Wednesday, March 18, 2009

A Coisa Carlsberg

Há textos que não vale a pena serem escritos. São perda de tempo. Tenho aqui no meu ambiente de trabalho sete folhas de texto do Winword™ que mais não são do que investidas sem destino, começadas previsivelmente com “Não sei se o Quiquer vai ler isto”, boçalmente com “Se Carlos Paião escreveu a Meia-Dúzia, o Polga escreveu A Dúzia”, lamentavelmente com “Lá se foram 100 euros em apostas”, entre outras banalidades, socorridas de advérbios de modo, que nenhum interesse têm para o indigente leitor-padrão de blogues de futebol ou de crónicas do José António Lima.

Este texto terá, relativamente aos outros, uma única característica excepcional: já vai em mais de duas linhas. Não posso, porém, deixar de o escrever, visto tratar-se de um tema que muito me melindra. Falo da Taça Carlsberg, aquele instrumento bifuncional que, de frente, serve para enfeitar a vitrine dos troféus; de costas, serve para tirar imperiais fresquinhas.

Vamos por partes: o que é um “taça”? O dicionário online classifica “taça” da seguinte forma: “do Ár. tasa < Pers. tasht - s. f., vaso para beber, de boca larga e pouco fundo; copo; objecto, geralmente em forma de taça, que se oferece como prémio.” O dito objecto da Carlsberg não é uma “taça”. Serve para beber, sim senhor. Melhor: serve o bebedor, que dali extrai, por via da torneira, a cerveja que lhe cairá no copo – no “copo” e não na taça, em seu sentido lato, porque será fundo e de boca estreita este vaso de beber. Portanto, aquilo da Carlsberg não é uma “taça”. Um troféu, vá lá. Uma “cena”. Um “coiso”. O Benfica e o sportém vão disputar a final daquela Cena da Liga ou daquele Coiso da Liga. Não da “taça da Liga”...

E depois, isto de chamar “taça” a uma coisa da Carlsberg não é de bom senso. Fosse Dom Pérignon ou Moët et Chandom e até se percebia – embora, dizem os entendidos (malta do sportém que a gente no Benfica só bebe vinho tinto e uma outra coisa de que já vou falar lá mais para a frente), o “vaso de beber” o champagne deva ser uma flute (os novos-ricos é que se habituaram às “taças de champanhe francês”, fruto dos hábitos de gerações e gerações a beber água pé pela malga) – uma vez mais, o copo fundo e a boca estreita, para as bolinhas não saltarem para fora do copo e cumprirem com a sua função de nos fazerem cócegas na ponta do nariz, que é uma das cenas que o vinho espumante que eu bebo na passagem de ano faz. Isso e brindes. É para isso que serve o espumante. A Carlsberg serve para beber quando não há Sagres. Ups. Já falei no assunto.

Eu tenho de começar a organizar a porra dos textos por tópicos antes de começar a escrevê-los directamente no Blogger™. Senão isto assim não tem leitura nenhuma. Uma pessoa perde-se, embrulha-se, desmancha punch-lines, arruina surpresas, antecipa desenlaces, enfim... Não nasci para a literatura, definitivamente.

Ora a Sagres... eu tinha isso aqui num post-it.

Cá está, encontrei. Ui, tem a ver com um dilema... Eu, realmente... quando uma pessoa se desliga do futebol, passa a ter umas ideias existencialistas e não sei quê... Que tristeza.

Ora bem, o meu problema aqui é do fôro moral: que cerveja devo beber no sábado, enquanto vejo a final do Coiso da Liga? Há uns dias, quando aqueles de Guimarães cá vieram desfazer-me as fantasias, eu disse para comigo “Diego, tu, até ao fim deste campeonato, não tocarás mais vez nenhuma em Sagres... tu bebes mas é Carlsberg” e dei mais um gole na mine. Falando verdade, foi a mine Sagres que me animou o resto da noite, sem que eu tivesse dado conta disso. Força do hábito, lá está. Uma pessoa vai ao balcão do Lebre e não pede “uma carzbér, fáxavor”. Um gajo não se chega à Típica e diz “ah, guarda lá a Sagres... hoje quero carzbér”. Há uma reputação, um status, em cada tasco que nos acolhe, semana após semana, ora para ver a bola, ora para festejar, ora para afogar mágoas. Uma pessoa não pode ser vira-casacas. Isto são tudo pensamentos que tive no domingo, para me consolar do desconsolo que me causou ter constatado que, depois de ter decidido abandonar a Sagres, não consegui forçar e vergar a força dos hábitos que carrego comigo.

Porém, estes pensamentos não foram apenas fruto da minha auto-desilusão momentânea. Foram, também, reflexo de uma luz mais sóbria (na segunda-feira). Uma luz que me faz perguntar (hoje, que ontem não me tinha lembrado disto) “a quem devo mais respeitos? Quem me merece mais lealdade? O Benfica ou a Sagres?”. Estivesse eu rodeado por dez garrafas vazias de mini Sagres e a resposta seria líquida e espontânea “ao Grande Glorioso” e, então, decidiria nesse mesmo momento e enquanto virava mais duas minis que, de então em diante, só beberia Carlsberg. Mas aqui, numa sala austera e livre dos benefícios do álcool refrescante, sou uma pessoa racional, fria e sem paixão. Afinal de contas, nos últimos anos, quem me deu mais alegrias? O Benfica ou a Sagres? Vou mais longe: nos últimos anos, quem mais fez pela minha paixão e pelo meu fervor benfiquistas? O Benfica? Ou a Sagres? A resposta é rápida – contém apenas 20 centilitros.

