O sapatinho da Dona Imelda. Ou, a excentricidade das elites
Os dias da Senhora Dona Imelda Marcos, antiga primeira dama das Filipinas, deviam primar pelo tédio absoluto: A senhora acordava de manhã e, depois de mandar açoitar as suas empregadas, conspirava contra os inimigos do seu marido Ferdinando, em alcovitices elevadas a assuntos de Estado. Acabava de conspirar e ia comprar sapatos. Se as lojas de Makati Av. já tivessem trazido a nova colecção, então ainda ia jantar a casa. Se não, mandava açoitar os lojistas, pegava no avião do marido e ia comprar sapatos a Nova York, Londres ou Paris. Aí o Ferdinando, tinha que jantar sozinho, o que o deixava de mau humor.
E era vê-la feliz, calcorreando a Fifth Avenue com a sua pouchette Chanel debaixo da sua cheirosa axila, perseguida por um rebanho de recém-açoitados criados todos eles equilibrando pilhas de sacos, fuçando cada montra de cada loja de griffe, histérica para sugar cada par de sapatos que lhe aparecesse em cada escaparate. E de noite, cansada mas com os seus obsessivos caprichos momentaneamente satisfeitos, puxava os lençóis de cetim da sua penthouse no Waldorf-Astoria e, depois de açoitar mais uns empregados, sonhava em ser uma centopeia.
Este alarve consumismo será certamente um laivo de extravagância de novo-rico que, quiçá por esta estupidez característica de assalariado, sou incapaz de entender. No entanto, não posso evitar de reconhecer paralelismos entre a paixão da Senhora Marcos por sapatos e o fetiche desta Direcção do Sporting por relvados.
Quando soube que o Sporting ia novamente trocar de várzea, decidi investigar. Roubei o cachimbo de Varatojo ao meu encarregado (uma jóia de homem, não desfazendo), comprei uma lupa de plástico no quiosque da Adélia e fui então ao jardim tirar esta história a limpo. Sabia que ia lá encontrar o Ti Agostinho, zelador do jardim, funcionário da Câmara, que entre uma sueca e um dominó com os amigos lá nas mesas de betão armado, ainda arranja tempo para avisar o rapaz mais entusiasmado para tirar a mão de dentro da blusa da miúda. A minha pergunta foi directa: ‘Ó ti Agostinho, com a gente que passa por aqui por cima da relva você deve mudá-la cada 3 horas, não?’ E o ti Agostinho, com a tranquilidade da pré-reforma, mandou-me ir chatear o Camões. Hmmm… A resposta foi inconclusiva. Resolvi então insistir: ‘E se forem 22 pessoas a correr aqui em cima durante hora e meia cada quinze dias?’ E o Ti Agostinho, na sapiência colhida em muitos anos de taberna, responde-me: ‘Tás palerma, ó quê? Isto é relva da boa, não é merda daquela que vem lá do estrangeiro. A culpa é da CEE, que ‘távamos era melhor sozinhos’. Fiquei esclarecido.
Confesso que andava preocupado por a veia aristocrática e consequentemente excêntrica do Sporting, nos últimos tempos, se ter revelado de forma tímida. Recordo tempos de vida faustosa, quando inúmeros Kmets e caros Balajics eram euforicamente espalhados pelos plantéis em excessos de fidalguia. De repente, no entanto, tudo mudou. ‘Ora desde quando é que ser pobre, não ter dinheiro e ter compromissos financeiros serviu de desculpa para não se ter um viciozito inocente?’, já dizia a D. Imelda, enquanto, de dentro do seu Mercedes de ouro, acenava ao filipino que tinha deixado os seus filhos a brincar no meio da lama com os ratos, só para ver a primeira-dama passar.
Mas agora que vejo que alguns tiques incompreensíveis, esbanjadores e irresponsáveis continuam por Alvalade fico duplamente descansado: Afinal, ainda se encontra viva aquela alma extravagante e caprichosa que caracteriza a gente distinta e que nos aproxima daquele estereótipo de classe historicamente elitista que é a nossa fundação; Por outro lado, demonstramos que somos capazes de não nos auto-discriminarmos definitivamente em relação aos outros clubes, já que alguns traços comuns de decisões questionáveis e gestão inconsciente e inepta mantêm-nos todos unidos.
Mas no entanto, algo terá que ser dito em favor dos nossos dirigentes: Sempre é melhor negócio comprar 4 relvados em 3 anos do que gastar dinheiro num Binya…
E era vê-la feliz, calcorreando a Fifth Avenue com a sua pouchette Chanel debaixo da sua cheirosa axila, perseguida por um rebanho de recém-açoitados criados todos eles equilibrando pilhas de sacos, fuçando cada montra de cada loja de griffe, histérica para sugar cada par de sapatos que lhe aparecesse em cada escaparate. E de noite, cansada mas com os seus obsessivos caprichos momentaneamente satisfeitos, puxava os lençóis de cetim da sua penthouse no Waldorf-Astoria e, depois de açoitar mais uns empregados, sonhava em ser uma centopeia.
