Para além de Bem e Mal
ou
Será Koeman um Talento ou um Jumento?
Tem sido assim desde que pisou o abençoado solo junto à Avenida Norton de Matos: Koeman mete a colher, a torto e a direito, em tudo quanto é assunto. Quer se trate de uma questão top secret do clube que lhe paga, quer respeite a uma qualquer questiúncula entre comadres vizinhas, o rosadinho holandês tem sempre uma palavra a dizer. Mesmo quando está em blackout, o que não deixa de ser notável (já experimentaram amordaçá-lo?).
Começou por falar dos bois pretos e dos bois brancos e do Peseiro. Falou bem. Só não sei se tinha mesmo que falar - julgo que podia ter-se abstido. Continuou, com tiradas mais ou menos vistosas, quase sempre inofensivas, até que, nos últimos tempos, esfregou a lâmpada e soltou o seu génio - duvidoso - pelo universo futebolístico. Para quem não se lembra, disse Ronald, antes da Vermelha Armada marchar sobre o pasto de Anfield, que "já tinha feito muito mais do que lhe tinham pedido no início". Que é como quem diz "por mim, até ia beber umas pints - tanto se me dá, a missão está cumprida". Uma vez mais, a questão da razão não se põe. O facto de o Benfica ter passado aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, depois de ter sido sacado do 4º pote aquando do sorteio para a fase de grupos da competição, ilibava a equipa de qualquer responsabilidade, mesmo na iminência de um desaire um pouco mais pesado - esse sonho molhado de muito adepto verde-alface. Acresce que, quando se tem pela frente o campeão da Europa em título, a descompressão é ainda maior - a obrigação de ganhar está sempre do lado de quem usa as insígnias, evidentemente. Porém, duvido que a frase de Koeman, com a sugestão que encerra, tenha soado bem nos ouvidos benfiquistas - esta falta de ambição, este desrespeito pela Digníssima... nunca poderá soar-me bem. Pela mesma altura, talvez uns dias antes, avisou o orientador encarnado - que bem lhe assenta esta descrição! - que o caso de Mantorras teria que ser estudado, que o angolano não fazia parte das suas primeiras nem segundas escolhas e que um eventual empréstimo não é hipótese a descartar. Tudo muito bem, foi honesto e pôs a coisa em pratos limpos - se bem que, na lista das suas opções, surja a tenebrosa imagem de Marcel. Que Koeman tem razão, não duvido. Já o timing e a falta de diálogo prévio com a direcção do clube acerca de um futebolista que é - ou, pelo menos, foi - um dos seus símbolos deixa no ar a questão: será que devia ter puxado o assunto assim? Agora, uns dias depois do inacreditável empate com a Naval, o holandês que ficou conhecido entre as gente do futebol devido ao seu pé canhão, disparou mais um tiro que ainda ninguém sabe o que irá atingir - espero que não seja o próprio pé. Disse Koeman, numa análise fria e directa que "uma equipa que não ganha à Naval, em casa, e que perde 4 pontos com a dita equipa em dois confrontos não pode nunca ser campeã". Muita razão tem Ronald, uma vez mais. Mas não podia ter ficado calado? Ou usar de outro discurso para chegar à mesma conclusão?
Posto isto, as dúvidas que me inquietam são várias. E não se limitam à questão "será que Koeman fala bem ou fala mal?". Pelo resumo, inclino-me a julgar que fala bem. Mas essa é questão de somenos importância. Uma outra que, julgo eu, verdadeiramente importa, é a seguinte: que resultados obtém Koeman com - ou "depois de", por não haver relação de causa/consequência cientificamente provada - as suas declarações? Com o Liverpool terminou em grande: ganhou as duas mãos e eliminou o campeão europeu. Talvez a desresponsabilização da equipa tenha ajudado à festa. Talvez tenha feito uso do incentivo invertido, apelando, subliminarmente, à defesa da honra e da camisola, deixando numas quaisquer entrelinhas que "eles subestimam-nos - provemos-lhe que são insensatos". Talvez eu esteja a efabular.
Sobre Mantorras, Koeman surge, uma vez mais, em posição privilegiada para facturar. Hoje o angolano está entre os convocados, depois de longa ausência. Acresce que, domingo passado, Marcel fez exactamente aquilo que todo o adepto benfiquista espera dele: uma figura triste. Logo, o camisola 9 poderá ter hoje uma oportunidade de deixar Ronald a repensar o destino de cada avançado. Ou não. Isto sou eu a supor.
