Monday, October 08, 2007

Râguebi: a revelação de uma nação

O râguebi é um desporto giríssimo. E não o digo por assumir publicamente o que escrevo, assinando com o meu nome verdadeiro, e recear que alguém com 1,90m por 2,15m, numa armadura que ostenta de 120 a 140kg, descubra quem eu sou e tenha a infeliz ideia de me vir pedir satisfações, ao cair da noite, ali para os lados da Graça. Eu disse Graça? Cof cof... hrum... eu queria dizer Alcântara. Não, Alcântara não, que ainda fica muito perto... err... Odivelas. É isso, Odivelas. Eu moro é em Odivelas. Mas continuemos com o râguebi. Um grupo de jogadores dessa modalidade, até há pouco praticamente anónima por cá, resolveu associá-la a um nome particular no imaginário colectivo do tuga-typical: Uva. Quem não sabe quem são os Uva do râguebi não merece ser português. Isto dito assim pode parecer ironia barata, mas não o é, ok? Só para que fique claro, eu achei tremendamente positivo o desempenho dos lobos lá na França. Aliás, os lobos adaptaram-se e assimilaram rapidamente o comportamento instituído do português na França, adoptando a mesma atitude humilde, de muito muito muito pobre mas muito muito muito mais honrado. É bonito de ver e pode até ser um exemplo para as próximas gerações saídas das entranhas das Beiras e de Trás-os-Montes, em busca do sonho francês (passar 30 anos a lavar escadas para amealhar o suficiente para alugar um Reanult 25 em Agosto e vir à terra verificar se os alumínios estão bem montados lá na maison de vacances). Mas já estou a dispersar-me em dissertações sobre os movimentos sociais, a moda do salto durante a ditadura... ups, eu disse ditadura? Não era nada disso que eu queria dizer, era isto: democracia progressista do Estado Novo. Não me confundam, eu não sou um comuna. Belhéque... Com isto de pensar nesses vermelhos até me perdi. Bom, no fundo, o que eu queria dizer era que o râguebi conquistou o coração patriótico do tuga e se instalou, pelo menos temporariamente, no quotidiano do consumidor desportivo médio, do léxico às regras, da atitude à opinião táctica, não esquecendo os rituais ou o comportamento em campo.
Comecemos por este último item. Não sendo Simon (a quem toda gente trata por Vukcevic) um tuga-typical, não se pode dizer que a realidade do português estereotipado lhe seja estranha. Vejamos: é emigrante (i, para nós), veio ao engano em busca de um sonho, tem um cabelo demodé e não fala nem percebe patavina do idioma de Almada Negreiros, Luís de Camões, Vasco Uva, Gil Vicente ou Sousa Veloso. Logo, não será de estranhar o entusiasmo pelo râguebi que Simon demonstrou - tal como qualquer bom português vem demonstrando -, sábado passado, nos vários tapetes de Alvalade. Notável a sua noção de placagem - e aproveito para deixar aqui uma palavrinha ao Tomaz Morais - o seleccionado do râguebi, como todos sabem... quem é que não sabe? -: mister (diz-se mister no râguebi?... hum...), este Simón era de naturalizar, como se fez com os argentinos amadores, e convocá-lo. Arranjava-se-lhe um emprego miserável qualquer - advogado, veterinário, economista... sei lá, qualquer coisa que o deixasse à míngua a partir do dia 15 de cada mês - e pronto, resolvia-se o assunto. O rapaz tem garra e tem força, é de aproveitar.
Mas, ainda mais do que as placagens de Simon, o que me comoveu foi a forma como outro grande português se deixou inebriar pelo espírito dessa modalidade pela qual todos nós nutrimos tanto carinho, paixão e afecto - falo do râguebi, não do vólei de praia feminino. Não sei se os meus leitores têm aparelho de televisão. Para os que têm, hão-de ter reparado, tal como eu, na tremenda falta de desportivismo de Lucho González na hora de bater o penalty, frente a Pedro Roma. Preparava-se o veterano da Briosa para executar o hakka, tal como vira na televisão aqueles de negro fazer - de negro, claro está, como os estudantes conimbricenses -, quando o argentino, talvez por distracção ou falta de conhecimento do desporto râguebista, decide partir para a bola e fazer o golo. Deixo aqui mais um apelo: por favor, alguém do staff portista que explique a esse argentino mal parido - p'rá tua terra, pá! - a importância do râguebi enquanto desporto nacional, fundamental no nosso quotidiano, símbolo da nossa orgulhosa nação. Mais: naquela ocasião, Elmano Santos, a bem do respeito pelo novo desporto rei, não teria outra opção que não fosse mandar repetir a grande penalidade.
Espero agora que, depois destes dois exemplos do fim-de-semana, o râguebi se enraíze ainda mais profundamente nas nossas tradições e que o futebol vá, aos poucos, assimilando algumas das suas idiossincrasias. Assim de repente, lembro-me de uma regra que poderia ter o seu sucesso: o passe deliberado para o guarda-redes, por exemplo, podia ser feito com a mão, desde que fosse atraso, portanto, para trás. Com o pé também se poderia fazê-lo mas, nesse caso, o guarda-redes não poderia segurar a bola. Não sei se esta regra já existe. Fica aqui a sugestão.