Este alarve consumismo será certamente um laivo de extravagância de novo-rico que, quiçá por esta estupidez característica de assalariado, sou incapaz de entender. No entanto, não posso evitar de reconhecer paralelismos entre a paixão da Senhora Marcos por sapatos e o fetiche desta Direcção do Sporting por relvados.
Quando soube que o Sporting ia novamente trocar de várzea, decidi investigar. Roubei o cachimbo de Varatojo ao meu encarregado (uma jóia de homem, não desfazendo), comprei uma lupa de plástico no quiosque da Adélia e fui então ao jardim tirar esta história a limpo. Sabia que ia lá encontrar o Ti Agostinho, zelador do jardim, funcionário da Câmara, que entre uma sueca e um dominó com os amigos lá nas mesas de betão armado, ainda arranja tempo para avisar o rapaz mais entusiasmado para tirar a mão de dentro da blusa da miúda. A minha pergunta foi directa: ‘Ó ti Agostinho, com a gente que passa por aqui por cima da relva você deve mudá-la cada 3 horas, não?’ E o ti Agostinho, com a tranquilidade da pré-reforma, mandou-me ir chatear o Camões. Hmmm… A resposta foi inconclusiva. Resolvi então insistir: ‘E se forem 22 pessoas a correr aqui em cima durante hora e meia cada quinze dias?’ E o Ti Agostinho, na sapiência colhida em muitos anos de taberna, responde-me: ‘Tás palerma, ó quê? Isto é relva da boa, não é merda daquela que vem lá do estrangeiro. A culpa é da CEE, que ‘távamos era melhor sozinhos’. Fiquei esclarecido.
Confesso que andava preocupado por a veia aristocrática e consequentemente excêntrica do Sporting, nos últimos tempos, se ter revelado de forma tímida. Recordo tempos de vida faustosa, quando inúmeros Kmets e caros Balajics eram euforicamente espalhados pelos plantéis em excessos de fidalguia. De repente, no entanto, tudo mudou. ‘Ora desde quando é que ser pobre, não ter dinheiro e ter compromissos financeiros serviu de desculpa para não se ter um viciozito inocente?’, já dizia a D. Imelda, enquanto, de dentro do seu Mercedes de ouro, acenava ao filipino que tinha deixado os seus filhos a brincar no meio da lama com os ratos, só para ver a primeira-dama passar.
Mas agora que vejo que alguns tiques incompreensíveis, esbanjadores e irresponsáveis continuam por Alvalade fico duplamente descansado: Afinal, ainda se encontra viva aquela alma extravagante e caprichosa que caracteriza a gente distinta e que nos aproxima daquele estereótipo de classe historicamente elitista que é a nossa fundação; Por outro lado, demonstramos que somos capazes de não nos auto-discriminarmos definitivamente em relação aos outros clubes, já que alguns traços comuns de decisões questionáveis e gestão inconsciente e inepta mantêm-nos todos unidos.
Mas no entanto, algo terá que ser dito em favor dos nossos dirigentes: Sempre é melhor negócio comprar 4 relvados em 3 anos do que gastar dinheiro num Binya…
9 Comments:
Lá está, é mais forte do que ele. Estava o texto a ir tão bem, todo engraçadinho e bem-disposto, e tinha de falar no Binya. Ainda há-de ser, como profetizava A Bola, o novo Makelelé!
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:D
Questões de perspectiva Diego...
Será seguramente o novo Manélélé, mas com menos um dente e mais louro na carapinha.
Minudências! Afinal o que importa um dente ou a cor de cabelo quando falamos de bola? É um Manélélé novinho em folha e prontos. E está no clube mais rico do mundo, com mais sócios do mundo, mais adeptos, mais kits, com o melhor plantel (não é do mundo) dos últimos anos. Tem tudo!
Qualquer dia deixo de escrever aqui... Tiram-me as palavras da boca!
Menos vitórias, dessas esta época é só a águia/milhafre e outra qualquer. Ah, e a mão, não podemos esquecer a mãozinha.
Às vezes não sei qual de vocês é que está a falar...
E os sapatinhos de veludo daquele sueco chamado Pontus?
E que tipo de lantejoulas terá o Tiago nas suas chuteiras? O rapaz não tem mais de 5 cm de impulsão.
Penso que a culpa dos problemas na relva é do Paredes. Ele não tem culpa de estar tão gordo porque não joga, quando joga até faz o esforço de não se mexer muito, mas cada passada é um desastre nos relvados por onde passeia.
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