Bom, na verdade eu sou uma pessoa simples e humilde. E era só isto. Como o texto é capaz de sair um bocadinho sério, decidi começar com uma piada.
Quem me conhece, sabe que não gosto de fazer prognósticos antes dos jogos. E é por isso que, aproveitando o facto de vocês não me conhecerem, eu lanço prognósticos ao calhas que, a posteriori, altero para que batam certo com a realidade. É assim um estratagema simples mas extremamente eficaz. Dá-me credibilidade e as pessoas prestam atenção ao que eu escrevo e, especialmente, às minhas análises e exercícios de prestidigitação, para além de se revelar altamente lucrativo na minha banquinha do tarot do encontro anual dos bloggers de futebol. No entanto, na fase em que nos encontramos, e tendo em conta que o campeonato tem apenas 30 jornadas - e ainda que os candidatos à descida estão encontrados -, não me resta outra coisa se não reconhecer a vitória do folcuporto.
Há-de haver muito tixa fundamentalista aí a gritar "ah, mas o meu sportém..." mas o vosso sportém o quê? O que é que tem o vosso sportém? É aquela mediocridade que vai dar luta ao folcuporto? Não sejam tontos. E aqui fica o meu prognóstico para a turminha: 3.º lugar com os calos apertadinhos pelo sportém do Minho. A ver se não tenho razão. Ah, pois não...
A verdade é que, neste campeonato, as aparência iludiram desde o início. O arranque do campeonato foi atribulado (caso Mateus, Simão afinal não saiu, Rui Costa lesionou-se), a pré-época foi confusa (Adriaanse saiu, Jesualdo deixou o Boavista, Simão ainda estava de saída, Rui Costa chegou qual D. Sebastião) e a primeira jornada da Champions foi enganadora - folcuporto e Benfica logo condenados à desgraça; sportém destinado à glória. Uns quantos meses depois - e não vou fazer contas a quantos meses são, números é com o Manha -, verificamos que todas estas premissas levaram a juízos errados. Os "super-putos" do Sportém são promessas muito muito muito por cumprir - dúvidas aí do lado da turminha? Sim? Então, cá vai: o vosso melhor jogador, de há vários jogos para cá, é o pouco mais que inenarrável Tello. Fui claro? Bom. É certo que Moutinho é valor seguro e que Nani é craque. Já deu para percebê-lo. Mas isso chega? Parece-me que não.
Verificamos também que o Benfica não é uma equipa assim tão desnorteada quanto se apregoava. Pelo contrário: em termos de jogo, ainda só vi três coisas más - vá lá, muito más - esta época: a primeira parte no Dragão, o jogo de Braga e o jogo do Bessa De resto, a qualidade de jogo tem variado entre o aceitável, o bom e, em certos casos, o muito bom. E é aqui que está a grande diferença entre o Benfica e o folcuporto: as más exibições do Benfica têm correspondido à perda de pontos. Em certos casos, exibições menos más acabam por dar origem à perda de pontos - em Paços de Ferreira e na Figueira da Foz, por exemplo. Já o folcuporto, mesmo quando é sofrível - o que não tem sido assim tão raro... -, tem sabido ser eficiente. Isso traduz-se em apenas duas perdas de pontos, ainda por cima em sítios onde é perfeitamente normal que se percam pontos: em Alvalade e em Braga. Isto é notável. Há cérebro ali naquele Porto. E aquela pontinha de sorte que, normalmente, faz nascer campeões.
Eu antes de começar o texto queria pôr isto tudo em separado, para explicar equipa por equipa e não sei quê, para ser mais fácil. Mas agora que já embrulhei isto tudo, não vale a pena estar a discriminar, não é? Ora, siga jogo.
