Thursday, January 20, 2011

Mudança

De agora em diante, os meus textos podem ser lidos AQUI NO 227218.

Thursday, August 19, 2010

Chega de saudade

Há jogadores que valem o seu peso em ouro. César Peixoto vale o seu peso noutra substância. Sim, em merda. Cada precioso graminha.
Ah!... Vocês não imaginam as saudades que eu tinha de escrever um texto a enfiar os dedos escarafunchantes nas feridas do Grande Benfica. A época passada foi um tédio: tudo me encantava, era uma beleza de futebol, ganhávamos a toda a gente… Saíamos da Luz após um 4 a 0, encolhíamos os ombros e dizíamos uns aos outros “ah pá, caga nisso… para a semana corre melhor”. Esta situação não só cria maus hábitos como estabelece inibições e retira a inspiração literária. O mau, o negativo, a falha, o erro, a queda, a lama no rosto: é aí que a inspiração nasce. É na poça viscosa e húmida que germinam as grandes ideias sobre o mundo da bola. Não é no palanque onde se recebem as medalhas de ouro – se tudo tivesse estado sempre bem, ainda hoje jogávamos em WM. E, se calhar, até nem era mal pensado, já que não temos alas.
Voltemos ao busílis – não é o pobre do Peixoto, aquilo foi apenas uma rentrée de pé em riste: qualquer adepto de qualquer clube do mundo pode fazer grandes e vaidosos textos, cheios de brilho e de humor, acerca das suas vitórias e conquistas. De qualquer clube do mundo que não o Benfica, como é evidente. Um benfiquista orgulhoso é, em tripeiro, “um caralho dum filhadaputa arrogante com uma espéce de rabanete enfiado na peida”; em campograndês, “um tipo insuportável”. Isto é uma situação chata. Um benfiquista só é um gajo porreiro quando perde e, mais ainda, quando tem poder de encaixe para as suas derrotas (por mais imerecidas e manipuladas que, escutada, alegada e apenas supostamente, possam ser). Portanto, um benfiquista vencedor é um benfiquista a quem é concedido um único direito na civilização: o de se remeter ao silêncio, cabisbaixo como se merecesse uma descompostura por causa disso, de ganhar – onde é que já se viu? Um benfiquista ganhar, esta agora…
Ora, eu sou muito benfiquista, sim senhor, e quase nada me dá mais prazer do que ganhar. Mas não me lixem, ficar um ano em silêncio é uma coisa que me custa. Portanto, e antes que o Jesus descubra como pôr aquela gente a golear de novo, vou aqui aproveitar esta pequena clareira de derrotas. Vou criticar as opções tácticas, claro está; e as técnicas; e o Roberto, que, usando a currência do Peixoto, vale metade do seu próprio peso.
Que bem que isto me sabe. Desde Setembro passado que não escrevia assim, tão leve.
Ora, a táctica. Há aqui certos detalhes que importa relembrar ao Jorge Jesus. Como diria Freitas Lobo, a táctica não é uma fórmula; é uma conjuntura, um sistema de posicionamentos, gestos e atitudes que, dispostos de determinada forma, à partida, permitem que uma equipa desenvolva o seu jogo (ou evite ou contorne o do adversário). Ora, o jogo da bola envolve muitos elementos, onze dos quais altamente voláteis, uma vez que são humanos; outros 11 que são esquivos, mentirosos, repugnantes, falsos como Judas!, uns assassinos e, algumas vezes, desumanos; mais três que são pagos pelo lado negro da humanidade; e a bola que, conforme o vento ou a chuva, o sol, o frio ou o calor, rola ora assim, ora assado, esvoaça mais para aqui ou mais para ali, escorrega desta mão ou das duas do Roberto. O que eu queria dizer ao Jorge Jesus é que a táctica do 4-4-2 não é melhor nem pior do que a do 4-3-3 de uma forma absoluta. Contudo, tendo em conta a actual conjuntura, há que identificar e analisar as pessoas de que dispõe o alourado mister. Depois disso, optar pelos jogadores que permitam à equipa uma maior robustez. Depois disso, adaptar o esquema táctico, o desenho de jogo, a estratégia (chamem-lhe o que quiserem) aos onze que subirem ao relvado. E, não menos importante: antes de tudo isso, pintar o cabelo de grisalho e meter outro gajo à baliza. O ano passado deu sorte.

Friday, July 30, 2010

On the record

-O Jorge Goulão, pá... É cá uma estrela do comentário. Percebe tanto de bola como o Luís Campos.
Côro: ahahahahah...
-E o Pedro Henriques? Meu Deus... a defesa esquerdo fazia-me lembrar o Luís Filipe - mas duplamente canhoto!
Côro: ihihihihih...
-E o outro palerminha, de quem ninguém sabe o nome? O gajo tenta sempre ser engraçado mas é pior que o Nilton!
Côro (em lágrimas): ahahah... uhuhuhuh...
-E ninguém lhe liga nenhuma...
Côro (a rebolar no chão a rir): AHAHAHAHAH...

Pronto, vá de publicar isto no site do Benfica. Olho por olho, dente por dente.

