Wednesday, April 09, 2008

O grande negócio da suspeição

Desiluda-se quem pensa que o Apito Dourado ou outro qualquer processo disciplinar da Liga ou Federação têm a intenção de apurar a verdade, dignificar o futebol, proceder à limpeza de imagem ou chegar a alguma conclusão, verosímil ou não.

Tal como o Processo Casa Pia ou outra qualquer mediatização judicial, estes processos servem apenas para excitar, induzir o logro, mexer com as emoções e prender a atenção no acessório e evitar as evidências. Faz parte da nossa cultura procurar uma bruxa para queimar, quando todos nós compramos feitiços e mezinhas!

Razão teve o Dr. Dias da Cunha de afastar-se de todo este circo e não aceitar o apoio da "fauna" ligada ao negócio da suspeição! Homem que tanto critiquei na altura e a quem devo desculpas porque a sua actuação afinal foi séria e no sentido de clarificar uma suspeita e não a de fazer negócio com ela.

No fundo é um grande negócio à volta de algo que foi mimado, criado e projectado ao longo dos anos. A sua manutenção apenas serve para criar e manter protagonismos que, sustentando a mentira, suspeição e brejeiros comentários, mantém os seus projectos pessoais. Com a emergência do Apito Dourado, vemos gente de toda a espécie rebolar-se de prazer nos seus próprios comentários e análises! Uns acham óbvio que ouve corrupção utilizando o “ouvi dizer” (é a tirada preferida dos hipócritas!), insinuando saber mais do que dizem, mas que nunca serão chamados a depor sobre os seus inuendos porque, de facto, são pessoas que não sabem nada e só estão ali para alimentar a suspeita. É tão óbvia a sua ignorância que o Ministério Público nem sequer as chama a depor! Do outro lado há os que juram sobre a campa de Pedroto que é só infâmia atirada ao Presidente do Porto, o que é o mesmo que deitar gasolina no incêndio. A entourage de analistas e fábricas de notícias que não esclarecem, reproduzem o que o público quer ouvir (de um lado e do outro); não informam, apenas avolumam suspeitas e lançam na arena uma série de protagonistas judiciais que, espremendo tudo, apenas consegue levar a julgamento jogos inócuos, sem uma ponta de caso para discutir mas que são agitados como uma prova insofismável.

Chega a ser cómico ver o sorriso irónico dos comentadores da arbitragem quando falam no processo com “distanciamento”, sugerindo a culpa mas isentando a classe (não me perguntem como é isso possível); é o manter o lume da suspeição aceso à noite e o não encontrar matéria de facto nas manhãs de Tribunal; é ouvir um analista desportivo dizer – 15 minutos depois da conquista do Tri – que o Porto tem de mudar a sua forma de jogar porque há 15 anos ninguém ganha a Champions a jogar em 4x3x3! E é o chorrilho das análises e perguntas cheias de comiseração à volta dos 6 pontos para cá e para lá, neste campeonato ou no próximo (processo esse cirurgicamente conhecido dois dias antes do jogo do título, deu imenso jeito ao Porto porque estas coisas galvanizam e o resultado de 6x0 acaba por ser uma epigrafe simbólica!).

Tudo isso para que? Apenas para manter o negócio e fixar uma nódoa indelével na suspeição e de dúvida, alimentado os maus fígados de quem se sente frustrado com as derrotas do seu clube, um bode expiatório para a incompetência dos adversários e para ser habilmente manipulada a qualquer altura quando o as coisas não correrem bem. Ninguém duvida de que o Porto será sempre culpado e difamado ao longo dos anos mesmo que se prove a sua inocência!

Em resumo, o processo é só para existir não é para concluir nada; ou melhor: quanto menos concluir e mais demorar melhor. A condenação deve ser um gerúndio ad infinitum. Para manter sempre presente.

Acho bem que o Porto recorra da nota de culpa até a última instância. E que a classificação da Liga fique congelada, mesmo que represente a não homologação do campeonato, impedindo as equipas portuguesas de disputar as taças da UEFA. Não será por aí que o Porto vai emperrar e tenho a certeza de que todos os associados pensam o mesmo.

