Friday, September 19, 2008

Nem sei bem o que dizer

Confesso que ainda não prestei muita atenção a essa história do “futebol” esta época. Nem me tinha apercebido que a temporada já tinha começado mesmo, confesso. Ontem, quando um excursionista, chegadinho de Barcelona com uma camisola do Figo - metade verde e branca, metade azul e grená, metade toda branca, metade preta e azul - se chega perto de mim, eufórico, e diz “o teu Benfica ainda não ganhou esta época, pá!”, virei-me, muito calmamente, e, depois de pigarrear de modo forçado para impor respeito, disse “isso é porque a época ainda não começou, ó palerma. És um patetinha, tu. Nem para seportéimguista tu prestas...”. Senti-me observado por toda a plateia em redor. Fez-se silêncio. Paulo, o taberneiro, parou de limpar o copo e olhou-me por baixo do sobrolho; Manuel, o chefe de taberna, deixou a imperial a correr boquiaberto; uma rapariga pequenita, de olhos claros, aproveitou e meteu-se debaixo da torneira. Aparentemente eu falhara: afinal a época já tinha começado. “Ups” exclamei, com um sorriso amarelo. “Ah, já começou?” Durante os dez ou quinze segundos que se seguiram deu-se um caos ruidoso, como se numa capoeira abastada um malfeitor houvesse ceifado as cabeças das galinhas e estas, ainda quentes, ainda pulsantes, ziguezagueassem umas contra as outras emitindo sons surdos – por falta de cenas como por exemplo o bico. Mas a tentar cacarejar loucamente, num misto de pânico e de “quem é que me levou a cabeça? Quero a minha crista de volta! E é já!”. Findo o momento epical-western, Paulo, pousando o copo já limpo e lustroso, disse-me “então não vamos já para a terceira jornada, pá? Ainda agora acabámos de encher em Nápoles...” Fingi que não ouvi.
Nisto, o homem da turminha, com a sua camisola folclórica e enodoada com molho do que teria sido, seguramente, uma refeição fina – que eles nas roulottes do Campo Grande até as sandes mistas são com camembert e fiambre de pata negra; as bifanas vêm da porca da rainha de Espanha; e até a imperial é servida em flutes -, à sombra de uma árvore do Montjuic – o garrafão era de Cabeça de Burro, tenho a certeza; aquilo não me cheirava nada às selecções do Pingo Doce nem àquela pomada búlgara que eu costumo comprar no líder. Hum... perdi-me. Ora, o patetinha... ah, o lagartixo abeira-se de mim e diz qualuqer coisa... mas eu... realmente, não devia ter parado o texto a meio para ir fumar um cigarro. Esqueci-me do que ia a dizer.

1 Comments:

At 7:47 AM, Blogger Helena said...

saudades ;)*

 

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