseres.
O Robert idem - para mim (e não li jornais desportivos) foi um dos melhores do Benfica.
Duas oportunidades que não foram golo por causa do Costa, um cruzamento que não foi golo porque...
Nuno Gomes. 5 minutos de jogo. Palhaço.
Opinião é opinião e esta análise é a minha.
Quanto a Marcel, não há contradição. Não acho que um jogador que marcou meia-dúzia de golos pela Académica justifique uma entrada imediata na equipa, quando Geovani está em forma.
Já em relação às críticas extra-futebol (para a Helena), isso já são outros campeonatos. Aqui é da bola redonda que se trata.
E não, Emplastro, escusas de pedir joelhos: jamais vestirei uma serapilheira verde-alface!
O Marcel não entrou imediatamente na equipa. Vejamos:
- Não foi convocado contra o Gil Vicente.
- Contra o Sporting foi para o banco e jogou 18 minutos.
- Contra o Leiria o Geovanni foi desconvocado, o Miccoli estava (está) lesionado - jogava quem, pergunto eu?
A questão não é só o jogo de Leiria. O problema maior é que, pelo dá a entender, Koeman vai usar esta dupla daqui em diante - durante a semana de treinos, foi esta que ele experimentou. Para o jogo, depois de Geovani ter tido licença, reconheço que nºao tinha muitas opções. Especialmente, opções melhores.
Mas disseste que não concordavas com nada. Afinal, só estamos a debater o Marcel. E o resto?
Eu não concordo em relação ao Nelson. Acho que o Alcides deveria ser 2ª opção e o Nelson primeirissima (apesar de parecer estar a passar por um ligeiro abaixamento de forma/confiança).
Também não me parece que o Marcel seja o ponta de lança que precisamos. Pode ser que me engane.
E se o Geovanni não tivesse sido desconvocado, deveria ter sido titular na frente (acho que ja anda a merecer que lhe dêem esse posto mais vezes e com maior consistencia).
Contra o Leiria as coisas correram mesmo muito mal. Nuno Gomes falha um flagrante golo aos 3 ou 4 minutos, aquilo não se pode falhar. Durante o resto do jogo falharam-se mais uns quantos (a sorte não quis nada connosco, e o Costinha para variar jogou um jogo bom contra o Benfica).
Depois, eles aproveitaram quase todas as oportunidades que tiveram. Os erros na defesa (que espero que não sejam para voltar em definitivo...) vamos ver se acabam de uma vez. Acontece, mas esperemos que não se torne habito.
Enfim, hoje Nacional para a taça... vamos a eles. Que passe o melhor, e claro, que o melhor seja o GLORIOSO!! :)
Eu não queria ser desmancha prazeres mas... estava a gostar tanto da alternância 1-3/3-1. Hoje é dia de 1-3.....
Eu compreendo o teu desejo. Já sei que simpatizas muito mais comigo quando eu estou com a moral em baixo... Porém, hoje a Gloriosa equipa contará com o meu apoio. E, evidentemente, a equipa de arbitragem terá direito a um mimminho especial... Vitórias limpas é que não!
Caramba, agora estás a ser desmancha-prazeres. Era só meter 1 e levar 3, não custa nada, já estavas a ficar habituado... E depois que pode querer o trio de um bardo? Mais música? Com 14 milhões de bardos?
Pode querer paz e descanso, por exemplo. E isso não é fácil conseguir de mim quando se tem um apito na boca ou uma bandeirola na mão... salvo seja.
Se quisesse paz e descanso não arbitrava. Mas isso são águas passadas, o glorioso passou a eliminatória com gps de regra - estas arbitragens foleiras, deixo umas ideias: dar 2ª chance ao Simão (de certeza que a relva estava levantada), ou talvez amarrando o Hilário à trave...
A vitória do FC Porto foi bem mais fácil, sem dúvida... Já a do Sportém...
Quem te ler pode pensar que tens saudades do tempo das chapeladas e daí inferir que és um bocado salazarento (isto somado aos coiratos ninguém aguenta Guitarrista - nem imigrantes ilegais)
Daí podem inferir o que quiserem. Aliás, se fosse de outra forma, não estaria aqui a escrever para estes milhares - quiçá milhões - de leitores. E u exponho-me e sei que essa exposição mediática acarreta consequências... Já as provocações sobre imigrantes ilegais, nem respondo, não tenho tempo - tenho a cachupa a arrefecer e a Vicência já está a chamar. A Vicência é impaciante.
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