Versão ilustrada aqui

Tuesday, March 10, 2009

O pior de tudo...


é já nem poder gozar com Vigo...

Wednesday, March 04, 2009

O momento é grave!

Deixemos de lado as desavenças, as lutas e ódios.

Diz-se que a humanidade nos momentos de grande catástrofe se solidariza, ignorando as diferenças.

Este é o caso.

Mesmo o mais azul dos portistas não pode – não deve – esconder que é demasiado atroz, quase inumano o que se avizinha.

Uma ópera dos UHF?! Nem o Porto no alto do seu maquiavélico comportamento é capaz de tão grande violência contra o inimigo.

É por demais insuportável e cruel.

Ainda por cima uma ópera rock!

Não podia ser um faduncho, uma marchinha, uma coisa de 3 minutos que uma pessoa aguenta sustendo a respiração.

É assim que querem atrair público para o estádio?

Pode ser uma boa medida porque estou a ver as equipas adversárias a recusarem jogar na Luz se a tocarem, alegando crueldade e atentado aos Direitos Humanos. Para o Benfica seria bom ganhar todos os jogos em casa por 3 a 0.

Não podia fazer o voo da águia Vitória por Providência Cautelar da SPA (Sociedade Protectora dos Animais) e com razão que isso não se faz aos bichos!

Os adeptos deixam de levar bandeiras e cachecóis para levarem mochilas pejadas de Aspirinas e Gurosan; deixam-se de vender bifanas substituídas pelo algodão e tampões para ouvidos.

Não, antes Sodoma e Gomorra.

Por favor, impeçam a utilização indiscriminada da tortura. Pensem nos jovens, nas mulheres grávidas ou com filhos de leite!

Façam alguma coisa para impedir que António Manuel Ribeiro provoque uma catástrofe!

Ok, rendemo-nos, entregamos o título já mas não façam isso, por favor!

Vinhas

Tuesday, March 03, 2009

Pequenos esclarecimentos a certas dúvidas e equívocos de MST

Já vinha ficando desapontado com os meus três “cronistas desportivos” favoritos. Pior: já começava a prestar atenção às patetices de António Tadeia (aquela teoria acerca de uma mirabolante lei do fora-de-jogo, aqui há umas semanas, ficará na história...), a amesquinhar as notas futeteorísticas do Freitas Lobo, a tentar traduzir para português o que Vieira Pinto emite com esforço, a procurar com avidez uma análise, uma linha que fosse, do Querido Manha, entre páginas e páginas de crimes e acidentes no Correio da Manhã... a verdade é esta: sem Rui Santos, António José Saraiva e Miguel Sousa Tavares em forma, a alimentarem-me o intelecto, eu não suporto o tédio deste futebol da era Mourinho.

Foi então que, por entre o nevoeiro, surgiu este último, provavelmente após ter inalado aquilo que o Rochemback e o Derlei inalaram aqui há uns dez dias atrás. É que se trata de uma exibição de luxo, meu povo. Não do González. Luxo patético, ao melhor estilo de MST, himself, igualável apenas por ele próprio.

Começo por registar uma questão inquietante deste ser... Não sei como classificá-la. Ok, já a classifiquei de “inquietante”. Mas isso é para ele. Refiro-me a classificá-la na perspectiva do comum dos mortais. Ora, atentai: diz Miguel, cento e cinquenta ou cento e sessenta ou mais, sei lá... quase duzentos anos depois de os ingleses terem dividido aquele desporto medieval em dois – um com uma baliza limitada por cima e jogado com os pés; outra com um goal passível de ser obtido ora cruzando a linha fatal com a bola em seu poder, ora fazendo a bola passar por entre o prolongamento infinito dos dois postes estacados no chão, sobre a linha da possibilidade anterior – dizia eu, quase duzentos anos depois da invenção desta coisa magnífica, quase sessenta anos depois de Otto Glória e Bella Gutman, quase trinta anos após a chegada de Eriksson, quase no fim da carreira de Sacchi, quinze anos depois da intervenção de Cappello, 6 anos depois do primeiro de Mourinho... Alongo-me. Pergunta, inquieto, Sousa Tavares, “por que não treinam [os jogadores da Liga Sagres, com especial enfoque para os atletas do Leixões] mais os remates?”. Vale pôr smileys? Agora eu punha aqui aquele assim :-/