Monday, July 26, 2010

Teoria da conspiração: a vingança fria do guarda-redes

Tenho tentado compreender isto da contratação de Roberto, aquele guarda-redes do Benfica. E eu acho que isto é tudo uma grande farsa! Estamos perante um daqueles casos intrincados em que pouco do que parece, realmente é.
Vamos por partes: no início tínhamos o Quim. E não o queríamos. O Quim decidiu regressar a casa. Raciocinemos: o Quim chega a custo zero ao clube presidido pelo ordinário do Salvador, capacho de Pinto da Costa, invadido e subjugado por tripeiros. Isto é suficientemente mau. Mas não pára aqui: o Quim regressa, de borla, ao clube que detém o passe do guarda-redes que o Benfica quer: esse mesmo, o Eduardo, que custava 4 milhões e meio de dinheiros ou de contos ou de euros ou lá o que era.
Os benfiquistas, que no tempo do Quim no Benfica nada tinham contra o Eduardo, a partir do momento em que o Quim passa a ser do Braga – à borla! -, passam a ter, potencialmente, 4 milhões e meio de coisas contra o guarda-redes da selecção nacional. Contratar o Eduardo, pagando ao Salvador uma pipa de massa e oferecendo-lhe ainda o Quim, simplesmente não seria tolerado pelos adeptos do Campeão de Portugal.
Solução? Desistir do negócio. Como? Alegando que “Eduardo é caro”. Isto é público? Não. Fica subentendido. Mas, como assim “é caro”, se o Benfica acabou por pagar 8 milhões e meio de coisos pelo espanhol? Aqui está mais um segredo à espera de ser desvendado. Raciocinemos de novo: uma coisa é “cara” quando o seu valor em notas não corresponde à qualidade que lhe reconhecemos ou à falta que nos faz, certo? Certo. Então, se o Eduardo era “caro” e este Roberto “não era caro”, apesar de custar quase o dobro do que custara Eduardo, estaríamos aparentemente perante: a) uma contradição (e de um erro de julgamento), ou b) uma provocação (a Eduardo e ao Braga). Eis o que concluí: o caso é que o Roberto, depois da sua boa época em Saragoça, era rapaz para custar, mais troco menos tostão, o que custava o Eduardo. E, se assim fosse, o pagamento de 8 milhões e meio pelo Espanhol passaria a fazer todo o sentido. Porque, desse modo, ficava demonstrado que o Benfica queria um grande guarda-redes, não se importava de pagar bem por ele, mas que achava que o Eduardo não valia os tais 4 milhões e picos. Se o Roberto tivesse na etiqueta o mesmo preço que o Eduardo, haveria de vir algum atrevido contestar a contratação e dizer assim “oh, então para isso comprávamos o outro”. Encarecendo o espanhol, a coisa faz mais sentido porque se tende a inferir que, sendo 4 milhões mais caro, há-de ser, pelo menos, 4 milhões melhor. Vale a pena chutar um camião de notas de conto para o Vicente Calderon.
Agora, sabendo que o Benfica pagou por Roberto um preço claramente inflacionado, só de maneira a justificar a não-contratação do Eduardo ao tal de Braga que é aprendiz de portista e que ficou com o Quim a custo zero, havia que recuperar algum do investimento “extra” aplicado em toda a operação e em nome do bom orgulho e da honra benfiquistas – a causa é nobre, convenhamos, e é bom não esquecer isso.
É sabido, também, que o Benfica tem vindo a ganhar, nos últimos anos, dinheiro de boas cores às custas do seu muito bom público: as quotas estão em dia, os sócios são alguns 200 mil e as bancadas estão, se não cheias, muitíssimo bem preenchidas. Também se sabe que isto do Benfica, sobretudo no pico do Verão, vende camisolas que é como quem vende pãezinhos quentes. Vêm famílias e famílias lá da França, da Suíça, do Luxemburgo e do Canadá, para lambuzar e encher de dedadas a estátua de Eusébio, para tirar fotografias com o Nuno Gomes e, enfim, para filmar o voo da Águia Vitória naquele momento que será recordado entre família como “opá… il été tão jóli”. Portanto… quem foi o reforço mais sonante? Gaitán? Jara? Talvez um deles. Mas o mais caro foi Roberto. Há que promovê-lo. Há, sobretudo, que rentabilizá-lo.
O Benfica, e quem conhece o clube sabe do que falo, sempre foi casa de gente ora impaciente e ultra-exigente (vejam-se os tratamentos a que eram recorrentemente sujeitos Quim e Van Hooijdonk - ou até Cardozo, por vezes), ora condescendente e cheia de todo o tempo do mundo para um dia fazer daquilo uma equipa de jeito (casos de Quique Flores ou de Tiago, finalmente juntos no… Atlético Madrid… coincidências). Isoladas, estas facções valem muito pouco. Porém, frente-a-frente, são uma multidão explosiva. E, quanto mais uma cresce, mais outra se agiganta.
Agora, temos um guarda-redes, com créditos meio obscuros; mas que é grande, é novo e deixou saudades no clube anterior; e que custou 8,5 milhões de euros. Que tal pô-lo a encher bancadas e a vender camisolas do clube? É que o benfiquista é um ser de grandes convicções – e a história do clube comprova-o. E se 30 mil eram capazes de ir à Luz para aplaudir e dar força e pedir tempo por Roberto, outros 35 mil eram meninos para levar cartazes, lençóis e lenços brancos para o guarda-redes. É casa cheia garantida, daqui até ao fim da época por gente de opinião – que opinião… certeza! – oposta quanto às qualidades do homem. Haverá ainda muitos que comprarão a camisola 1 em sinal de apoio incondicional!
Roberto está, no fundo, a deixar entrar frangos (de pré-epóca; quando for a sério, estou convicto de que a coisa muda) só para o Benfica fazer dinheiro para compensar o que pagou a mais ao Atlético para poder justificar a desistência da compra de Eduardo ao outro mafioso lá do Braga. E tudo por causa de quem? Do Quim.