Sobre o campeonato, o fardo foi deliberada e descaradamente atirado sobre os ombros dos dois rivais, que estão, desde domingo passado, numa contenda mano-a-mano, que inclui confronto directo em Lisboa. Pode Koeman ganhar com o negócio? A questão está mal formulada, perdão. O que eu queria perguntar era o seguinte: tem Koeman alguma coisa a perder com o negócio? E os outros dois: têm alguma coisa a perder?
Chegado a este ponto, e ignorando as opções tácticas do holandês (ficará para outro post), sou obrigado a considerar que Koeman tem jogado bem fora dos relvados. Aposta pelo seguro: jogando em contenção, não perde uma oportunidade para lançar um contra-ataque venenoso, uma farpa surpreendente, uma punhalada nas costas. Confesso: gosto do estilo. É manhoso. Praticamente rasteiro e isso agrada-me. Mais que isso, a equipa só tem a ganhar com a estratégia.
É claro que, e nunca é demais lembrá-lo, para ganhar não basta que Koeman fale bem. É preciso que se entre a pés juntos. No limite, é preciso que Nuno Gomes faça um golo. Só de vez em quando, claro.
19 Comments:
Olha que eu estou cada vez mais inclinada para o talento. Embora não consiga entender, por mais voltas que tente dar, a titularidade do Moretto, nos moldes presentes.
Pois... essa é uma das questões a abordar quando falar sobre a táctica. Sinceramente, acho demasiado absurda a insistência no brasilerio. Se fosse um Souness ou um Manel José, eu compreendia. Agora, o Ronald... Não sei, é estranho.
Não me convenço que o Koeman que, cada vez que vejo, me faz lembrar uma das meninas rosadinhas e rechonchudas do quadro do Velazquez, goste de estar no futebol Português. E não me parece que assuma a sua passagem por cá com profissionalismo.
Acho que lhe está a acontecer o que aconteceu a outros treinadores estrangeiros que por cá passaram nos ultimos anos, de Csernai a Heynckes, de Del Neri a Waseige, passando por Souness: Dão o campeonato português como um campeonato menor. Trazem manias e caprichos e pensam que são favas contadas. Não trazem vontade de trabalhar e empenho (esta é a grande diferença que vejo com o Co). Nem bom senso.
Mais do que em questões técnicas, é aí que Koeman falha redondamente: O desmontar automático de um modelo de jogo campeão, as experiências tontas, as bocas a despropósito, o descrédito público em alguns jogadores a contra-balançar com a teimosia obstinada noutros, a desmotivação e falta de trabalho em jogos com equipas pequenas. Mais do que falta de experiência e maturidade (que são muitas), para mim parece-me falta falta de sentido profissional. E de bom senso.
É uma análise. E não é disparatada. Daí a pergunta do início: jumento ou talento?
De que serve o talento se não tens arte (ou inteligência) para o utilizar em prol de objectivos? Jumento.
Pois não concordo, então o homem chegou com esta equipa aos 1/4 de final da CL, brincamos? Agora deve ter uma bela cotação internacional, convenhamos, o grupo não é fantástico. Acho até mais, se não for embora, podia ser gajo para meter na linha o empresário Veiga (será?). Assim, rosadinho e tudo - julgar os livros pela capa...
Mais uma opinião coerente. Percebem a minha dúvida?
Já agora, aproveito para desabafar: estranho que os únicos comentadores a manifestar-se em relação ao tema sejam não-benfiquistas. Estranho e lamento. Ou, se calhar, pensando bem...
Queres que vá alí ao lado chamar o Papoila?
Aqui ao lado, salvo seja...
E não sei se isso será boa ideia.
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Confessa, Férenc, também tens a tua costelita lampiã.
Ups... ele apagou o comentário. Juro que parecia benfiquista!
Cara Helena, também o Peseiro chegou ao final da UEFA e como diria o chefe Barbosa 'a diferença entre as boas equipas e as grandes equipas é ganhar'. Chegar aos 1/4 da Champions tem o seu mérito, mas (como se vê) não dá para embandeirar em arco e viver dos louros. Prefiro ter um jogador certinho e regular pois sei com quem posso contar, do que um que só se esforça e se impõem nos jogos que lhe dão visibilidade e prestígio. O mesmo se aplica ao treinador. Até agora, para mim, ainda não demonstrou nada. De positivo, pelo menos. Bem, o Nuno Gomes está à frente do Liédson nos melhores marcadores...
