Cadernos do Euro: Respeito por Donadoni
Antes de arrancar para o texto propriamente dito, há uma coisa que é importante deixar aqui bem clara: as minhas botas de futebol (agora designadas por “chuteiras”, nesta antecâmara da aprovação total e irreversível do tratado da língua brasileira) preferidas, de todas aquelas que usei, eram umas belíssimas Lotto Roberto Donadoni. Andei à procura aqui na internet de uma foto que ilustrasse a beleza daquelas ferraduras da relva. Mas não encontrei. Já lá vão catorze anos... perdão, quatorze anos, na altura acho que ainda nem máquinas fotográficas havia, quanto mais a internet e os computadores. Nessa época, o telemóvel era uma cena do Star Trek, a televisão era um objecto que tinha de vir com mulher (não havia telecomando) e os matrecos eram Benfica – sportém. Já se vê, portanto, ao tempo que isso aconteceu. Mas, isto tudo para dizer que eu respeito imenso Roberto Donadoni. Já andei com uma dessas em cada pé, com aquele símbolo da Lotto a verd... amarelo-lima fluorescente sobre fundo preto – que é como as “chuteiras” eram no tempo em que se chamavam botas de futebol. A minha Donadoni direita marcou mais golos do que a esquerda – incluindo um ao FC Alverca, na altura antro de recolha de meninos abandonados pelas escolas de alvalade (não havia cá Alcochetes). Mas foi com a Donadoni esquerda que marquei o melhor golo da minha vida, no Campo dos Sacrifícios, em plena Musgueira, debaixo de érbâzes e boingues, rodeado por vedação de três metros com arame farpado para ambos os lados. Inspirador. O pontapé foi de fora da área e entrou na gaveta. Foi a primeira e única vez que beijei Donadoni (a esquerda).
Olha, encontrei uma. É pequenina (eu calçava o 38, na altura), mas é este modelo, mais coisa, menos coisa.
Donadoni, entretanto, saiu-me dos pés quando pendurei as botas. Anos mais tarde, também ele pendurou as dele, pelo seu próprio pé, mas com as mãos, por ser mais fácil. Tornou-se treinador de futebol. Ambicioso, chegou a seleccionador de Itália. A squadra azurra, como os nossos comentadores lhe chamam. Os italianos chamam-lhes apenas “squadra” porque é assim que chamam a qualquer equipa “mia squadra é a Roma” ou “mia a squadra é il Inter” dizem-me os italianos de Erasmus que conheço ali na Típica, esse sítio sagrado, abençoado e bem regado de Alfama. Mas os nossos comentadores acham que chamar “squadra” deve ter o seu quê de militar ou assim e que a cena dá aquele tom guerreiro à coisa “eina que a squadra azurra vai entrar em campo... oh, valha-me deus, que eles vão levar tudo à frente” e isto é uma grande falácia porque toda a gente sabe que os italianos... eu não ia fazer piada sexual nenhuma com isto, a sério, estou apenas a falar do estilo de jogo: os italianos jogam sempre lá atrás, todos muito juntinhos, sempre de roda do Buffon. Toda a gente sabe disso.
Eu acho muito giro os italianos serem campeões do mundo. Quer dizer, é melhor do que ser a França. Porque os italianos são melhores. Mas prefiro as italianas. Olha, uma que eu gosto muito é aquela do Totti, a Ilari Blasi. Mas há mais. Escolho esta porque o Totti não jogou... cof cof... porque palpita-me que o Totti não vai jogar e, assim sendo, fica aqui representado no nosso blogue pelo lado mais belo do seu futebol.
Quanto à Itália, não tenho muito a dizer. Mas acho que este ano não ganham. Sempre a defender, sempre a defender... Se marcarem três golos em quatro jogos já é muito. Não me admirava nada que até a Espanha lhes fizesse a folha.
Labels: Cadernos do Euro
7 Comments:
Bonitas ilustrações.Esta a faltar a Itália outro inicio dos anos 80, de um Nápoles com Maradona, Careca e Alemã; um Milan que não seja sofisticadamente bom e uma Roma mais atrevida. O que mata o futebol italiano é aquela panca de que ainda estão no antigo império e que o segredo é avançar assim todos juntinhos atrás do escudo. Mourinho foi uma excelente aquisição para o futebol italiano.
Uma "Roma mais atrevida"?! Maradona, Careca e Alemão?! Ó Vinhas... O que falta a Itália são Zolas, Vierchwoods, Ravanelis, Baggios, Baresis e Donadonis. O que falta à Itália é uma Juve à italiana, uma Sampdória de volta à glória, um Torino na série A. Mas qual Roma?... Dantes até a Génova era uma equipa temível. Agora até o Parma e a Fiorentina foram à falência...
Acho que este post ganha na boa o título de post com melhores ilustrações até agora... Pelo menos dos cadernos do Euro, de certeza.
PS - A classificação final do "Dianabolcaos" já saiu?
PS2, e por curiosidade - afinal a vida é a direito? ;)
A classificação do Dianabolcaos está dependente do Boavista. caso se confirme o castigo, nem haverá classificaçãO. o Férenc fica-me com o vlogue, as chaves do carro, o cão e a mulher a dias. Nunca ninguém tinha feito o pleno: Bueno (Leiria) + Gil Vicente (Boavista).
Quanto à vida... tem as suas curvas. ;) Mas, às vezes, até se faz bem. Sempre em frente...
Com tanto avanço, recuo, queixas, recursos, tribunais e conselhos para trás e para a frente nem me lembrava do impacto que o Apito Final estava a ter no Dianabolcaos...
Em relação à vida e às suas curvas, acho que mais uma vez o post fala por si. ;) Só uma dúvida: sem ser a "sacar", existe algum sítio onde "agarrar" essa vida?
Ok, peço desculpa pelos comentários em catadupa mas acho que descobri a resposta à minha pergunta ;)
Fotografias muito boas. Post quase do mesmo nível. Se a escrita tivesse pítons como as fotos, dava-lhe os mesmos pontos...
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