Friday, December 04, 2009

Cenas que eu penso disso do Mundial

Gurpo A: França com caminho aberto, sendo o México o melhor adversário. África do Sul como cabeça-de-série e Uruguai como representante sul-americano não oferecem resistência. Mais uma vez, as mãos nas bolas a beneficiarem os franceses.

Grupo B: Argentina favorita, mas com Grécia e Nigéria como potenciais surpresas (ou não); Coreia do Sul é uma incógnita. Em 2002 também não prestavam e...

Grupo C: Quanto a mim, o mais fraco dos grupos. Inglaterra, ainda que em forma, é o mais fracos dos cabeças-de-série (exceptuando África do Sul). Estados Unidos são medianos; Eslovénia pode passar à segunda fase e Argélia não parece ter pedalada. Ainda assim, grupo equilibrado.

Grupo D: Alemanha em clara vantagem num grupo que tem duas equipas – Sérvia e Gana – a lutar pelo segundo posto de apuramento. Austrália é claramente underdog e só uma grande surpresa poderia apurá-la.

Grupo E: Muito equilíbrio num grupo sem “tubarão” nem “underdog” claros, embora o Japão se apresente, à partida, como a mais fraca das equipas e a Holanda tome a vantagem no primeiro pirôpo de bancada.

Grupo F: Itália com passadeira vermelha num grupo em que o Paraguai pode fazer brilharete. A Eslováquia não terá vida fácil. Nova Zelândia é, provavelmente, a pior das 32 equipas.

Grupo G: Quando o Brasil integra um grupo, o favoritismo está imediatamente entregue. A Costa do Marfim tem bons nomes, mas não me parece assustar. A Coreia do Norte é um adversário sempre apetecível – embora seja sempre uma incógnita uma equipa que ninguém viu jogar. Portugal tem obrigação de passar.

Grupo H: Oh não, afinal ESTE é que é o mais fraco dos grupos, com a campeã europeia Espanha a poder rodar os 23 jogadores. Honduras? Tenho uma vaga ideia de onde fica. O Chile é aquele fininho nas costas da Argentina, não é? Pois. A Suíça, como em tudo na vida, é neutra. E isso pode ser decisivo.

Sunday, November 15, 2009

Ai, minha Nossa Senhora. Ou, o Luís Campos não estava disponível?

‘Quando pensas que nada pior te pode acontecer, pode sempre um pássaro cagar-te em cima’.

Tenho andado todo o dia com a cabeça às voltas a tentar encontrar uma justificação para a contratação do Carvalhal. Só vejo uma razão: O treinador do Sporting para a próxima época já está contratado, ou pelo menos, apalavrado. O Sporting diz já adeus a esta época desportiva e começa, com praticamente um ano de antecedência, a preparar a nova época. Entretanto, o Presidente do Sporting promete o que cumpriu quando disse que o Paulo Bento ficaria 'forever' no coração de noventa por cento dos sportinguistas e, em pouco tempo, estaria ‘forever’ no coração de cem por cento dos sportinguistas. É certinho que daqui a uns dias já está tudo a arrepender-se de ter assobiado o Paulo Bento...

Fora isto, juro que não percebo. Juro. Claro que não quero acreditar que a direcção do Sporting desista, em Novembro, de qualquer hipótese de lutar por qualquer das competições onde ainda estamos presentes. Mas a alternativa é crer que a Direcção do Sporting realmente considera o Carvalhal uma opção válida para tirar o Sporting da situação desportiva em que se encontra, reabilitar a equipa de futebol e aproximar os adeptos da equipa de futebol.

É possível que a direcção do Sporting não saiba, mas eu digo: O Carvalhal foi despedido sucessivamente dos últimos clubes por onde passou; O Carvalhal no Marítimo ganhou 2 em 17 jogos; O Carvalhal acumula críticas de jogadores por onde tem passado. Isto sei eu, sabem os restantes sócios e adeptos do Sporting e sabe a equipa de futebol. Para além de questionar as suas competências enquanto treinador de uma equipa de futebol com a dimensão do Sporting, que margem lhe dá o seu curriculum, dentro da equipa e perante os sócios, para fazer algum trabalho de jeito? Que mensagem se está a transmitir, para dentro e para fora do clube, quando se contrata um treinador que não é, manifestamente, um vencedor?

A contratação do Carvalhal é a demonstração definitiva do descontrolo que existe actualmente dentro da Direcção do Sporting, da falta de lucidez, da falta de prioridade ao sucesso desportivo, da falta de ambição. A contratação de Carvalhal é de tal modo arriscada e injustificada, que representa um desrespeito para com os adeptos, para com a equipa e para com a história do clube. O Sporting não é o Nacional da Madeira.

Se durante estas semanas me senti envergonhado pelo modo como o Presidente do Sporting tem gerido a saída do Paulo Bento, hoje sinto-me derrotado.

Sunday, November 01, 2009

O lado positivo

Depois dos 2 golos em Braga, o Benfica tem a consolação de saber que já não vai sofrer mais golos até ao fim do campeonato: Já chegou aos 7...

