Tuesday, September 02, 2008

Pragmáticos, Demiurgos e Românticos

Ao fim de duas jornadas já está feito o desenho do que será este campeonato: uma tensão miudinha, auto sustentada, um pouco como aquela vontade de ir fazer um xixi que pode aguentar mais uns minutos para se concluir uma tarefa.

Há uma meia dúzia de coisas que já se identificam:

1- A preocupação de todos os intervenientes em aumentar as audiências através de discursos invocando uma competitividade e qualidade semelhante a da restante Europa;

2- A desvalorização dos casos de arbitragem por parte dos media, evitando o empolamento de discussões que desvalorizam o espectáculo (claro que se exclui a SIC porque estes sempre preferiram a polémica ao desporto);

3- A preocupação com a melhoria qualitativa das transmissões televisivas como forma de atrair público e a respectiva deslocação das mesmas para fora dos fins-de-semana, tornando a bola um instrumento de valorização do share da RTP contra as novelas;

4- O silêncio prodigioso dos presidentes dos clubes, deixando aos jogadores e treinadores o protagonismo (embora já se saiba que quando os resultados faltarem lá virão os cromos de sempre!)

5- O interminável aumento de jogadores estrangeiros nas Ligas, sufocando a componente de formação e um nicho de mercado para clubes e país em geral. Pelos vistos, só vale a pena formar jogadores que rendam de 20 milhões para cima. O resto é perda de tempo.

6- O extremo cuidado com que se filmam as bancadas nas transmissões, procurando não revelar a realidade nua e crua: os estádios estão vazios e mesmo o Braga x Sporting de ontem nem andou perto de encher.

Na Frente Ocidental nada de novo: haverá 3 clubes a lutar pelo título, do qual um descolará pela Páscoa; do 4º ao 7º posto a luta será grande e provavelmente a decidir nas duas últimas jornadas. Os lugares de descida já estão entregues e está arrumada a época.

Então não há nada de emocionante? Há. Ninguém sabe quem será o campeão. Os 3 grandes estão empatados em qualidades e defeitos muito embora, na minha opinião o campeonato tenda um bocadinho mais para o Sporting este ano.

Os três grandes adoptaram estilos diferentes: o SCP o pragmatismo bentista, o FCP a Grande Loja de Jesualdo e o SLB o heroísmo idealista.

O Pragmatismo Bentista é uma coisa vinda dos anos 70, como a risca ao meio e os tacões para homem. A sua composição química contém:

20 % de autoritarismo

25% de conspirativo

35% de paternalismo

15% de clubismo

05% de ego

Neste género de pragmatismo, o bom é inimigo do assim-assim. As equipas são de combate e tem de ter espírito de missão. O sacrifício não é algo para além do possível: é uma obrigação. Não é preciso jogar bem ou encantar plateias: há que ganhar de forma estóica, abnegada, com pontapé para a bancada e toda a gente a defender. O Sporting já teve equipas de nível europeu que não deram em nada. Porque não ter uma task force empenhada capaz de arrancar títulos?

O pragmatismo bentista é isso. Tem a vantagem de ser honestamente lapidar nas declarações que faz. Ganhar campeonatos e correr a maratona é a mesma coisa. Conta a forma como se ultrapassam os momentos de desânimo.

Já o FCP está num momento Maçónico. Jesualdo rodeia-se de potenciais valores futuros e vai cozinhando-os naquele rigor táctico posicional em que os movimentos dos jogadores são como códigos, o ultrapassar a linha do meio de campo um simbolismo hermético. Os treinos são rituais de iniciação na prática do 442 que depois não se aplica, esperando a melhor oportunidade quiçá para surpreender o mundo. É inegável o valor do plantel, mas o melhor feijão e a melhor orelheira não garantam por si só uma feijoada inesquecível. Há que saber cozinhar em lume brando, juntar tudo numa harmonia própria.

