Um Domingo à noite no café do Chaves
Eu estava encostado ao balcão, virado para o plasma novo que o homem lá pendurou, a ver o jogo com o Marítimo, quando o Chaves, enquanto me enchia mais um copo de três com água-pé fresquinha, se virou para mim a lamentar-se:
- ‘Tivesse eu um daqueles Purovics e tinha feito muito mais vinho do que fiz este ano’.
É nestas alturas que dá jeito ser estrábico: Por um lado não queria perder a jogada na televisão; por outro aquela saída do Chaves implorava por um olhar interrogativo.
- ‘Atão?’, perguntei eu, preterindo o plasma novinho, de umas 40 polegadas, curioso por entender a relação proporcional entre a quantidade de Purovics e um bom ano vinícola.
- ‘Metia lá um gajo daqueles com aqueles braços e aquelas pernas todas a mexer-se lá na vinha e havias de ver se algum pássaro pousava em cima das parreiras para me comer as uvas’.
- ‘Ó pá, isso é que era uma ideia ruim. Com aquele mal-jeito todo, o hóme ainda se embrulhava lá nas vinhas e tinhas que cortar as parras todas só pró tirar de lá. Pior a Amélia que o Semedo!’, atirou o Barranha que até então só tinha atenção para o rabo da brasileira que o Chaves lá tinha a servir às mesas.
- ‘Qual cortar, tas masé maluco. Deixava-o lá a apodrecer que ao menos adubava-me a vinha. Podia ser que tivesse sorte e os pardais o bicassem a ele e me deixassem as uvas da mão’, respondeu o Chaves, enchendo agora um copo para ele.
- ‘Deves pensar que os pássaros são como ós gajos do Sporting, não? Podendo ir buscar o bom, vão bicar no azedo…’, atira o Barranha, mudando de posição ao sabor do rabo da brasileira.
- ‘Tenho para mim que o Purovic não é assim tão mau’, começo eu, analítico. ‘Acho que o gajo tá é mal aproveitado. Mandam o homem sair da grande área, correr de um lado para o outro, tocar com a bola com os pés e até passá-la. Claro que não dá bom resultado. O PálBente devia era experimentar jardelizar o Purovic: Era mandá-lo ficar ali quieto à mamuja no meio da área enquanto o Abel e o Vukcevic lhe centravam bolas prá cabeça. Iam ver que o rapaz até nem era assim tão mau e até marcava golos. Nós temos ali um semi-Jardel em potência e não o estamos é a aproveitar’.
Silêncio. O Chaves olha para mim, sério, com a garrafa de água-pé pendurada no ar, meio inclinada sobre o copo. O Barranha desvia os olhos do rabo da brasileira e gira a cabeça para mim, numa posição sobre-humana. E de repente:
- Ahahahahahahahahahahah
- Ahahahahahahahahahahah
- Ahahahahahahahahahahah
- Ahahahahahahahahahahah
- Olha Barranha, se metesse o Purovic lá na vinha, fazia mais de cinco mil litros de vinho. Mais de cinco mil!
- E se juntasses o Marian Had, não havia pardais entre Borba e a Mealhada…
13 Comments:
eheheheh, tá boa. Mas nem duvides que o gajo está mal aproveitado... não era na vinha, era mesmo nas obras...
Muito bom. Muito bom. Isto sim, é o espírito do Natal.
Hummm, palpita-me que um destes dias temos mesmo lápis encarnado. Meszaros, modera a auto-crítica que este encarnado prepara-se para usar lápis. Eu por mim, no Natal, ofereço-lhe plasticina, pode treinar para grande sucesso no concurso de construções na areia da Praia das Maçãs - senão faz dentaduras para os correlegionários.
Deixa-me adivinhar: a 1 de Dezembro, instalaram-te uma net mais rápida, uma dessas modernices wireless, e agora, de cada vez que alguma mínima coisa acontece, tu consegues mandar o teu piropo, é isso? É que andas muito mais faladora... Vamos lá ver se esse pio todo não se vai perdendo... Deus queira que não, que não há pior do que uma mulher desiludida...
Deviam era começar a perder uns joguinhos. Podia ser que assim finalmente fizessem umas capas de jornais...
Eu também espero por isso, mas sentadinho, claro...
:) Eu adoro o José :D
Olha lá Meszaros, leste o Público e o artigo da Maria João Lopes, de 17.12.07, e por isso colocaste no teu texto um traseiro brasileiro a atender às mesas, certo? Foi para demonstrar cabalmente que a senhora tem razão, não foi? Adiante, eu no teu lugar entrava em 2008 de grande sorriso, o teu clube quando tudo parece perdido acaba por ultrapassar os vizinhos, fica vice e ainda se ri de vê-los em 4º atrás de algum Vitória, anima-te rapaz!
Elena deixa as minhas previsões em paz!Ontem, no Trio d'Ataque o cinéfilo já falava no despedimento do Camacho. Se acertar na entrada do Couceiro no SLB vou exigir às Santa Casa da Misericórdia todos os prémios do Euromilhões desde o início do ano!
vinhas
Deixa-me que lhe diga, cara Helena, que estas unhas não agarram outro jornal que não o 'dica da semana'. E o Barranha parece mesmo a Linda Blair de 'O exorcista' a torcer o pescoço sempre que aquele rabo lhe passa pelas imediações da vista.
E se o PálBente já dorme descansado porque já tem o Benfica à distância de uns rins de Luisão novamente partidos em 2, então ele que se ponha a pau porque lhe vou tocar os sinos à porta! Qualquer coisa menos que a vitória, é sempre uma derrota!!
Suponho caro huno, que o menos importante num rabo seja a nacionalidade, talvez o Barranha tenha uma visão inovadora da coisa, ou um torcícolo. Mais extraordinário é ver o desprezo verde por uma vitória moral. Às vezes algo tem de mudar para que tudo fique na mesma.
Um rabo não tem passaporte. Estamos de acordo.
Havia tanto para dizer sobre rabos...
Ups... Wrong blog... Continuem, continuem, desculpem lá...
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