Wednesday, October 21, 2009

Angulo e a boa gestão desportiva

Num almoço domingueiro, daqueles que se esticam até bem depois da hora do lanche, dizia-me um familiar, pessoa ilustre do mundo da bola, tido na família como ‘não lagarto’, o que já lhe valeu peúgas brancas e lenços de pano no Natal, que o Sporting era ‘injustamente incompreendido’, apesar da sua política ser a mais realista dos 3 grandes e que estava a pagar, publicamente, pela sua seriedade e responsabilidade.

Devo, em algum momento, ter rebolado os olhos. Mas agora, com a devida distância, não posso deixar de me surpreender pela mensagem dos dirigentes do Sporting ter conseguido passar: O actual momento da equipa é um mal necessário. Como se tudo estivesse previsto, como se nunca se tivesse dito que este ano, como em anos anteriores, teríamos que ser campeões desse por onde desse. Ou seja, a história dos orçamentos, as armas desiguais, a responsabilidade da gestão, a preocupação pelo futuro. E que tal se se fossem todos encher de merda?

Este post está na gaveta desde o jogo com o Belenenses, em reflexão. Passadas 2 semanas e o jogo para a taça, a minha opinião mantêm-se: O problema não é o modelo desportivo-financeiro que o Sporting decidiu adoptar. O problema é a falta de capacidade para aplicar o presente modelo desportivo-financeiro.

Em teoria, não me incomoda este modelo: Criar e desenvolver activos (jogadores) que possam gerar mais-valias desportivas e financeiras a partir da sua valorização. Este modelo considera 3 pressupostos fundamentais:
1. A utilização obrigatória de valores da formação na equipa sénior;
2. Complementaridade de jovens valores com activos experientes de forma a manter a competitividade da equipa;
3. A rentabilização financeira dos activos, em particular da formação;

Ora este modelo terá então que assentar, para o seu sucesso, no sucesso desportivo. Faço um desenho: Sem sucesso desportivo, os jogadores não se valorizam, não se valorizam valem menos, valendo menos não há dinheiro, não há dinheiro o passivo cresce.

Com a entrada do Paulo Bento consolidou-se definitivamente um dos pressupostos principais: A subida à primeira equipa de valores da formação, aqueles que serão prioritariamente principais activos futuros. Há que dar-lhe mérito: Poucos treinadores seriam capazes de assumir este pressuposto como se fosse o mais importante de toda a política do clube. E aqui está um dos erros do Sporting: a aposta em jovens jogadores deve ser tão importante quanto a capacidade de conseguir dar consistência, competitividade e qualidade à equipa e esta qualidade, é praticamente impossível de existir sem o segundo pressuposto.

Ora, para que este segundo pressuposto esteja garantido é necessário o investimento em jogadores que sejam capazes de dar maturidade e proporcionar rendimento desportivo à equipa. Sem discutir se o investimento pode/ deve ou não ser maior, a verdade é que, tendo em vista o sucesso do modelo desportivo, se não existe capital para realizar este investimento a obrigatoriedade de eficácia do investimento efectuado é ainda maior. E aqui está o segundo erro e talvez ainda mais importante que o primeiro: A falta de recursos obriga a um maior rigor na sua aplicação. No Sporting actual, não existe margem para falhas e cada aquisição tem que responder a uma identificação clara de necessidades da equipa e a uma eficácia absoluta no rendimento desportivo, a curto prazo.

Vamos lá então ver o rendimento individual dos investimentos do Sporting nos últimos 3 anos (Apesar de menor risco, considero o ‘empréstimo’ um investimento uma vez que supõem a utilização de recursos financeiros, seja para contratação, salários ou prémios):

Guarda- Redes
Stojkovic
Ricardo Baptista

Defesas
Pedro Silva
Marian Had
Gladstone
Leandro Grimi
Caneira

Médios
Vukcevic
Izmailov
Celsinho
Rochemback
Matias Fernandez
Ângulo

Avançados
Purovic
Derlei
Rodrigo Tiuí
Hélder Postiga
Caicedo

Analisando os ‘reforços’ de origem externa dos últimos 3 anos, pode-se considerar que apenas 3 de 18 (!) vieram trazer uma mais-valia à equipa: Derlei, Izmailov e Vukcevic (e neste caso, com rendimento variável).

Naturalmente que nem todos foram contratados para fazer a diferença e para desempenhar um papel determinante na equipa. Mas à excepção de Ricardo Baptista e Celsinho, penso que posso dizer que todos foram contratados com a intenção de se integrarem rapidamente na equipa e constituírem uma opção válida para o treinador. O resultado é o que se sabe (dando benefício da dúvida a Fernandez e Caicedo. Ao Ângulo não vale a pena): Tirando o caso do Stojkovic, que é um problema disciplinar, todos os outros se revelaram erros grosseiros de casting, com rendimento bastante inferior ao que deveriam ter tido na equipa. Incluindo Postiga, tendo em conta o seu custo. E ainda falta pagar 2,5 M €…

Apesar de inferior a FC Porto e Benfica, considerar a falta de investimento do Sporting como desculpa para a falta de resultados, é um engano. Acredito que com os poucos recursos que existem é possível fazer melhor. É preciso para isso mais eficácia nas escolhas, um conhecimento e influência no mercado que talvez seja insuficiente e, possivelmente, uma maior independência de empresários que injectam as suas ‘vedetas’ com o impacto desportivo que se conhece.