A Grande Loja Maçónica do FCP já garantiu – se o petróleo não subir para os 200 USD – mais não sei quantos milhões para as próximas épocas e gordas comissões para os membros da SAD. Se estamos tão bem, porque estou incomodado? Porque sinto que a tarefa é maior do que o profeta e que tanto potencial na mão de Grão Mestre mais ousado poderia representar algo mais. Sei que o FCP está a preparar-se para atacar a Champions novamente em 2010, mas será Jesualdo o homem do avental nessa altura?

Quanto ao SLB, pois não sei. Confesso que gosto do Rui Costa e a última coisa que queria era que as coisas lhe corressem mal, quanto mais não seja para por o mentecapto do presidente na ordem. Mas depois chegam jogadores à barda, uns de valor duvidoso e outros fora do prazo. Chegam a dúzia e lá temos que decorar o nome deles todos outra vez. E novamente relançam a esperança naquele grande Benfica e não se vê aquilo ganhar vida. E mais um treinador salvador, a fasquia cada vez mais alta e a necessidade de caminha cada vez maior.

Há algo de profundamente desolador nisto tudo. Os 60 milhões que o SLB tem para o futebol chegarão? Mesmo que lá cheguem, não será o título mais caro de sempre. Há um não sei que de romântico em tudo isso, género “que se lixe o dinheiro! Vamos perfumar os estádios com um futebol superior! Deliciem-se com os nossos nomes e a origem demarcada dos nossos contratados.”

Gostava de estar mais animado este ano mas confesso que isto está mais com ar parecido com as festas de aldeia. Esperemos que o Carlos Queiroz possa dispensar toda a Federação e assuma uma espécie de Monarquia esclarecida.

Vinhas

7 Comments:

At 6:02 PM, Blogger Diego Armés said...

Tanto pessimismo, Vinhas. Olha, esta jornada, posso garantir-te que vi futebol à séria cá no burgo. E tenho olhado de esguelha a liga espanhola e a bundesliga e, garanto!, não chegam à qualidade do que vi por cá.

Quanto aos três grandes, parece-me que a análise está no ponto, sissenhoras. E concordo que a lagartagem este ano leva um pescoço de vantagem. Provavelmente, é o do Izmailov, sempre assim esticadinho...

 
At 9:09 AM, Blogger vinhas said...

É a depressão pós-férias...já estive para meter baixa! Os resumos não tem mostrado muito e algumas equipas em início de época empertigam-se. Mas sabemos que o banco das equipas do meio da tabela para baixo não seguram as equipas.

Já agora vou avisando que sou contra o castigo do Luisão. Ou há condições de filmagem de todos os jogos da mesma maneira e tem condições de controle igual em todos os jogos ou então será sempre uma punição discricionária que só atingirá os clubes cujos jogos são transmitidos. Acho que já disse isso por aí algures. Estou a repetir-me. É da depressão!

 
At 3:37 PM, Blogger Diego Armés said...

Não me incomoda minimamente. Estou em pulgas para ver a dupla David Luiz/Sidney. Além disso, se bateu, tem de ser punido. O erro não está na punição deste, mas na falta de punição dos outros.

 
At 4:50 PM, Blogger vinhas said...

Já em relação a interdição do estádio era de ponderar. Não tanto pela "invasão" do velhote mas por ser o único clube que ninguém pune pela utilização de tochas e "very-lights" de forma sistemática.
A agravar esta questão é o facto destes nunca poderem ser detectados na revista porque já lá estão.

 
At 5:32 PM, Blogger Diego Armés said...

O único para além do Dragão, Alvalade e Afonso Henriques...

 
At 3:59 PM, Blogger vinhas said...

Mas todos sabemos que pirotecnia na mão dos benfiquistas acaba mal...

 
At 4:27 PM, Blogger Diego Armés said...

Hum... Olha que eu não entrava por esses caminhos da piada foleira com assuntos sérios. Especialmente, quando se tem telhados de vidro. Mas, se queres pegar no indivíduo para qualificar o todo, nomes para vos chamar não me faltam...

 

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