La revancha del Tuga
Não acredito muito nessa treta meio politicamente correcta de "não há cá vinganças no futebol". Pois eu acho que há. E nós estamos a 48 horas de podermos vingar-nos da França. Uma vingança fria, como qualquer boa vendetta: eles nem deram por nós - aliás, desde o início da prova nunca fomos favoritos (no grupo era o México; a seguir foi a Holanda; e, finalmente, foi a Inglaterra - neste momento, a vitória portuguesa paga 3.85 contra os 2.00 da França, no sítio do costume); eles acham-se superiores a nós (a História dá-lhes vantagem; acabaram de eliminar o Brasil com limpeza, o que os fez inchar substancialmente; acham que Portugal é uma espécie de Catalunha só que com federação de futebol própria), para além de que acham que estão de novo em forma e que Zidane, de repente, voltou a ter 28 anos (às vezes, parece... mas não é bem assim). É certo que a França está em grande. Confesso: surpreenderam-me. Vi o jogo de preparação contra a China, meia-dúzia de dias antes do Mundial, e fiquei perplexo: os franceses estavam irreconhecíveis. Só o novato Ribérry me deixou bem impressionado. Mas, agora, com eles nas meias-finais (e depois das exibições esclarecedoras frente a Espanha e Brasil), tenho que admitir que (ainda) são uma grande equipa.
Acontece que eu pensei o mesmo sobre Portugal. Sinceramente, não acreditava que passássemos dos oitavos-de-final, sequer. Ou seja, existe alguma semelhança no comportamento de portugueses e franceses (como aliás acontece relativamente a Alemanha e Itália: muito criticados até à hora da verdade; mas, quando acabaram os jogos a feijões, foi o que se viu: ainda lá estão). Isto prova (se fossem precisas mais provas) que o futebol "joga bonito" vale pouco; que o ronaldinhismo é uma variante pobre de um futebol que se quer de equipa, de entreajuda e de pragmatismo; que o "lance de génio" é uma coisa cada vez mais só ao alcance de verdadeiros génios, não de craques de pacotilha - que se tornam previsíveis e inconsequentes com os seus malabarismos em competições deste nível; que a concentração e o rigor superam quase sempre (não é sempre porque ainda existem verdadeiros génios...) a inspiração; que os fogachos e as falsas promessas (Argentinas, Espanhas...) entretêm mas não enchem a barriga a ninguém.
Voltando à vendetta, penso que estamos em vantagem: a revancha está ao alcance de Scolari - assim ele saiba gerir o estado de espírito dos seus jogadores. Acredito que os nossos estão mais apreensivos e usam de maiores cautelas na abordagem ao jogo. Os franceses estão confiantes. Não é que eu ache que a confiança faz mal a alguém - também nós precisamos de estar confiantes. Mas parece-me que os franciús nos subestimam e nós não os subestimamos - logo, vantagem tuga. O regresso de Deco é igualmente um ponto a nosso favor, como é óbvio. A saída de Tiago da equipa são dois pontos a nosso favor (o que é que este rapazinho está lá a fazer?). Só me falta insistir numa coisa: a troca de Pauleta por Nuno Gomes. Perdoem-me os fãs do açoriano, mas não me convence. Se quiserem vir com números, força. Venham daí os números. Aliás, dou uma ajuda: marcou 1 golo em 4 minutos e 0 nos restantes. Ele até pode ser uma fera na pequena área. Mas, neste esquema táctico de Scolari, quer-se um avançado centro que abra a defesa, que crie espaços, que saiba tabelar, progredir com a bola, furar, partir a defesa adversária. O Pauleta não faz nada disto - não sabe sequer dominar uma bola longa. Limita-se a andar ali, em cunha entre dois matacões à espera que um deles caia e que o outro adoeça. Não ganha de cabeça, não sabe tabelar, não segura a bola, não se desmarca, não abre espaços. No único jogo em que, concedo, estava a trabalhar melhor, foi prematuramente substituído (contra a Holanda - culpa do Costinha). De resto, não funciona. Julgo que esta alteração pode ser fundamental. Mas também acredito que Scolari não ceda - aliás, Nuno Gomes ainda não jogou um único minuto neste mundial (não me venham dizer que o Postiga é melhor).
Ou seja: se Portugal mantiver a estrutura habitual, com mais esta alteração, ficará com uma equipa mais completa, com mais alcance (talvez Pauleta funcionasse bem num 4-4-2 - coisa que Scolari podia ter experimentado contra a Inglaterra...) e, acima de tudo, mais possibilidades de executar da meia-distância (e temos óptimos executantes: Maniche, Deco, Figo, Ronaldo...). Mas, mesmo sem esta alteração, mantendo os afilhados do Felipão em campo, o que vai ser mais importante vai ser o espírito da equipa: a tal entreajuda, o pragmatismo, a velocidade de execução e, sobretudo, a concentração e o rigor nas marcações e nas transições em recuperações e perdas de bola. Claro: cuidado com os lances de bola parada. Mas esta vale para os dois lados.