Mas os disparates não se resumem à aquisição de jogadores. Reportando-nos ao mesmo período de 3 anos, concluímos que a mesma inépcia existe para a colocação/ venda de jogadores: Stojkovic, Tiuí, Celsinho, Romagnoli, Carlos Martins e Varela são apenas exemplos, que não se podem explicar pela suposta desvalorização dos jogadores perante a falta de resultados desportivos, de uma inépcia constrangedora na relação com o mercado. E falta ainda explicar se o Braga pagou a totalidade da indemnização de Tiago Pinto.

No entanto, a rentabilização financeira dos activos, o terceiro pressuposto, é efectivamente uma consequência directa do sucesso desportivo, que simultaneamente, permite a geração de mais-valias financeiras directas. Ou seja, se um jogador permite valorizar a equipa, a equipa valoriza individualmente os jogadores.

O caso do FC Porto é paradigmático: Independentemente da capacidade negocial que possam ou não ter, seria possível ao Porto rentabilizar os seus jogadores da mesma forma sem vitórias?

Ganhar é hoje fundamental para a reabilitação desportiva, financeira e anímica do Sporting. Justificar a falta de resultados com questões orçamentais, em nome do rigor financeiro, é apenas desresponsabilização. Como se o rigor financeiro fosse incompatível com o sucesso desportivo. O Sporting, hoje, é um problema de competência e eficácia da gestão desportiva, com impactos sérios e imediatos a nível financeiro. E se o modelo não me parece estar, de forma alguma, esgotado, é necessário rever rapidamente os seus mecanismos de implementação. Não quero ver o Moutinho sair pelo preço que custou um Grimi, nem substituído por um Ângulo…

Wednesday, October 07, 2009

Olhò sintoma fresquinho!

Digamo-lo com frontalidade: o homem até nem começou mal. Ao deparar-me com o título “Ser sportinguista é freudiano”, e pesando a ambiguidade da afirmação, fui tentado a pensar “Salve! O Sousa Tavares deixou o uísque!”. Não sei se deixou ou não. Mas desconfio que não.

O texto de hoje prima pela coerência. Não do texto em si. A coerência de MST – ao longo dos anos nunca foi menos burro, menos rigoroso, menos parcial (também não se lhe pedia, evidentemente) ou menos parvo. A nível da coerência, não desaponta, portanto.

(Entretanto, acabei por não perceber o que é “ser freudiano”... a minha humilde interpretação é a seguinte: MST queria dizer que ser sportinguista é ter um distúrbio de personalidade passível de ser explicado por Freud. Mas adiante. Teria muito mais graça se “ser (...) freudiano” significasse, de facto, ser defensor de Freud! Imaginem as analogias possíveis se “defender o sportém” equivalesse a “ser discípulo do doutor Zigmund”. Meu deus, todo um novo universo surgiria perante mim... Mas afinal foi apenas uma expressão da banalidade intelectual de MST, ele próprio.)

Saltando a parte referente aos excursionistas, ao longo da qual Tavares esperneia convulsivamente, aqui e ali, contra o Benfica, chegamos ao segundo parágrafo. E é extraordinário – quem, como eu, lê o Tavares sabe que isto é verdadíssima! – observar a decadência, passe o eufemismo, literária e pensante do autor da miserável prosa. De linha para linha, juro, sinto o aroma do irish whiskey cada vez mais presente. Claro, isto tem maus resultados.

Assim, chega-se onde? Lá está, ao parágrafo do Benfica. E é aqui que a comédia ganha nova vida. MST fala do Benfica em Atenas. Ora, como MST leu o texto “Euforias”, não quis, como se compreende, ser incluído em qualquer dos grupos de doentes a que aludi. Ou seja, MST ficou vazio de argumentos. Ou seja, teve de recorrer à sua arma mais treinada e letal: a ignorância.

Miguel Sousa Tavares pegou no suposto argumento do ranking da UEFA para dar a bicada do costume. Diz ele assim “Se olharmos a relação entre os pontos ganhos na UEFA e as participações havidas, o Benfica é de longe o maior beneficiário... do esforço alheio”. Ele diz mais coisas, mas eu agora também tenho meia-dúzia para lhe dizer: Miguel Sousa Tavares, o doutor, para além de ignorante, é mentiroso e estúpido. E não o digo só porque estou em altas de Bushmills, entenda. Não. Eu consigo mesmo argumentar recorrendo a factos.

Vejamos, o Benfica é o 19.º classificado do ranking da UEFA, com 56.1924 pontos. O FC Porto, melhor ranking português, é 17.º (uma diferença estrondosa, como pode ver-se), com 62.1924. O Braga (43.º, 38.1924 pontos) e o Sporting (29.º, 48.1924) que também são mencionados no texto pelo soutor, estão, como pode constatar, bastante atrás do Benfica. Aproveito para acrescentar que se Portugal ocupa o 9.º lugar do ranking da UEFA (para o qual me borrifo – não, não me enche de orgulho ter lá 7 equipas para 4 serem despachadas à primeira pré-eliminatória) é, em boa parte, graças aos 34.1166 angariados pelo Benfica entre 2005 e 2007, bem como aos 17.3570 amealhados pelo folcuporto o ano passado.*

Agora que me expliquei num português substancialmente mais claro e fluente que o seu, recorrendo a dados e factos concretos em vez de manias ou delírios, gostaria de terminar o texto com rigor. É por isso que não lhe traço um diagnóstico imediatamente – não é fácil: junta-se paranóia com alcoolismo e torna-se complicado chegar a uma conclusão. Além disso, não sei se não haverá em si algo que Freud pudesse também explicar. Afinal de contas, há fixações que são claramente do foro psicanalítico.