23 Comments:

At 9:53 AM, Blogger Efe said...

Não és ressabiado nem nada...

 
At 12:10 PM, Blogger Metralha said...

Diego, falar de raguebi e não referir o fantástico HAND-OFF de Luisão em Leiria é de um fã desnaturado.

 
At 2:17 PM, Blogger Bulhão Pato said...

Muito bom. Não me ria assim há muito tempo, embora me pareça que o Metralha também tem razão.

 
At 2:32 PM, Blogger Diego Armés said...

Metralha, para falar do Luisão, teria de falar da tentativa de placagem ao Nuno Gomes. E eu não quero entrar por aí, não vou comentar arbitragens...

 
At 3:51 PM, Blogger Efe said...

Ele é mais bolos.

 
At 4:05 PM, Blogger Metralha said...

Diego, lá por terem jogado com o equipamento talismã (ou taliban se estamos numa de raguebi) em Leiria, não quer dizer que fique imune a puxões, mas o mergulho foi ridiculo e pouco ortodoxo.

Quem se viu grego para falar português no fim do jogo não foi o sacana que mete o braço à bola e o auxiliar assinala mas o major não marca, foi lá o outro que disse com todas as letras:
"Eu...uu sooou Vi..ch prrr...esi..dente da SÀD..".

 
At 4:22 PM, Blogger Efe said...

ahahahahahahah!!

 
At 4:27 PM, Blogger Diego Armés said...

Metralha, eu não me queixei de arbitragem nenhuma. Mas, se quiseres entrar por aí, pela via do chourinho... esquece, olha, fala com o José, que ele anda muito contente, só se ri e faz gracinhas para os amigos. Agora, deixem-me concentrar que estou a magicar aqui um texto brilhante.

 
At 4:56 PM, Blogger Efe said...

Um texto brilhante? Deixa cá ver... Cor de rosinha e com lantejoulas?

 
At 5:04 PM, Blogger Diego Armés said...

Não. Um com três linhas e uma punch line brejeira, para tu conseguires ler e perceberes a ideia.

 
At 5:04 PM, Blogger Diego Armés said...

This comment has been removed by the author.

 
At 5:16 PM, Blogger Efe said...

ahahahahahahah!!

 
At 5:40 PM, Blogger Efe said...

Peraí, 3 linhas? Pode ser!

 
At 5:50 PM, Blogger Metralha said...

Diego, falaste na mesma frase em Nuno gomes e raguebi.

Eu falei num homenzinho que se viu grego a falar...

eu juro o que não choro muito... a não ser... xiça... xuif... plim... atraso deliberado... auxiliar marca penalty mas não conta, só conta para os outros...será pq é Evaristo???... BRUUAHHHHHH...

...isso não se faz lampião!... xuif...

 
At 5:59 PM, Blogger Diego Armés said...

Alguém tem cleanex's? Está aqui um homem em lágrimas... E o outro está pr'ali todo ranhoso, a tentar perceber o que disse no comentário. Mais uma tentativa, José, vá lá.

 
At 11:39 AM, Blogger Efe said...

Cleanex's... tu precisavas era de Tampax's...

 
At 2:48 PM, Blogger Diego Armés said...

E tu estás a precisar é de um blogue diferente. Só para mudar de ares. Caramba, ali na coluna lateral tens tanto por onde escolher. Eu sei que me visto de vermelho frequentemente mas, bolas, José!, é preciso vir aqui marrar todos os dias? É que - perdoa-me a sinceridade e a simplicidade dos termos -, você é estúpido, é chato e, sobretudo, é desengraçado. Nem falo só por mim porque, quando se abre um blogue, já se sabe que haverá uma forte possibilidade de por cá pousarem aves raras, animais exóticos, doentes mentais e gente burra. Hoje em dia qualquer um tem acesso à net. Mas, por norma, estes bugs são passageiros. Já vossa excelência é uma espécie de praga, é como uma dor nos ossos que nos vai moendo a paciência. E eu, consigo, já perdi a paciência. A sério. No Dianabol, a democracia de modelo maoísta sempre imperou - passe o paradoxo dos termos. Por isso, José, se a sua alarvidade não encontrar melhor retrete para desabrochar em elegantes passos de ahahahas ou bocejos de boçalidade rara, ver-me-ei obrigado a moderar os comentários, prejudicando todos os outros que por aqui comentam - e bem, com graça, com pertinência, com sentido crítico, humor, etc... portanto, com tudo o que lhe falta a si. Posto, só lhe peço que tenha a bondade se pôr na alheta. Fui claro?

 
At 3:08 PM, Blogger Efe said...

Desculpe-me V.Exa, mas não falo charolês...

 
At 3:13 PM, Blogger Diego Armés said...

Eu fazia-te um desenho, mas ponho isto em palavras simples: não és bem-vindo.

 
At 3:15 PM, Blogger Efe said...

ahahahahahah!!

 
At 3:22 PM, Blogger Diego Armés said...

Parece que és mais estúpido do que eu esperava... Eu tento assim: desaparece, palhaço.

 
At 3:28 PM, Blogger Efe said...

AHAHAHAHAHAHAHAH!!!!

 
At 3:56 PM, Blogger Diego Armés said...

Impressionante...

 

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