Vou falar agora de como o folcuporto conseguiu esta estabilidade depois daquele início duvidoso. Esta é muito fácil e qualquer Luís Campos saberá identificar. Bom, Luís Campos talvez seja exagero. Mas um Carlos Carvalhal quase de certeza que consegue. Falo do regresso de Lucho Gonzalez à sua posição ideal: a vertical. Ok, era piada. Posição no terreno, pronto - para além de vertical, claro -, comandando a organização e distribuição do jogo atacante e auxiliando preciosamente nas saídas rápidas para o ataque - e muitas vezes na recuperação de bola. Estamos perante um jogador muito acima da média, como se diz nos comentários futebolísticos. Na minha linguagem, diria que é um jogador raro, talvez único. A simplicidade do seu jogo, juntamente com a sua facilidade de leitura, bom ritmo, colocação de remate e técnica fina, faz de Lucho - na minha imodesta opinião - o melhor jogador do campeonato português. E é aqui que está o maior segredo da coisa: no início da época, Lucho foi obrigado a recuar no terreno e a abdicar de funções fundamentais na condução do ataque. E porquê? Lembram-se? Pois, por causa de outro pseudo-génio, um puto chamado Anderson - e agora faço um capítulo Anderson: é bom, sim senhoras; pode vir a ser dos melhores, pois pode; mas ainda não é; fez o quê? Um golo e duas assistências? 2 golos e 4 assistências? Uau, que fora-de-série. Mais: um rapazote com 18 anos, aquela frescura física e aquela robustez lesionou-se com gravidade (por reincidência?) num lance igual dezenas de outros que se vêem todas as jornadas. Será preocupante? Ok, não especulo mais sobre a fragilidade deste novo Maradona. Mas deixo-vos um nome: Cissé. Pensem no assunto. E sobre o Anderson, estamos conversados. Voltando ao Lucho: desde o jogo com o Benfica, iniciou não uma subida de forma - ao contrário do que se diz - mas um aumento de produção, o que é diferente. Tem o espaço e a responsabilidade que lhe pertencem por direito dentro da equipa. E, com ele ao comando, a equipa funciona. Quando a equipa não funciona, o comandante trata do assunto com os próprios pés - como se viu ainda esta segunda-feira.
Neste folcuporto, a Lucho juntam-se depois outros factores fatais: Helton, na baliza; Postiga em boa forma; Quaresma a produzir muito bem e uma defesa cada vez mais sólida, com Pepe a confirmar - agora, sim! - este ano o que já tanto se falara no ano anterior, em que foi claramente sobrevalorizado. Posto isto, estamos perante uma equipa de respeito. Não tenho dúvidas de que terá facilidade em manter-se não só no primeiro lugar como com um avanço considerável sobre os adversários supostamente directos.
Sobre os outros, nem me alongarei muito. Do sportém, já sabem o que penso. Uma grande expectativa - habitual, diga-se -, mas muito pouco que se veja, na prática. Não acredito que o facto de estar fora da Europa contribua para um campeonato melhor ou mais consistente. Talvez funcione até ao contrário: craques mal desmamados fora da montra europeia vão perder a garra extra que, no início, os fazia lutar por um lugar na equipa. Mas isto é só a minha sábia opinião.
O Benfica cometeu os erros de que já falei. Não soube ser eficiente quando importava. Perdeu um confronto directo, no Dragão, de forma incompreensível, após uma boa recuperação - difícil, diga-se, perante aquele início de jogo do Porto. Ganhou pontos fora onde não era obrigado - em Alvalade e Leiria - de forma categórica. Perdeu pontos de forma vergonhosa onde se exigia que conquistasse, pelo menos, 2 ou 3 (no conjunto) - Bessa e Braga. De Naval e Paços de Ferreira já falei - houve alguma ingenuidade ou, pior, alguma displicência. Perante um folcuporto regular e eficaz, estas coisas acabam por dar frutos. Como se pode ver. É uma pena porque, na minha erudita maneira de interpretar o jogo, o Benfica tem uma boa equipa - talvez a melhor dos últimos 10 ou mesmo 15 anos. Está bem servido a meio-campo; não está mal servido no ataque (embora lhe faltem segundas opções); a defesa está razoável (e é por isso que não se percebe esta quantidade de números 3...) e, para a baliza, há, pelo menos, estabilidade e confiança. De notar ainda a grande época que Simão e Ricardo Rocha estão a fazer, juntamente com a novidade Katsouranis e com os habituais Luisão e Léo. É uma pena que os rasgos de Miccoli e Nelson sejam tão irregulares... Para terminar, apenas uma nota: tenho muita pena de ver Alcides partir sem que se tenha afirmado. Talvez daqui a uns anos percebam esta minha perspectiva. Sábia, mas muito humilde.