(* estes dados podem ser confirmados aqui: http://www.zerozero.pt/ranking_uefa.php?por_pais=0&epoca=139&coef=0)

Friday, October 02, 2009

Euforias

Que delícia! É sem surpresa mas com grande regozijo que os benfiquistas assistem hoje àquilo a que os pobres usam chamar de “euforia esquizofrénica”. Não pretendo aqui corrigir os que o fazem, muito menos aconselhá-los a uma leitura atenta sobre a ciclotimia. A nomenclatura importa pouco nestas questões, o que interessa é mesmo a ideia.

E a ideia com que hoje fico é que, de facto, os adversários do Benfica estão mesmo com medo – e não se confunda medo com pânico. Eu disse “medo”. A quantidade de posts e comentários que se podem ler um pouco por toda a blogosfera acerca da primeira derrota significativa (a de Poltava foi um jogo-treino) do Benfica esta época ilustra bem o estado de espírito das duas unidades de internamento: “o Benfica não presta, eh eh, iupi!, estamos tão contentes”.

Que os maluquinhos excursionistas se comportem deste modo, eu até entendo. Está-lhes no sangue. E nas vozes que, lá dentro daquelas cabeças, lhes sussurram “odeia o Benfica, tu odeia o Benfica, filho, nada no mundo importa mais do que odiar o Benfica, odeia, odeia odeia odeia odeia odeia...”. Acresce que ontem a turminha conseguiu uma assombrosa exibição e uma retumbante vitória, o que, naturalmente, empola as emoções.

Já dos pacientes da outra instituição eu estranho um pouco uma reacção tão empolgada. Não é costume. Dantes, quando o Benfica perdia, limitavam-se a sorrir ou, em finais de época, a ignorar e a preparar a pré-época. Mas hoje é diferente. E, deixem-me que vos esclareça, não somos nós, benfiquistas, a acharmo-nos importantes. Não, foi um jogo normal, fraquito, perdêmo-lo. Acontece. Agora, que vocês nos dão uma importância desmedida (para não dizer “do caralho”), isso é inegável. Até um tropeção vira motivo de festejo.

Não vou aqui traçar diagnósticos, decerto tendes quem vos acompanhe. Mas aconselho prudência, já que, se do lado benfiquista a serotonina está nos níveis normais, já estes dois grupos parecem inspirar necessidade de administração de lítio. É que à hipomania segue-se, segundo os vossos sintomas, a distimia. Eu, no vosso lugar, não interrompia a terapia.

Wednesday, September 30, 2009

O momento

O que eu queria dizer é coisa simples e não pretendo tirar muito tempo a quem lê. Hoje em dia, há muito que ler por aí e, quando se fala de bola, andamos todos a dizer o mesmo. Mas quanto a isso de o Benfica estar “muitíssimo bem”, “muito forte” ou mesmo “demolidor”, peço aos adeptos adversários que nos concedam o direito à felicidade: depois de tanto ano de mediocridade, uma pessoa vê-se na disposição de gostar, de festejar, de desfrutar destes momentos felizes. Porque, embora possam parecê-lo, os benfiquistas não são todos extremamente parvos. Existe uma diferença entre uma fezada depois de 3 vitórias em que se diz “isto, este ano é que é” e a constatação daquilo que é óbvio, claro e, sobretudo, entusiasmante. Quando se vêem adversários invariavelmente encostados às cordas, obrigados a recorrer à falta (às vezes, à violência) para travar o Benfica e a contar os minutos para que o jogo acabe antes da goleada, é invetitável uma pessoa – benfiquista ou não – concluir que “aqueles gajos estão a jogar que se fartam”.

Mas não era isso que eu queria dizer, isso já foi dito e redito e até os adversários o reconhecem, uma vez que é factual, logo, indesmentível – não há duas maneiras de ler uma verdade quando a verdade está dita com clareza e sem figuras de estilo. O que me importa é que amanhã é um dia importante porque vai acontecer um jogo importante.

Não, não se trata de defrontar um tubarão europeu, longe disso. O AEK é da segunda liga europeia. Tal como, supostamente, o é o Benfica de hoje. E é aí que reside a importância deste jogo: o “momento benfiquista” será apenas isso e, na prática, a equipa é do mesmo nível do AEK?; ou o Benfica vai conseguir demonstrar frente aos gregos o que demonstra por cá? Conseguiremos transformar o AEK num Leixões? Ou o jogo será uma espécie de Guimarães – Nacional da Europa?

Amanhã será o primeiro “jogo-comprovativo” do ano – e um sinal mais claro daquilo que poderemos esperar verdadeiramente do Benfica para o resto da época. Portanto, se Jesus sair da Grécia com 3 pontos resultantes de uma vitória sofrida num jogo equilibrado, será sempre bom. Mas significará que, calma meus amigos, o trabalho só está começado. Avaliando por alto o que foi feito até agora, não espero menos do que o que fizemos contra o BATE Borisov. Não me desiludam.

Wednesday, September 02, 2009

De língua esticadinha


Na já famosa linha de capas absurdas, o lambe-cus favorito dos benfiquistas volta a brilhar com mais uma capa inspirada.

