Monday, October 09, 2006

Futeborga

Chegou à redacção do Dianabol um texto acerca de um futuro não longínquo. Com a tomada de posse da nova direcção da Liga de Clubes a colocar o futuro da modalidade na ordem do dia, achei que a sua publicação é oportuna. Pede o autor que seja feito o seguinte aviso: qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

Ano de 2018. O caos grassa no futebol.
As competições internacionais paralisadas pelos contínuos escândalos e problemas organizativos no futebol inglês, português e italiano; a UEFA incapacitada de responder aos intermináveis apelos e reuniões com os dirigentes dos clubes desses campeonatos em permanentes protestos e quezílias que terminavam sempre “nas últimas consequências…”

A própria sede em Genebra, foi forçada a colocar uma máquina de senhas à entrada para disciplinar as constantes brigas no corredor de acesso ao gabinete do Sr. Blatter II.

O pobre homem já não sabia o que fazer. Para além destas confusões latinas (o drama maior até era a questão anglo-saxónica provocada pelos mesmos responsáveis: a proliferação de jogadores e técnicos portugueses, espanhóis e franceses que transformou um campeonato organizado, fleumático e rigoroso num jogo excêntrico, violento e neurótico). Ao que parece os únicos a ficarem satisfeitos com o caos do futebol foram os membros da família real britânica que desapareceu dos tablóides, muito por culpa da conversão destes em diários desportivos The Ball, The Game and The Record, novas designações do The Mirror, Star e o The news of the world. Além desta confusão os alemães e holandeses insistiam na introdução da electrónica no seu futebol através de projectos cada vez mais complexos da Philips, Grundig, Blaupunkt e mesmo o Bill Gates estava a calha para apresentar um software (que só corre em Windows naturalmente) denominado Protection Advisor for Referees Assessment Tool - Y Series (por favor, não liguem à sigla). Todos os sistemas provavam uma eficácia de 100%, desde que controladas pelos homens da UEFA.
Esta contestação, em vias de levar ao cancelamento das provas europeias obrigou Blatter II a tomar um decisão polémica, mas a única que permitiria salvar o futebol internacional (leia-se o seu futebol): excluir estes países das competições, banindo-os e proibindo-os inclusive de utilizar o termo futebol (marca entretanto registada pela FIFA).
Atónitos com a decisão, estes três países (a par de Andorra, Liechtenstein e Ilhas Faroe) revoltaram-se e criaram um novo jogo denominado Futeborga para Portugal, Fuckball para as Ilhas Britânicas e Camorracalcio em Itália.
Evidentemente, foi necessário proceder a uma série de alterações quer nas regras de jogo quer na organização desportiva dos campeonatos, que são actualmente objecto de profundo debate e do qual damos conta de alguns detalhes.

Organização do Futeborga

Liga:

  • Para pertencer a liga basta ter uma equipa, um presidente e um excelente departamento jurídico;
  • O número de equipas pode variar entre 8 ou 800, conforme os jogos de influência e a disponibilidade financeira;
  • Os resultados dos jogos só são confirmados no final do campeonato, após reunião entre todos os envolvidos. O que se passa em campo não interessa;
  • Dívidas, fugas ao fisco, contabilidade paralela não podem representar, em nenhuma circunstância, situação penalizadora dos resultados desportivos;
  • Uma equipa é constituída por um número indeterminado de jogadores que podem ser contratado à peça (um jogo, dois jogos, etc), para serviços específicos (só para jogar com o Sporting ou Benfica, por exemplo), serviços de marketing (venda de camisolas, sapatilhas, cortes de cabelo, etc) ou outro qualquer tipo de contrato. Isto permite a tão desejada (pelos beneficiários da globalização) uma mobilidade de mercado de forma que o mesmo jogador possa jogar por 15 a 20 clubes por época;
  • Os clubes não são responsáveis pelos actos dos atletas em campo e fora dele, não podendo ser prejudicados pelas atitudes destes (o que mexe logo com as leis do jogo, dado que, se um jogador violentamente fracturar um “colega” de profissão, o problema é dele e do colega, não podendo o mesmo ser expulso, apenas substituído);
  • Os atletas não são responsáveis civil e criminalmente pelas suas atitudes;
  • Os árbitros, dirigentes, pessoal técnico, enfim, todos os envolvidos no fenómeno desportivo do futeborga, não são responsáveis civil e criminalmente por coisa alguma;

Da organização da prova:

  • Os campeonatos deixam de ser organizados pelas federações e pelas ligas e passam a estar controlados por multinacionais;
  • Os campeonatos deixam de ter origem num país e passam a ser competições internacionais. Os clubes são seleccionados por convite (Por exemplo a Liga PT pode ter o Porto, o Corunha, o Gondomar e o Milan e a Liga Pirelli, o Bayern, o Leça, o Steua de Bucareste e o Chelsea);
  • Os prémios por vitória, empate e derrota (sim, há prémios para os derrotados e bónus especiais para quem não esteja sempre a contestar!) são estipulados pelos organizadores/empresas;
  • Nas camisolas haverá um pequeno espaço destinado ao emblema do clube, desde que não prejudique a exposição publicitária;
  • Os jogos serão todos transmitidos por cabo em regime pay per view podendo, em alguns dos casos haver lugar à venda de ingressos. Nos casos em que isso não se verifique, esta prevista a gravação multifónica de uma audiência, um pouco como as comédias americanas, onde eles colocam os espaços onde nos devemos rir;
  • Os campeonatos serão a duas voltas excepto para os clubes que fiquem muito longe do centro da Europa, devendo esses mudar a sua sede ou estádio (caso das equipas russas, bielorussas, estonianas, etc.). Esta medida não tem nada de especial, uma vez que se trata de povos que vão fornecer a futura mão-de-obra para a Europa Ocidental e, simultaneamente, permite aos jogadores entrarem no espaço da Comunidade para trabalhar na construção e nos hotéis.

Das regras do jogo:

  • Cada equipe é composta por 11 jogadores. O número de jogadores poderá variar durante o jogo;
  • As equipes são compostas por: um guarda-redes, divorciado até 35 anos que namora com apresentadora de televisão; 3 ou 4 defesas, dos quais um terá de ser ambientalista e o outro gay; 2 a 5 médios dos quais pelo menos 1/3 terá de pertencer a minorias raciais, religiosas ou provenientes de países do 3º Mundo (o velho problema das quotas); 2 a 4 avançados, em que um deles deverá ter hábitos ou dependência de drogas e outro preso por desacato público, assédio sexual ou violação.
  • Pelo menos 3/5 da equipa deve ser branca, 1/6 usar brincos, anéis ou pulseiras, 4/8 ser ardentemente religioso e 1 cientologista. Destes, 3/7 tem de ter no seu currículo um escândalo qualquer. Poderá haver alguns que joguem futebol.

Vinhas

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