O Mundial - Primeira parte do primeiro balanço
Pela primeira vez em três semanas não estou em frente à televisão a comer batatas fritas de pacote, a fazer rolinhos com os pêlos do umbigo e a beber Trinaranjus de maçã. Isto, enquanto estou a avaliar o que é que um tobaguenho percebe de bola ou a dar palpites sobre a localização geográfica da Costa Rica (que afinal fica mais acima do que eu supunha), a divertir-me com inépcia dos americanos na sua relação com uma bola esférica domada com os pés ou a indagar acerca da desorientação comportamental de sérvios, montenegrinos e toguenhos. Toguenses. Toganheses. Os do Togo.
Posto isto, já é mais que tempo de falar sobre uma coisa de que toda a gente tem falado: o Mundial de futebol. Que fica - assim como muito bom emigrante português - na Alemanha. Para os meus leitores emigrantes na França e no Luxemburgo: a Alemanha fica no estrangeiro. Aproveito para mandar daqui um grande abraço para a diáspora lusa. Sai mais barato do que mandar SMS's para o Portugal no Coração a dizer "Adelina, lembras-te de mim? Sou o Rogério, andei contigo na escola primária, até à segunda classe, em Arcozelo de-Para-Baixo-de-Debaixo, nos anos 50. Beijinhos e ainda te amo muito. Je tême an cór, que é como se diz aqui".
Assim como primeiras impressões, tenho a dizer que os apanha-bolas do Mundial têm sido de uma ineficácia tremenda. Bem sei que a FIFA se tem mostrado relutante em partilhar as bolas dos jogos (o episódio com Fred, do Brasil, tem o seu quê de inacreditável) mas, caramba!, quem está em campo precisa de qualquer coisa redonda que diga Adidas para poder, enfim, jogar, como se costuma dizer. Acredito que 50% do tempo que se perde nas reposições de bola em jogo se deve precisamente ao fraco desempenho dos apanha-bolas. Talvez andem distraídos a olhar para as bancadas. Compreendo, compreendo. Porém, quem lhes paga não é com certeza a claque mexicana, por isso, olhinhos no relvado, se fazem favor.
Uma outra coisa de que gostei bastante foi da primeira fase espanhola. Sim senhor, futebol de luxo, muitos golos, vitórias e, sobretudo, o aumento do ego de Castela e arredores (mais apêndices). É muito mais bonito ver a Espanha a ser eliminada - que eliminada, varrida! - depois de já terem preparado a festa e apregoado o resultado final. Têm memória curta, é o que é. Existe ainda outra característica nos espanhóis que muito me agrada: são sempre designados cabeça-de-série. E eu tenho para mim que isto é dedo de tuga lá na FIFA só para lhes aumentar a dor e o sentimento de humilhação. Algum dos leitores do Dianabol porventura se lembra da Espanha numas meias-finais de um Europeu ou de um Mundial?
Ainda por cima os espanhóis perderam com a França. Historicamente falando, não gosto da França - e não é só por causa dos emigrantes portugueses que lá existem; a cena do Napoleão e isso também não me agrada. E a do Platini, em '84. Agora, tem lá jogadores que merecem estar num pedestal: Thuram, Vieira, Henry e, claro, Zidane. A estes juntem-se David "Sentado" Trezeguet e a revelação Ribéry "Scarface" e temos uma selecção que merece muito mais respeito do que aquele que teve no arranque da competição. E aí estão os gauleses a mostrar como se comportam os verdadeiros candidatos: em vez de esbanjar foguetes nos jogos a feijões, fazem como nas maratonas, correm de trás para a frente. Aos poucos, vão galgando terreno e ultrapassando adversários com muita euforia mas pouco estofo.
A Argentina é outra Espanha, parece-me. Muito fogo de vista, muita artilharia, mas, quando chegar a hora da verdade, palpita-me que vacilam. Dois jogadores em destaque nesta equipa: Tevez e Riquelme. A este último, falta um pouco de "garra de génio". Se a tivesse, poderia estar no topo do mundo. Destaquei estes dois, mas existem mais jogadores de grande qualidade, obviamente. Agora, enquanto equipa, parece-me "curta" de soluções. E isso viu-se contra a Holanda, assim como contra o México (ambas equipas medianas).
Escassez de recursos já é doença que não incomoda o Brasil. Equipa de uma ponta a outra, com soluções para tudo. E quando este "tudo", esta massa de brincalhões-dribladores com uma parede (Lúcio), um pulmão (Zé Roberto) e um desastre (Juan), dizia eu que quando este "tudo" falha, existe um gigante na baliza e um... "gorducho" lá à frente. Para os menos sensatos, fica aqui um aviso: não se deve subestimar alguém que tem como cognome "Fenómeno". Não lhe foi posto pela Nike. Foi ele que o conquistou. E, por mais Ronaldinhos que apareçam por aí, para mim Ronaldo continua a ser a melhor coisa que aconteceu ao futebol desde o surgimento de Maradona. Aliás, julgo que se aquela lesão não lhe tem aparecido, hoje o futebol teria três reis, em vez de dois. Ronalducho lá vai indo, com seus quilinhos, ora marca de cabeça, ora vai de fora da área, ora quebra os rins ao guarda-redes. Graças a deus não está em forma....
E acho que não vou falar já sobre todas as selecções. Já estou um bocado farto de dar aos dedos. Queria apenas sublinhar o feito da Ucrânia. Chegar aos quartos-de-final não é brinquedo para uma selecção que veste de amarelo canário, a não ser que se chame "Brasil". Agora - e isto pode ser um bocado teoria da conspiração -, fala-se (tem-se falado, ultimamente...) daí de umas cenas, umas substâncias e umas operações e coisas assim para fazer alterações genéticas nos atletas, ainda em idades muito tenras, para que se obtenham "super-atletas" no futuro. Dizem que, por exemplo, o Ian Thorpe e a sua barbatana tamanho 58 são já frutos destes programas. Ora, a mim ninguém me tira da cabeça que o facto de os ucranianos serem, na sua maioria, da geração Chernobyl tem contribuído para a sua prestação na prova.
4 Comments:
Vê-se que tens tido mais disponibilidade do que eu para ver os jogos. Ainda bem, já que eu não posso, ao menos leio algo que não sejam, as compras da Victoria, ou as afirmações da Merche. Pena que não falaste de algo que me deixou perplexa (mesmo não querendo bater no ceguinho), 3 amarelos e só depois o vermelho é obra. Como foi possível? Num Mundial?
"Passo horas a chorar". A frase é da Merche (na VIP).
Achei que isto precisava aqui de uma citação da Merche para ter um bocadinho mais de interesse. Sobre os motivos que a levam às lágrimas, deixo-os para a imaginação dos caros comentadores.
Se calhar deu-lhe o visa gold...
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