Confesso que, enquanto não-benfiquista, sinto-me um pouco intimidado pela força e simbolismo da fotografia. Mas depois recordo-me que o Exterminador acaba derretido numa fundição. Mas isso não importa nada…

Só não percebo é porque é que usaram a fotografia do Vítor Gomes, dos Gatos Negros…

Tuesday, September 01, 2009

Aquele golo sofrido...

O jogo de ontem, na Luz, deixou muitas coisas atravessadas. Nomeadamente, o golo do Vitória, na garganta do Jorge Jesus (e na minha, já agora); e os outros oito do Benfica, em cerca de 4 milhões de gargantas, engasgadas por esse país fora. Mas também deixou coisas escorreitas, direitinhas, claras.

Sou da despudorada opinião de que, na hora das (boas) vitórias, o momento é de festejar. E, tomando as palavras de Bolöni, a esta hora “je suis trés content”. Porém, vou refrear os festejos e o contentamento, não vão certos leitores apelidar esta vitória de “jogo de iniciados” ou algo igualmente deprimente e ressabiado (ou verdadeiro...). Vou antes partilhar – com quem estiver na disposição de ler – a minha análise a este Benfica, deste momento.

Há que começar por dizer que gosto disto. E estou a quebrar o meu auto-compromisso de tocar no assunto e de o dizer abertamente. Mas não há como contornar: o Benfica deste início de época dá-me gozo. Não sei se vai durar e já sei que a época é longa e que as contas se fazem no fim e bla bla bla bla o folcuporto é que é o máiór e a gente, no fundo, só anda aqui a animar metade da nação enquanto não chega o Natal e a passagem de ano. Já sei isso tudo, escusam de mexer um dedo para repetir essas ideias na caixa de comentários – aliás, a ideia nem foi inventada pelos portistas (toda a gente sabia, dantes, que o futebol eram onze para cada lado, com uma bola redonda, e, no fim, ganhava a Alemanha...).

Mas gosto disto. Gosto de ver o Benfica fazer 8 golos num jogo, para começar. Porque a moda das “goleadas” de 4 a 1 só começou porque o Benfica deixou de as fazer nos moldes dos anos 60 e 70, com 7, 8 e 9 golos – quando não mais. E é bom ver que as equipas ainda podem jogar à bola por prazer – lá está, como a gente jogava nos iniciados. E se ainda há tempo para jogar, então ainda dá tempo para se fazer mais um. E foi isso que eu vi ontem. Jogadores que jogam o que sabem e que o fazem porque gostam. Vocês fazem ideia de há quanto tempo eu não via isso no Benfica? Fazem ideia de há quantos anos eu vejo jogadores – alguns deles de bom nível – a jogar pelo Benfica como quem trabalha num escritório? Com tédio. Com má vontade. No estrito cumprimento das funções. Por mais eficazes que o fossem... não posso dizer que me enchessem as medidas. O meu sonho era jogar no Benfica, caramba! Respeitem o meu sonho.

Não posso dizer que “gosto do Jorge Jesus”. Para mim, Jesus sempre foi uma personagem caricata com métodos meio tresloucados que explicava os seus êxitos surpreendentes com expressões dignas de nota – e de sorrisos, no mínimo. E pronto, nunca tinha imaginado Jesus a treinar o Benfica. Snobeira minha, talvez. Mas ainda me custa aceitar a ideia de ter um treinador que fala pior português do que o Souness. Agora... aqui fica o meu braço, quem quiser que o torça: a equipa joga que é um regalo. Eles pressionam quando não têm a bola, eles lutam por ela, eles trocam-na, correm, passam, cruzam, brincam, rematam... Às vezes até pode dar-se o caso de não ganharem. Mas isso é outra conversa (as contas, vá lá, fazêmo-las só no fim). Mas dão gozo de ver.

Posso dizer que gosto de vários jogadores. Por exemplo, este Aimar, que fomos buscar nesta prá-época, pendurado nos calções do outro pequenino, é uma maravilha de jogador. É muito melhor do que o outro que a gente tinha comprado o ano passado. Para o ano, espero que a gente volte ao mercado para adquirir ainda outro Aimar – será candidato à bola de ouro da FIFA. E o tal pequenino? Que pezinhos, meus amigos. E que entrega e inteligência naquela frente de ataque. Mas quem mais me tem encantado tem sido aquele que comanda tudo, lá atrás: Xaví Garcia, esse mesmo. Uma parede que abre os braços e faz recuar 11 dos deles, para além de fazer avançar 7 dos nossos. É obra. Melhor que isto só aquele senhor da Bíblia, que abria os braços e, com o gesto, abria também as águas. Não se tratando de pólo aquático, a intervenção de Xaví parece-me adequadíssima. Para além deste espanhol, tão desvalorizado pelo RM Galaxy, tem-me encantado também aquele franzino, carote na aparência, franzino na figura, mas imponente no jogo jogado. Ramires: ele corta, corre, distribui, dobra os colegas, surge a rematar e, se o guarda-redes não segura, estou certo de que será o primeiro a fazer a recarga.

E não me alongo mais com isto. Tão trés content que je suis, já devo estar a meter nojinho ao adversário. E aos do sportém também. As minhas desculpas. Foi pena, realmente, aquele golo sofrido...

Friday, August 21, 2009

Qual assunto?