Finalmente, há que esclarecer uma coisa: Pinto da Costa é um grande dirigente. Pertence a um grupo de líderes de forte personalidade e de osmose com o clube como foram, por exemplo, Borges Coutinho e Fernando Martins para o Benfica. São identidades que se fundem com a instituição, vivem-na com a paixão e investimento pessoal e por isso são reconhecidos e têm direito a ser memória. Obviamente não é um santo como toda a escola do dirigismo desportivo português das últimas cinco décadas não o é. Tirou vantagens dos momentos de contradição do futebol português, das diferenças entre o país real e Lisboa, da guerra surda entre Benfica e Sporting, arquitectando alianças tácticas conforme necessário. Criou protagonismos internos e externos que o colocaram como um intocável exemplo de dirigismo europeu; seduziu políticos com um clube ganhador e uma imagem de um novo Portugal que não tem medo de confrontar os grandes da Europa, mostrando o que a organização e o empenhamento total num projecto pode levar. Por outro lado, os jogos e amizades que criou levaram a ruína determinados clubes e projectos que foram seus aliados; criou um discurso de cisão que por vezes raiou o demente, instalando um ódio generalista a capital, tipo terra queimada. Provocou o descalabro dirigista dos principais rivais que vivenciaram presidências inócuas, sem projecto ou moral e que resultaram no nivelamento por baixo do futebol português (talvez o seu principal crime!), encarnado um modelo que os outros clubes quiseram implementar no que o Porto terá de pior; o seu portismo exacerbado levou-o à proximidade política, terreno onde usou e foi usado, onde muita gente encostou-se para a fotografia que hoje escondem no armário.

Pinto da Costa formou-se dentro do clube, aprendendo internamente todos os passos que devem ser dados na construção de um projecto. Só assim se forma um dirigente e o progresso de um clube.

Compare-se a situação de Rui costa, lançado às feras numa “boca” do Presidente dirigida aos jornalistas com o processo de “formação” do Vítor Baía e percebam quais serão os resultados no futuro!

Daqui há dez/quinze anos estará Vítor Baía com um processo às costas para tapar os olhos a quem não vence porque pensa que não precisa de organização e estratégia.



Vinhas

6 Comments:

At 5:19 PM, Blogger Metralha said...

O texto é bonito mas nunca tiveste do lado de cá a ver os sucessivos Portos - Sportings e Sportings-Portos apitados pelos calheiros e outras almas negras.

 
At 10:52 PM, Blogger Férenc Meszaros said...

This comment has been removed by the author.

 
At 10:52 PM, Blogger Férenc Meszaros said...

Certo Vinhas, certo. Numa coisa os portistas e benfiquistas são iguais: Quanto mais alto gritam os pastores, mais as ovelhas os seguem...

 
At 3:01 PM, Blogger vinhas said...

Curioso Meszaros...outros portistas acusam-me de divisionista! Não corresponder as expectativas de ninguém enche-me de confiança!

 
At 5:05 PM, Blogger Diego Armés said...

Um dia a gente ainda fala. Nunca uso os apitos para desculpar as desgraças do Benfica. Mas desagrada-me que inocentem alguém que, independetemente dos méritos - que os tem, evidentemente -, está entre a pior escumalha do futebol. E não apenas o português. PC poderia vir numa embalagem "3 pastorinhos", jutamente com Tapie e Berlusconi, por exemplo. São grandes e que grandes obras fizeram...

 
At 9:32 AM, Blogger vinhas said...

Diego,
Telhados de vidro todos temos...O que chateia é que é uma condenação eterna sem julgamento, são as provas que nada provam e o uso artificioso de escutas e dos seus extractos.
Concerteza concordarás que os jogos sob suspeição são uma anedota, que as testemunhas não tem crédito e que os especialistas chamados, tão críticos nos media são cordeirinhos no Tribunal. Mas isso de nada interessa. O processo já cumpre a sua função. Mesmo inocentado, PC será sempre culpado e ao Porto será tirado o crédito às vitórias. O processo é apenas isso.

 

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