E se não tem um plantel melhor, também terá alguma responsabilidade, pelo menos nas contratações de Dezembro. Manduca? Marco Ferreira? Marcel?
Epá andas mesmo atento. Apaguei o comentário porque apanhei umas gralhas, pois não o tinha re-lido. E garanto que as modificações não alteraram o sentido do comentário.
O que chamas de costela lampiã deve vir do meu elevado espírito humaniário. Até a insensibilidade tem limites e talvez, de forma inconsciente, já se manifeste alguma compaixão. Realmente já me estão a dar pena...
Disfarça, disfarça...
Meszaros, percebo o que queres dizer, é uma leitura que, tendo lógica, continua a não me convencer. Mesmo porque, as contratações têm um limite financeiro e duvido que não tenham outras limitações impostas pelo clube. Do meu ponto de vista também não vi viver dos louros, provvelmente vai encontrar um clube mais ....
Estamos a misturar aqui já outros ingredientes para além da postura pública de Koeman - que era o assunto sobre o qual o texto se debruçava.
As opções tácticas têm que ser analisadas num devido contexto. Tal como as compras, de Verão ou de Inverno. Não querendo fazer a apologia de Koeman, parece-me que tanto as tácticas como as compras são indissociáveis da liderança de José Veiga - para o bem e para o mal. O que acontece com Quim é apenas um sintoma. A compra de Marcel é mais um sinal (porquê Marcel? No panorama português tínhamos uns quantos mais competentes e ao mesmo preço). O descuido com jogadores que ajudaram a formar uma equipa forte - pelo menos, a mais forte que o Benfica teve nos últimos 10/15 anos - não é próprio de um treinador que, conhecendo ou não o futebol português, sabe o que é ser-se jogador dentro de um plantel, conhecendo portanto o funcionamento de um grupo e os segredos da moralização de um balneário.
Há opções que são muito discutíveis - a venda de Dos Santos, a compra de Manduca (para mandarem Nuno Assis embora deviam ter ido buscar melhor, não pior), mesmo a dispensa de João Pereira (embora, neste caso, tenha sido o jogador a pedir).
Não sei até que ponto Koeman tem voto na matéria em muitas destas decisões. E, se se confirmar esta minha "teoria de conspiração", é complicado para um treinador fazer a gestão segura de um plantel. E, sem essa gestão, não há táctica que resista. Não nos esqueçamos que uma época é feita de ciclos, de picos de forma e de quebras - para qualquer equipa. Ora, se mexem nos planos d eum treinador, é difícil que mantenha o programa inicial da temporada.
Resumo: antes de se chegar a Koeman, conteste-se o Veiga. Depois, logo se vê. E isto do Veiga estende-se ainda mais longe - é uma personagem asquerosa, mesquinha e sem vergonha nem formação. Odeio vê-lo com o emblema do Glorioso na lapela. É um tripeiro aburguesado, sem nível e novo-rico mascarado de benfiquista, a lavar roupa suja de outros tempos constantemente. Anseio por vê-lo fora dali.
Ñão achas pedir demais, já têm o estilo rasteiro-manhoso do Koeman, ainda queres mais entradas a pés juntos etc!
Não precisas dos bonecos no post anterior, eu li e vi que deves ter sido o unico a alertar para os perigos da Naval, foi por isso que te poupei.
Guitarrista, o que eu pretendia era chamar a atenção para isso mesmo, eu duvido que não seja o Veiga a mandar nas contratações, como tal o Koeman tem o 1º adversário dentro do clube - alguém mais preocupado com a cotação dos jogadores que representa do que com assegurar uma equipa forte. Mal crónico do futebol português - lembremos o entreposto de brasileiros que o FCP foi no ano passado (este ano alguém passou a ter um pouco mais de cuidado antes que a fúria dos adeptos não fosse contornável com patranhas acerca de arbitragem). Os dirigentes são maus, pois são. Mas frases como a tua não ajudam por um motivo, em bom rigor ficaríamos sem 1ª liga, e que diabo, já levaste com um Vale de Azevedo, agora tens um Veiga, sabes do que se fala quando se fala de interesses paralelos e muitas vezes contundentes com a verdade desportiva
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