Era Março de 1994 e eu, sendo já apaixonado pelo futebol - na altura era até um saudável praticante... -, ainda não descobrira "mesmo" o que porova o transe de multidões nos estádios de futebol, o que faz vibrar o povo, o que unifica indivíduos desconhecidos, eventualmente antagónicos ou divergentes no seu dia-a-dia, em loucas celebrações na Avenida da Liberdade, como se fossem irmãos e como se importassem realmente um ao outro, uns aos outros.
Foi em Março de 1994 que me iluminaram. Eram os quartos-de-final da Taça UEFA e o Benfica empatara, na 1ª mão, em Lisboa (na velha e tão saudosa Catedral), a uma bola. A equipa entrou em campo contida, tentando controlar minimamente os acontecimentos e esperar pela oportunidade para, com um golito, sentenciar a partida. Acontece que o Leverkusen era uma equipa que desabrochava no futebol europeu - no início de um percurso que culminou com uma derrota na final da Liga dos Campeões, frente ao Real Madrid, há uns aninhos atrás; desde então, desvaneceu-se -, perigosa e com bons valores individuais - julgo que o nome mais sonante na altura seria Lars Ricken. Resultado: o Benfica começa a perder 1 a 0 e a estratégia mantém-se: contenção, afinal de contas se marcássemos um golo tínhamos prolongamento e, chegados a essa etapa, a obtenção de um segundo dar-nos-ia a eliminatória; a manutenção do resultado daria penalties. Mas qual quê! Ainda nem o cicerone tinha mudado a placa com os números, já estávamos a levar o segundo. Foi então que eu pensei "epá, isto é bom! Assim é tudo ou nada, temos que ir para cima deles!". O resto da história já toda a gente sabe: um hino ao futebol, 8 golos num jogo (90 minutos!...), incerteza no marcador até ao minuto 90, o público em delírio, os jogadores como heróis num campo de batalha, lutando até ao último milímetro do campo, até ao derradeiro esforço. Kulkov terá assinado, muito provavelmente, a sua melhor exibição de sempre, completada com dois golos. Um maestro, um autêntico maestro! Nesse dia eu senti "a fé". Não sabia porquê, simplesmente sabia, sentia, que o Benfica ganhava a eliminatória. Mesmo depois de estar a perder 2 a 0 e 3 a 2 e 4 a 3. Nesse dia eu percebi por que razão as pessoas se exaltam e se comovem com o futebol e com a sua clubite - daí que eu não compreenda a "mudança de clube" (Vítor, és uma tristeza...).
Agora, o que poucos recordarão é o nome do jogador que espoletou todo este processo, a reviravolta, a revolução de Leverkusen: precisamente a nossa musa inspiradora, Abel Xavier, com um pontapé magífico, a 30 metros da baliza, sobre a direita, com o pé cheio. Puuuumba! Mais tarde, deixou de atirar bombas e começou a tomá-las. Chamam-lhes Dianabol. Designação que, aliás, sugere um desporto praticado em sítio a definir em que uma gaja chamada Diana faça de "bola", por exemplo. Ou então que faça de stick. Mas isto são só ideias tontas. De repente, ocorreu-me a utilização da Diana Chaves. Não deixa de ser curioso que, logo de seguida, me tenha lembrado que a "bola" dos nossos dias já se tenha cahamado, em tempos remotos, de "pelota"...