Há que sublinhar que Sousa Tavares leva uns bons 900 caractéres até chegar a esta conclusão com pergunta inconclusiva e de origem meio demente. Corrijo: bem demente. José Mota, toma nota: treinem mais os remates, pá. Vá lá. Acho que é isso que vos está a faltar... E os outros também. Vá, tudo aí a chutar à baliza. O que mais me surpreende é que, quase duzentos anos depois da tal invenção do futebol, seja preciso um atleta de poltrona, praticante de Transibérico ao volante de um Patrol, chegar-se à frente e descobrir a pólvora! Ainda para mais quando no andebol, no basquetebol e no hóquei em patins já se treina disso há anos e anos, com os resultados que se conhecem. Estou em crer que, após esta brilhante sugestão de Miguel Sousa Tavares, passemos a ter jogos de 12 – 17, 24 -15, 14 – 14, goleadas de 32 a 11, empates a 20 golos, melhores marcadores com 275 tentos apontados. Os recordes de Eusébio, Gomes, Yazalde ou Jardel serão pulverizados ainda antes do final desta época. Até o Nuno Gomes é capaz de chegar aos 20, estou convencido – basta que “treine os remates”. Claro... Há coisas tão simples, mesmo debaixo do nosso nariz, e a gente não as vê...

Enfim, adiante. Lá mais para a frente – digamos, dois whiskies velhos mais à frente... -, Miguel, interpretando o papel de “ele próprio” com o empenho, a classe e a arte que se lhe reconhecem quando veste a pele do Marquês de Mafra (bela terra, bela terra...), vasculha a algibeira em busca de mais qualquer coisa brilhante e pertinente para dizer. Não encontrando, lança, enigmático e com dificuldades na fala, “já REPARAM (sic) que nunca é o FC Porto a lançar polémicas prévias e a excitar os ânimos antes dos grandes jogos?”. E aqui punha aquele outro :-o e, seguidamente, perguntava “ó Miguel... estás a falar a sério?”. Não. Evidentemente não está. Mas o Miguel é assim. Enquanto bota abaixo a sua anestesia de Cardhu – para se inspirar, por um lado; para esquecer o que escreveu no dia anterior, por outro -, gosta destes pequenos teasers, destas brincadeirinhas xonés, destas provocações patetinhas, daquelas que depois, de surra, entre amigos e baixinho, dá para perguntar, sorrindo com alarvidade “tájaber o que eu escrebi? Táj?”. Miguel, bebe e cala-te.

Mas Miguel, o patetinha esperto, não pára aqui. Eu disse que ele tinha inalado uma substância qualquer, conhecida no submundo dos drogados como “cocaína”, lá no calão deles. Ou então foi o Cardhu que lhe caiu mal. Agora, que o homem não estava bem, lá isso não estava – eu estou desconfiado que, depois de frustrada a “goleada” ao Atlético de Madrid e, ainda por cima, frustrada também a repetição do enxovalho alemão ao sportém, ao Miguel caiu-lhe mal foi o facto de os jogadores do folcuporto andarem, talvez, a treinar pouco os remates... Jesualdo, antes de passares a pasta ao Jesus, deixa-lhe uma nota no quadro do balneário: “treina mais os remates”.

É que o mau fígado (pudera... até o meu tem mais saúde) fez com que Sousa Tavares se atrevesse a delirar delírios que, em delírios seus anteriores, se atreveu a escarnecer. Falo, como está fácil de ver, da “conspiração à la Vieira”. Se não, veja-se o que “escreve” (eu julgo que ele aqui já ditava e quem escrevia era a empregada...): “bla bla bla (...) a goleada ingloriamente desperdiçada em Madrid, por erros próprios e por força de uma vergonhosa arbitragem decerto encomendada pelo senhor Platini” – o Miguel não se conforma com o facto de Platini não apreciar batotas e batoteiros e faz questão de mostrar ao mundo esse ressentimento. Como, aliás, no final do texto, fazendo uso da alfinetada de estertor – aquela apontada ao coração do adepto benfiquista que, se não se chamar Diego Armés, se estará positivamente cagando para o que Miguel dita – se encarrega de demonstrar.

E que alfinetada é essa? Ora, mais que visto, repetido mil vezes, “adivinhar” já nem é termo que se aplique: o Benfica e as competições europeias. Inovador, sem dúvida – o Cardhu fá-lo assim: ora inventa estratégias de treino; ora se reinventa em estratégias literárias de provocação, algures entre o energúmeno e o boçal. Mas sempre com o seu toque inconfundível de espírito menor. Duvidais? Constatai com os vossos próprios olhos. Alega o Miguel, devaneando e soluçando – aposto que já soluçava -, que o folcuporto, na Champions, e o folcuporto B, na UEFA, deveriam aguentar-se um pouco mais bla bla bla “ranking bla bla bla Portugal a ser ultrapassado pela Ucrâniabla bla bla para que outros [clubes], como o Benfica, não tenham de entrar na Europa arrombando a porta da secretaria” – perceberam a parte da demonstração do ressentimento face à perseguição de Platini aos batoteiros? Está aqui, implícita. Na mitologia sousatavariana, Platini é a encarnação do Benfica. Isto é, o adversário. O inominável (Platini é uma designção abstracta, evidentemente...). Aquele que nos quer mal. O sujo. O pulha. Vale a pena perguntar porquê?