Off-topic. Ou, como me borrifo para o clássico
Nunca tive paciência para treinadores. Desde os meus instantes iniciais de sportinguismo consciente que faço piretes (de forma digna e elegante, não de forma marrecamente dissimulada, como fazia o dirigente José Veiga em momentos de elevação), insulto e protesto contra os treinadores do Sporting. Foi assim com o uruguaio Gomes, com o fleumático Burkinshaw, com o falecido Morais e com tantos outros que, de forma corriqueira e usualmente infrutífera, tentavam fazer crer que seriam eles a carregar apoteoticamente o ceptro ostentado um dia pelo louco Allison.
Em vão.
O odor a inépcia é mais intenso que o cheiro a merda. E era vê-los tremer ao entrar na 10A, ao saberem que cada gesto, cada movimento e cada decisão seriam escrutinados e julgados pela exigente turba de Alvalade. Cada arritmia, cada engasgo, cada trago em seco, cada golo de baliza aberta falhado eram claros sinais de debilidade. E os fracos, pfff… os fracos, meus senhores, vão para o outro lado da segunda circular.
Isto da idade é um fenómeno engraçado: Sem darmos muito bem conta, de repente, apercebemo-nos que aqueles litros de cerveja todos afinal não escorreram pela urina e instalaram-se ali bem por cima do cinto; as rabanadas de vento começam a ser o maior inimigo daquela outrora gadelha que fazia inveja ao Jorge Jesus; vemo-nos a insistir, nos limites da violência física, para ficarmos enterrados no sofá diante da televisão num domingo á tarde para ver o ‘EuroNico’ na RTP Memória; e até já somos capazes de ouvir uma música quase inteira da Filarmónica Gil. A idade exalta uma revolução interior, mas ao contrário.
Posso não saber se apachorrentei, se letargiei, se a ideade me tornou mais paciente, mas a verdade é que me vejo no desconhecido papel de apoiar o Pálbente, enquanto toda a gente à minha volta começa a opinar que se calhar já é tempo de pôr o homem a limpar o cacifo. Tudo por causa da ‘crise desportiva do Sporting’, dos maus resultados, de não vermos melhoras, da equipa jogar quase tão mal como o Benfica mas com o inconveniente de marcar muito menos golos estúpidos, blá blá blá.
Não sei muito bem como se faz, portanto desculpem lá a minha falta de experiência nisto, mas vou tentar defender um treinador de futebol (as minhas únicas investidas nesse sentido foram muito pouco convincentes e absolutamente inúteis pois tanto o Inácio como o Jozic acabaram rapidamente no olho da rua): Ora eu não acredito na desaprendizagem. Acredito na estagnação, no conformismo e na incompetência. E na filha-da-putice. E penso que o Pálbente, não reúne nenhum destes requisitos para lhe darem corda aos ténis.
Da mesma forma (e até por isso) como se assume a aposta nos jovens da academia como elemento chave na sua política desportiva, o Sporting decidiu investir num treinador sem nenhuma experiência de alto nível. Apesar de num clube como o Sporting se exigirem resultados, a aposta no Pálbente teve em conta (ou penso eu que terá tido) a necessidade de crescimento e de formação. O mesmo processo de amadurecimento que se deve facilitar aos miúdos e a protecção que lhes deve ser concedida, dentro dessa perspectiva de crescimento, deve ser proporcionado também ao treinador. Pálbente não passou por um processo evolutivo completo. A sua evolução está a acontecer agora.
E o Pálbente tem evoluído: Não é vulgar vê-lo insistir nos erros e mesmo a nível táctico tem demonstrado a flexibilidade que aquele cão d’água o acusava de não ter. Pálbente é, como uma pessoa inteligente, permeável sem ser despersonalizado, flexível sem ser banana. Exige, protege, enfrenta e ganha o respeito. E assume, dá a cara quando tem que dar, sem se queixar de ter uma equipa de apenas 9 jogadores.
Sejamos claros: O Sporting, com a venda/perda/deserção de 4 titulares e meio (o meio é o Alecsandro), mais o Carlos Martins - todos eles jogadores feitos, 5 deles internacionais pelos seus países - assumiu/ contraiu um risco. E a política de contratação mais não fez do que fazer escalar esse risco a níveis vertiginosos, com a contratação, para os seus lugares, de miúdos e refugo com poucas ou nenhumas provas dadas nem traquejo para estas andanças.
O treinador tem trabalhado a equipa, mudado esquemas tácticos, rodado jogadores, demonstrado ambição. Mas não é o treinador que define a política de contratação.
Também eu quero ganhar. Mas não acredito que mudar de treinador, apenas para mostrar insatisfação, seja alternativa. O PálBente poderá não ter a solução mágica, mas não é definitivamente o problema.
Espero que tenham gostado da forma magnânime com que caguei de alto para a champions, para as vitórias morais dos futuros campeões nacionais e, em breve, do Mundo e para os proféticos banhos de realidade dos que pensam que o Jesualdo Ferreira é um treinador de futebol. E sobretudo, como caguei de alto para o clássico. Como se tudo isto interessasse para alguma coisa…