Tem sido um início de época difícil de suportar. Já a pré-época foi o que foi... Uma pessoa quer falar de bola mas a conversa corta-se logo com um determinado “ah, então e aquilo... viste o Bolt?”, seguido da piscadela de olho compincha. "Se o vi? Nem deu tempo...". Benfiquista que é benfiquista sabe perfeitamente que com isto dos enguiços não se brinca... O melhor é não tocar no assunto. Fingir que não se passa nada. Um gajo sorri, anda com confiança. Mas o assunto fica só aqui entre nós, como numa irmandade secreta. “Então, tudo bem?”, sorrisinho, mais uma piscadela de olho, “tudo em ordem” e falamos das legislativas ou lá o que é isso. Diz que é democracia. Pero no lo creo. Que tal as férias e outros assuntos que ocupam as páginas finais do Record. Se se dá o caso azarado de alguém lançar um tímido “O Porto não está mau...”, haverá logo outro alguém que atalhará com um imponente “epá, e aquela treta em Albufeira...? diz que o Figo é que costuma ir para lá...” e a seguir, faz-se um arrependido silêncio. Mencionar a palavra “Figo” pode fazer com que se toque no assunto. E a gente não quer isso. Benfiquista que é benfiquista está ralado é com a Naide, que é lagarta e são-tomense mas pronto, a gente gosta dela na mesma... Nem há outro assunto.

Wednesday, August 19, 2009

Uma terça-feira à noite, no café do Chaves

- ‘Ehp, o problema do Sporting é a branca’, atira o Chaves ainda a olhar para a televisão, com o cotovelo vincado no balcão e a face enfiada no punho até a bochecha lhe tapar o olho.


- ‘Ãh? A branca? Mas qual branca?’, respondo-lhe eu, com uma linha (a subtileza esmagadora das palavras) de esperança que o homem me surpreendesse e tivesse ali algum boato para nos entreter.


- ‘Qual branca? Qual branca? Aquela que lhes passa pela cabeça, porra!’, respondeu, retirando a cabeça da mão para a poder abrir num gesto que subentendia esclarecimento.


- ‘Epá, mas de quem? Na sei nada disso!’, inquiro, cada vez mais interessado.


- ‘Porra atão na vês?’, disse, já direito atrás do balcão e a indicar a televisão com a cabeça. ‘Do Polga, do Peido Silva, do Vukcevic, do Abel quando joga e de outros quando calha. Achas normal que na façam um joguinho sem lhes parar o cérebro pelo menos uma vez?’


- ‘AaaH’, a linha de esperança de ter ali um boato saboroso era realmente fininha. ‘Essa branca! Ah, pois, não, na é normal’.


- ‘E se fosse só neste jogo, ainda se desculpava, mas na há jogo que não enterrem a sério. Se fores a ver, nesta época, os golos que temos sofrido foram quase só por falhas individuais nossas, por andarmos a dormir ou por desmazelo. E durante o jogo há mais uma série delas que mesmo que na matem, irritam que se farta e metem-nos o coração nas mãos.’


- ‘Já no ano passado o Polga, volta e meia, enterrava. Este ano na parece melhorar. E o Abel sempre teve problemas na ligação entre os neurónios, dá curto-circuito, sabes. Sobre um gajo a quem chamo Peido Silva, não falo. Agora, o Vuk, acho que tem desculpa.’


- ‘Qual desculpa, homem, qual desculpa?’, responde o Chaves, agitando as mãos no ar. Fiquei com um bocadinho de medo, confesso. ‘Primeiro desvia as atenções da punhada que o italiano deu no levezinho e ainda ganha um amarelo, por parvo. Depois, arma-se em Ronaldo pra mostrar a peitaça à malta. Eu quero lá ver as maminhas do Vukcevic! Quero é que jogue á bola e acabe o jogo’.


- ‘Epá, mas é a maneira de o homem jogar. É emotivo, dedica-se àquilo e às vezes perde as estribeiras. Mas depois é por ter este carácter que luta tanto e que empurra a equipa para a frente. É o reverso da medalha…’


- ‘Ora porra’. E o pano encardido de limpar os copos já batia no balcão. ‘Para gajos burros a jogar à bola já na bastam os 2 laterais direitos? Atão o homem na é capaz de manter a fibra toda e pensar um bocadinho ao mesmo tempo? Já na digo pensar muito. Só o suficiente para na tirar a camisola quando já tem um amarelo. A partir de agora vou passar os jogos a olhar prás mãos deles para ver se têm todos os polegares oponíveis… Olha que já desconfio!’.


- ‘Olha, eu se fosse jogador da bola era capaz de fazer o mesmo que o Vuk. Batiam num colega meu, levavam logo na boca. A não ser que fosse o Peido Silva. Aí, juntava-me ao outro pra bater no Peido Silva. Se eu conseguisse marcar um golo importante num jogo em que estivéssemos a ser roubados, super pressionados e com toda a gente nas semanas anteriores a falar mal de nós, também era capaz de reagir de uma maneira emotiva e esquecer que já tinha amarelo’, respondi-lhe eu quando... TRASH!!


- ‘Pois, mas isso és tu que nem és capaz de agarrar numa merda duma mini! Já é a 3ª que deixas cair, porra. E esta vais limpá-la tu que já tou farto. Toma o pano, anda. E podes usar os pés, que já vi que os teus polegares são como os dos jogadores do Sporting...'