Ricardo
Admito: no sábado apeteceu-me dizer bem do Ricardo. Agora, três dias depois, já estou normalizado e só me apetece chamar-lhe Labreca e dizer que ele tem "uma vozinha assim". Mas no sábado, naquele stress todo, deu-me para achar que o gajo foi genial, que fez uma coisa única e que, vistas as coisas, ainda teve azar: podia ter defendido o segundo penalty também (ainda lhe tocou...). Defender três penalties num jogo destes, naquele estado de nervos, com aquela responsabilidade em cima, não é para qualq... ou, melhor, como o Ricardo provou, está ao alcance de qualquer Marco Tábuas.
Os hexacampeões
Tiveram o que mereceram. Após a primeira jornada dos grupos, num café perto daqui, uma empregada brasileira comentava comigo - e com a concordância do restante staff do café (também ele, imagine-se, brasuca) - que "Portugal teve alguma sorte... ganhou, isso é bom, né... mais num é que nem um Itália ou uma Alemanha..." Franzi a testa e preferi não responder. Felizmente que o futebol tem, por vezes, a sua justiça poética. Da taça não levam nem a miragem, quanto mais o cheiro.
Sobre a eliminação do escrete, há uma coisa que ainda não se disse com grande clareza. Já se dissertou sobre a moleza do meio-campo brasileiro, sobre a meia do Roberto Carlos, sobre a apatia do Ronaldinho, a gordura do Ronalducho, os equívocos de Parreira, etc., etc. Talvez não tenham visto o mesmo jogo que eu. Porque, naquele jogo que eu vi, existiu uma equipa a dominar por completo o jogo, sempre segura de si, criando oportunidades e subjugando o adversário ao seu ritmo e ao seu estilo; e houve outra que, por mais que se tenha esforçado por impor o seu jogo, mais não conseguiu do que cheirar a bola e correr atrás dela. É estranho, eu sei, mas a primeira equipa chama-se França e a outra é que é o Brasil. Portanto, e tendo em conta que em campo existem duas equipas, o que aconteceu ali não foi o descalabro do onze brasileiro; houve sim a falta de capacidade dos brasileiros para contornar uma equipa poderosa, arrumada, inteligente, veloz e, como se viu, letal na hora da verdade. Mas, convenhamos: a tarefa brasileira esteve sempre longe de ser fácil. A França ganhou por mérito próprio - e com muito suor. Se Scolari viu o jogo, já sabe o que há a fazer: fazer de França.
O melhor do Mundo
É nos grandes momentos que sobressaem os grandes jogadores. Maradona, Ronaldo, Zidane, Platini, Baggio, Romário, Haggi, Van Basten... para nomear alguns dos que me lembro de ter visto jogar. Podia pegar em Pelé, Eusébio, Beckenbauer, Bobby Charlton. Mas a esses nunca os vi. No entanto, sei que todos eles foram grandes porque, para além do futebol que tinham nos pés, sabiam engrandecer a camisola que vestiam nos momentos em que eram chamados à responsabilidade. Posto isto, tenho a dizer que, neste momento, não acho que Ronaldinho Gaúcho seja o melhor do mundo. Não. Nem perto. Pode ser o mais hábil, o mais sorridente, o mais publicitado, o mais engenhocas com a bola nos pés, o que joga mais bonito. Mas não é o melhor. No segundo confronto directo com Henry, o brasileiro voltou a perder claramente para o francês. E já não falo em Zidane (ou até em jogadores mais recuados, como Vieira, ou na revelação Ribérry). Já na final da Champions, Ronaldinho, que tinha dez pessoas a jogar para si, fez uma exibição medíocre; Henry, que estava a jogar por três e com apenas mais nove companheiros em campo, foi um verdadeiro quebra-cabeças para os catalães. Sozinho, criou perigo, armou jogo, defendeu, recuperou... e fez a assistência para o golo do Arsenal. Não tenho dúvidas: Henry é melhor que Ronaldinho. Mais uma vez, para quem gosta de factos e de números: quem é que joga nas meias-finais? Quantos golos tem cada um? Ah, bem me parecia. Pelo sim, pelo não, punha Ricardo Carvalho a marcar Henry. Porque, se os avançados habitualmente brilham muito, neste mundial este defesa tem sido o que mais tem brilhado. Que continue assim por mais dois jogos...
PS - Odds Alemanha - Itália: 2.10 (Ale), 3.10 (Empate), 3.50 (Ita).
20 Comments:
grande henry!
olha que o nuno gomes jogou os últimos 10m do jogo do méxico (substitui o carregador de águas postiga).
A França é tudo menos fácil para Portugal, por outro lado Portugal é tudo menos fácil que a França. Por isso também prefiriria o Brasil ter passado. Tenho a ideia já de algum tempo que Portugal ganha ao Brasil de caras.
Da mesma forma que prefería a Alemanha.
Se as probabilidades de Portugal ganhar à França são poucas, à Itália então, ui ui
Basicamente concordo embora ache que é injusto para com o Ronaldinho. O homem anda desinspirado e não é de hoje, sorte para o SLB quando teve de enfrentar o Barça, acontece, às vezes é a forma física - lembremos o Figo do Mundial Coreia/Japão, ou o Costinha na última época no Porto (irra, não acertava um passe), outras não tem muita explicação, as coisas não saem bem e pronto, o livre passa a centímetros da baliza. Já quanto ao Nuno Gomes, pois digo o mesmo mas ao contrário, esperas dele algo que neste momento ele não está a conseguir dar. Com sorte para ti, uma temporada na Suiça põe o rapaz a, seja, 80%. O Postiga, pois tenho visto tão pouco que nem devia referir, mas vejo-lhe vantagens em relação ao NG, é mais rápido, mais furão e quando tem a bola e a baliza na frente atira - esta análise não é absoluta, é do momento, o NG jogou e pareceu-me atrapalhado sem saber o que fazer (algo como o Tiago que se assusta quando recebe a bola, também não será sempre assim, mas está nesse momento). Quanto ao Pauleta, é obstinado, trabalha e sua, confesso que também não percebo a sua grande utilidade neste sistema Mas... admito que sim (o senhor pode-me dar aulas que eu agradeço - o Scolari, claro). Já agora, eu também achava que não passávamos da fase de grupos ou, quando muito, dos 1/8s, estava bem enganada, ainda bem! Quanto a preferências de adversários, prefiro o que ganhar o outro jogo ;)
Mudando de assunto, tive muita pena que o México fosse eliminado pela Argentina, admirei o treinador Mexicano, mudou o sistema de jogo e quase conseguiu dar a volta ao monstro que se safou com tiros do meio campo.
É verdade, a Amelinha jogou os últimos 10 minutos contra o México.
Quanto ao resto, bem sei que todos têm quebras e picos de forma. Porém, na comparação entre Ronaldinho e os outros monstros sagrados, parece-me que o brasuca sai a perder. E mesmo com Henry fica por baixo. Salvo seja...
..jogou 10 minutos, falhou um golo de baliza aberta a dois metros da mesma e levou um amarelo!
Produtivo...
Duarte Um Ógão
O Pauleta já tocou três vezes na bola. Em 4 jogos, não está mal...
Pelo menos, uma das vezes, marcou e outra deu a marcar. Para as vezes que toca na bola, afinal é eficaz.
É pena é ser tão sossegadinho...
Bem, o Duarte conseguiu resumir a carreira da Nuna Gomes em duas linhas.
Brilhante.
PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA! PAU-LE-TA!
Esta malta deve ser cega... Dão-lhe o paraplégico dos queijos, ficam todos contentes.
Querido Bardo, é bom saber que continuas em forma - quem toca na Amelinha leva!
Pode ser que o Pauleta se motive contra a França, afinal, lá ele tem cartel e é temido, logo, podia fazer uma perninha nesse jogo - o povo agradece.
O povo e eu também.
O Pauleta fez o habitual. Nos paralímpicos era um craque...
A França tem uma grande equipa, superior à nossa em praticamente todos os sectores. Será que ainda têm dúvidas disso?
Dezazucr, eu explico.
Acham que havia um homem milagroso que não foi incluido - discutem depois a identidade deste D. Sebastião.
Há pelo menos 3 versões:
- Baía - ridículo, Portugal em tempo regulamentar encaixou apenas 2 golos durante esta participação no Mundial, parece que a defesa funciona.
- Quaresma - pelo menos sempre se refere ao ataque, claramente pode ser melhorado, agora esta opção faria a diferença? Quem o viu no Euro de sub21 reage mal a esta teiria.
- Nuno Gomes - no Euro entrava frequentemente e trazia bons resultados, é um dos Sebastiões preferidos e não apenas pelos benfiquistas. Jogou uma vez (10'), não fez nada de jeito e ainda levou um amarelo.
Ah, aproveito para lembrar ao presidente do meu clube que, assim como assim, terá de engolir as graçolas que mandou. Bem feita, quem se arma em D. Corleone que engula a prosápia. Já agora, começa a não haver pachorra para as suas novelas - com futebol ou sem ele.
Se não fosses portista ou eu tivesse fair play, convidava-te já para co-comentadora deste blogue.
Agora estiveste mesmo bem ;)
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